Foi divertido, imprevisível até. Na gíria do futebol usada quando se teme uma grande disparidade, “deu jogo?. O Monterrey saiu com a cruel sensação de que poderia ter conseguido algo mais e tomou providências que podem servir ao Flamengo. Mas projetar a final do Mundial de Clubes no sábado a partir da semifinal duramente vencida pelo Liverpool por 2 a 1, com o gol de Roberto Firmino nos acréscimos, é um equívoco.
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Até lá, ficará a expectativa se todos os poupados vão jogar e, em especial, se o zagueiro Van Dijk, que passou mal ontem, estará em campo. Entre poupados e lesionados, jogaram só quatro titulares da final da Liga dos Campeões, em junho. O Liverpool se desfigurou não só em nomes, mas em estilo.
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Klopp teve que improvisar o meia Henderson na zaga e criou-se um efeito dominó. Lallana, meia ofensivo, jogou à frente da defesa na falta de outro “camisa 5?. Com o lateral Arnold poupado, Milner foi para a lateral e o Liverpool teve sua formação de meio-campo menos dinâmica. Na frente, Mané e Firmino foram entrar com 67 e 84 minutos de jogo, respectivamente. Arnold entrou aos 73.
Sem a habitual pressão, faltava o traço mais evidente do DNA do time de Klopp. O mental também pesava num time em marcha mais lenta, nada do Liverpool frenético. E que sofria em sua linha defensiva remendada.
Nisso, têm méritos os mexicanos, que alternavam entre uma defesa de cinco homens ou de quatro. Podiam defender num 4-4-2 e atacar com três atrás, fazendo Gallardo virar atacante pela esquerda e abrindo o veloz Pabón na direita. Improvisado, Milner se confundia na marcação. O outro lateral, Robertson, jogava mal. E Henderson sofria, desconfortável como zagueiro. O Monterrey criou espaços que, em geral, o Liverpool não dá.
Armas rubro-negras
Ocorre que, contra o Flamengo, é provável que volte o trio ofensivo e Van Dijk pode jogar. Assim, Henderson voltaria ao meio e o Liverpool recuperaria força e pressão. Mais ainda se Wijnaldum, outro lesionado, voltar. Será outro jogo, outra ocasião, outra concentração. E com Trent Alexander-Arnold, que entrou para dar mais um de seus passes preciosos, um criador de jogadas na pele de um lateral.
Mas então não se tira nada do esforço do Monterrey? Claro que sim. O Flamengo não usa esta linha de cinco homens na defesa, mas há outros pontos úteis. Os mexicanos jamais permitiram um jogo de idas e vindas. Quando não tinham a bola, obrigavam o Liverpool a atacar sua defesa já posicionada atrás, e não correndo para se recompor. Nunca deixavam muito espaço às costas para o Liverpool acelerar, faceta em que o time inglês é inigualável. E, com a bola, trocavam passes curtos e rápidos até esticarem nas costas da defesa inglesa. E sempre terminavam os ataques, sem perder a bola a meio caminho do gol: controle e velocidade. Tudo isso o Flamengo pode reproduzir.
? Eu falei que era possível, vocês podem também ? disse Mohamed a um jornalista brasileiro. ? Tem que fazer o Liverpool jogar sempre de costas no ataque.
O que ele quis dizer com isso? Com sua defesa montada, o Monterrey obrigava os atacantes do Liverpool a receberem de costas, tirando velocidade do time, tirando o ritmo de que o Liverpool tanto gosta. O que não é garantia. Este time vem acrescentando armas, como a infiltração dos meias na área. E foi de costas que Salah deu dois lindos passes, um deles para Keita abrir o placar.
Será útil ao Flamengo a velocidade de Bruno Henrique, como a de Pabón; a coragem de volantes e zagueiros, quando pressionados, para arriscarem passes buscando Arrascaeta e Éverton Ribeiro no espaço por trás da blitz do Liverpool. E, daí, conectar ataques.
Se surgir um Liverpool com uma escalação mais composta e no auge de sua intensidade, o desafio será do tamanho do mundo, do tamanho de um Mundial. Não dá para usar o jogo de ontem como sintoma de que não será tão difícil quanto se apregoa. Mas é possível.
Fonte: O Globo