Foi uma das decisões mais emocionantes e apertadas do circuito mundial de surfe. Disputando o troféu da temporada, Italo Ferreira e Gabriel Medina venceram ontem suas baterias no Pipe Master até se encontrarem na decisão da etapa final do ano, em Pipeline, no Havaí ? o palco mais icônico do esporte. Quem vencesse levaria não só o campeonato, mas o título mundial. Em um duelo de tubos de lado a lado, Italo levou a melhor para se tornar campeão mundial pela primeira vez.

Ao sair da água, o potiguar de 25 anos, emocionado e chorando muito, quase não conseguia falar. Ele dedicou a conquista a um tio e uma avó falecidos recentemente.

? Este é meu sonho. Dediquei toda minha vida para isso. Não consigo acreditar. Gabriel é um grande competidor, está de parabéns, mas esse é o meu momento.

Os dois serão os representantes brasileiros nos Jogos de Tóquio-2020, quando o surfe fará sua estreia olímpica. Entre as mulheres, o Brasil classificou Tatiana Weston-Webb e Silvana Lima.

Italo é o terceiro brasileiro a levar o título mundial. Gabriel venceu em 2014 e 2018, e Adriano de Souza foi o melhor em 2015.

No caminho para o título, Italo venceu três etapas: a de abertura, na Austrália, a penúltima, em Portugal, e em Pipeline.

Na decisão, Italo não quis perder tempo e logo achou um bom tubo para a direita, recebendo nota 7,83. Medina reagiu quase na mesma moeda: 7,77. O bicampeão, porém, não achou mais ondas boas, e viu o potiguar de 25 anos vencer a bateria por 15,56 a 12,94 pontos.

O dia decisivo em Pipeline começou com o americano Kolohe Andino ainda na briga pelo troféu, esperança que se desfez logo no primeiro duelo das oitavas, quando Italo passou pelo paranaense Peterson Crisanto, acabando com as chances matemáticas de Andino.

Nas quartas, Italo manteve seu bom momento e derrotou outro brasileiro, Yago Dora: 15,66 a 13,50 pontos. Na semifinal, ele não deu chances ao americano Kelly Slater, 11 vezes campeão mundial, vencendo por 14,77 a 2,57.

Gabriel Medina derrotou Caio Ibelli nas oitavas em uma bateria com polêmica e emoção no fim. O bicampeão mundial vencia, mas Caio tinha a prioridade e precisava uma nota 5,67  a poucos segundos do fim. Caio remou em uma onda e Medina entrou também, sendo penalizado com uma interferência, perdendo uma de suas notas. Como Caio tinha pontuação muito baixa, mesmo assim Medina venceu – uma manobra estratégica, que eliminou a possibilidade de Caio pontuar na reta final do confronto.

– Joguei o jogo. Eu sabia que mesmo com a interferência teria a maior nota da bateria. Tive que jogar o jogo. Se está na regra, às vezes você tem q fazer isso. Eu sabia o que estava fazendo – explicou Medina.

O Brasil pode até ter demorado a entrar na onda do surfe profissional, mas desde que os principais surfistas brasileiros chegaram nos torneios mundiais da modalidade, o país se consolidou como berço de novos talentos na água. Conheça os principais expoentes da 'Brazilian Storm'.

O Brasil pode até ter demorado a entrar na onda do surfe profissional, mas desde que os principais surfistas brasileiros chegaram nos torneios mundiais da modalidade, o país se consolidou como berço de novos talentos na água. Conheça os principais expoentes da ‘Brazilian Storm’.

 

Derrotado, Caio não ficou feliz com o que aconteceu.

– Consegui ouvir o padrasto dele (Charles Medina, que é tecnico de Gabriel), da areia, gritando para ele entrar na minha onda. Seria minha melhor nota. Acho que nunca vi isso. É a mentalidade de um campeão. Mostra que tipo de competidor ele é. Joga sujo se precisa, faz de tudo para vencer – desabafou o paulista.

– Ele pediu desculpas dentro da água. Vou treinar e estudar melhor, e vou vencê-lo na próxima vez. Isso só me faz ter mais vontade de vencer.

O livro de regras da World Surf League prevê que uma bateria pode ser disputada novamente em caso de “séria interferência antidesportiva”, mas a WSL confirmou que a vitória de Gabriel Medina foi oficializada.

 

O duelo entre Medina e Caio já veio com um histórico da etapa anterior, em Portugal. Lá, também nas oitavas, Medina também entrou em uma onda do adversário, mas acreditando que tinha a prioridade. Os juízes, porém, haviam dado a prioridade para Caio, que tinha o direito de ir na onda. Medina foi penalizado e perdeu aquela bateria.

Nas quartas de final, Medina não precisou de nenhum artifício estratégico. Ele derrotou o havaiano John John Florence, bicampeão mundial e um dos grandes nomes em Pipeline, com autoridade, conseguindo notas 9,23 e 8,40 – somou 17,63 a 12,33 pontos. Na semifinal, Medina superou o americano Griffin Colapinto por 13,00 a 7,10.

FINAL:

Italo Ferreira (BRA) 15,56 x 12,94 Gabriel Medina (BRA)

BATERIAS DAS SEMIFINAIS:

Italo Ferreira (BRA) 14,77 x 2,57 Kelly Slater (EUA)
Gabriel Medina (BRA) 13,00 x 7,10 Griffin Colapinto (EUA)

BATERIAS DAS QUARTAS DE FINAL:

1 – Italo Ferreira (BRA) 15,66 x 13,50 Yago Dora (BRA)
2 – Jack Freestone (AUS) 9,26 x 12,94 Kelly Slater (EUA)
3 – Gabriel Medina (BRA) 17,63 x 12,33 John John Florence (HAV)
4 – Griffin Colapinto (EUA) 9,84 x 8,77 Michel Bourez (FRA)

BATERIAS DAS OITAVAS DE FINAL:

1 – Italo Ferreira (BRA) 11,84 x 4,23 Peterson Crisanto (BRA)
2 – Yago Dora (BRA) 7,50 x 6,27 Julian Wilson (AUS)
3 – Ricardo Christie (NZL) 4,23 x 5,00 Jack Freestone (AUS)
4 – Seth Moniz (HAV) 6,20 x 7,33 Kelly Slater (EUA)
5 – Gabriel Medina (BRA) 4,23 x 1,13 Caio Ibelli (BRA)
6 – John John Florence (HAV) 5,66 x 3,90 Soli Bailey (AUS)
7 – Jesse Mendes (BRA) 8,50 x 10,67 Griffin Colapinto (EUA)
8 – Michel Bourez (FRA) 13,43 x 9,50 Kolohe Andino (EUA)