esporte »

Flamengo x Al-Hilal: Ricos da periferia confrontam no Mundial dois jeitos de investir



 

DOHA ? Não é novidade que o futebol vive uma era de crescente disparidade. Na ordem econômica global do jogo, a Europa é o centro, concentrando riquezas e importando talentos do mundo inteiro. O que explica o Liverpool parecer quase uma assombração para seus desafiantes no Qatar. Mas a semifinal do Mundial de Clubes entre Flamengo e Al-Hilal é um sinal de que, também na periferia, o poderio financeiro dá as cartas.

Entrevista:Willian Arão: ‘Quero mostrar para os meus filhos o que o pai conseguiu’

Tanto rubro-negros quanto sauditas são vistos por rivais locais e regionais como predadores em seus mercados, forças difíceis de equiparar quando o assunto é o poder de compra. É curioso como, no futebol, o poderio financeiro é assunto rejeitado pelos profissionais de campo, como se este reduzisse a percepção de suas qualidades. Ao contrário, é apontado como determinante pela parte que se vê em desvantagem.

Leia também:Ídolo e amuleto, Leandro revive a emoção de um Mundial

Encerrado o jogo contra o Espérance, o técnico do time tunisiano destacou a capacidade econômica do rival.

? Sempre após os jogos se fala em dinheiro. Mas aqui há trabalho, estratégia, motivação. Nem tudo o que meu time fez em campo é movido a dinheiro ? disse Razvan Lucescu, o treinador romeno do Al-Hilal.

201981:O GLOBO lança e-book sobre a nova identidade rubro-negra

O caso é que se trata de dois modelos de fortalecimento econômico muito diferentes. Do lado brasileiro, uma geração de receita mais orgânica, fruto de um projeto de reestruturação na gestão e atração de investidores através de fontes inerentes ao futebol: patrocínios, cotas de TV, associação, bilheteria e acordos comerciais.

Leia mais:Crise no Oriente Médio ‘ajuda’ Flamengo a ser maioria em Doha

Do lado saudita, um modelo que pode estar com os dias contados. Assim como seus rivais na liga profissional do país, o Al-Hilal é propriedade do governo saudita. O país lançou, recentemente, um plano chamado “Visão 2030”, que tenta diversificar atividiades econômicas para reduzir a dependência do petróleo. O projeto inclui privatizações, entre elas as dos clubes. Mas isto mexe com uma questão sensível: os patronos.

As receitas com TV e patrocínio têm crescido, mas é a relação com patronos bilionários e suas ligações com empresários do país e dos Emirados Árabes que permitem ações mais ousadas de mercado. O Al-Hilal tem como principal colaborador o príncipe saudita Alwaleed Bin Talal, o bilionário dono da Kingdom, uma holding de investimentos cuja gama de participações inclui hotéis, resorts, comércio eletrônico, hospitais e até o complexo de entretenimento da Eurodisney, nos arredores de Paris.

É comum o site oficial do clube anunciar contratações e informar que a chegada de jogadores foi patrocinada por Al Talal. São frequentes os anúncios de doações suas ao clube e os presentes a jogadores, de relógios a dinheiro. A Kingdom, até há pouco tempo, ocupava também o espaço principal na camisa do Al-HIlal, mas cedeu lugar à Emaar, gigante do ramo imobiliário de propriedade do magnata Mohamed Alabbar, um dos mais poderosos investidores dos Emirados Árabes.

? Há um investimento forte no Al-Hilal também, mas o Flamengo está um pouco acima ? diz o volante Cuéllar, ex-Flamengo e hoje no clube saudita.

De fato, o Al Hilal gastou,  nas duas últimas temporadas, o equivalente a R$ 160 milhões em jogadores como o peruano Carrillo, o colombiano Cuéllar, o francês Gomis e o italiano Giovinco. Só em 2019, o Flamengo ultrapassou a casa dos R$ 200 milhões em contratações para montar o time que está no Qatar. Às vésperas do fim do ano, prevê a maior arrecadação de sua história, com receitas beirando a casa de R$ 1 bilhão.

Na outra semifinal, Liverpool à parte, o sparring também é um “rico da periferia”. O Monterrey foi comprado pela Femsa, maior distribuidora de Coca-Cola do mundo, com atividades em toda a América Latina. Nas duas últimas temporadas, foram cerca de R$ 250 milhões em contratações.

Claro que, embora altas para o padrão não europeu, as cifras em questão ainda não se comparam às do Liverpool, favorito no Mundial do Qatar. De acordo com dados da consultoria Deloitte, apenas na última temporada o Liverpool teve receitas de R$ 2,4 bilhões, com previsão de crescimento para o período que vai até o meio de 2020.

 

Fonte: O Globo

 


Comente