A sensação de que o Flamengo não jogava o que podia e era dominado pelo Al-Hilal parecia um “déjà vu”. Assim como na final da Libertadores, contra o River Plate, a equipe de Jorge Jesus fez um primeiro tempo ruim, saiu atrás com um gol muito semelhante ao que levou dos argentinos, pelo lado esquerdo, mas se recuperou ainda mais rápido do que no Peru. Com a vitória de 3 a 1, carimbou a vaga na final do Mundial de Clubes com um segundo tempo digno de sua temporada.

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A atuação teve ingredientes parecidos e outros diferentes em relação à virada em Lima. Se não teve gol de Gabigol, o herói dessa vez foi Bruno Henrique, que marcou o gol da virada e finalizou para o terceiro, que acabou dado ao zagueiro Al Mulayhi, contra. O empate viera pelos pés de Arrascaeta após jogada iniciada por Rafinha, que tocou para Gabigol, que achou o uruguaio. Se na Libertadores o meia desarmou Lucas Prato e iniciou a reação rubro-negra, desta vez recebeu passe de Bruno Henrique e balançou a rede.

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Até o meia Diego, que entrou e mudou a final da Libertadores, se tornou personagem novamente, com participação no gol da virada. Quando a partida estava 1 a 1, o camisa 10 substituiu Gerson aos 29 minutos, momento em que o Flamengo já pressionava o adversário e dominava as ações. Com as peças de ataque mais soltas no segundo tempo, a virada veio com naturalidade, diferentemente do drama nos minutos finais diante do River Plate.

Mas o início de jogo foi complicado. Postado na defesa, o Al-Hilal esperou o Flamengo, neutralizou as jogadas de ataque, e saiu no contragolpe com perigo. A principal arma foi investir nas brechas entre o zagueiro Pablo Marí e o lateral Filipe Luis. Sem a cobertura de Gerson ou Arão, o lado esquerdo ficou frágil, e por ali saiu a jogada do gol de Salem. De novo em cruzamento rasteiro, assim como fez o River Plate.

Sair atrás no placar, porém, já não era novidade para um Flamengo, que criou casca para situações que pedem maturidade em grandes decisões. Ao se ver em dificuldade, a equipe de Jorge Jesus mantém seu estilo de jogo e não se desespera. No fim do primeiro tempo, o controle do jogo já havia sido recuperado, resultando em mais de 60% de posse de bola, mesmo que no primeiro tempo tenha ficado próxima de levar mais um gol. Além do domínio inicial e do maior perigo, o Al-Hilal parou em Diego Alves, que evitou um drama maior no começo do jogo.

Jorge Jesus, porém, reconheceu que a equipe não estava totalmente focada. No intervalo, disse ele, foi preciso acalmar alguns jogadores. De fato, muitas vezes na primeira etapa a equipe do Flamengo abordou o árbitro Ismail Elfat de forma abusiva, o que poderia gerar cartões. No segundo tempo, houve menos tentativa de polemizar as decisões.

Os bons valores do campeão da Ásia, Giovinco, Gomis e o brasileiro Carlos Eduardo incomodaram bastante tanto a linha de defesa quanto os dois volantes. Arão e Gerson foram abaixo da crítica no primeiro tempo, e contribuíram para um jogo complicado. Os homens de frente do Flamengo também não resolviam, diante de uma defesa bem postada. Mesmo que tenham reagido coletivamente no fim, nomes como Gabigol e Éverton Ribeiro tiveram noite apagada.

A vantagem de uma equipe que reúne tantos talentos é essa. Se um ou dois não vão bem, outros podem resolver. Foi o que aconteceu. Como conjunto, o Flamengo voltou para o segundo tempo com uma postura mais agressiva. Sobrou fisicamente, como projetara, e tecnicamente viu Bruno Henrique e Arrascaeta serem novamente decisivos. Somado a eles, Rafinha entrou em cena e cumpriu seu papel ofensivo com louvor, com belo cruzamento para Bruno Henrique virar o jogo. Àquela altura, já parecia uma questão de tempo. Que venha o Liverpool.