Willian Arão não esquece daquele 23 de junho de 2012. Das tribunas do Pacaembu, viu o Corinthians vencer o Boca Juniors e colocou o título da Libertadores no currículo. Mas faltava algo. Ele queria viver aquele momento no campo.
O desejo se tornou realidade em 23 de novembro de 2019, quando foi bicampeão da América com o Flamengo. Depois de simbolizar a metamorfose do time pelas mãos de Jorge Jesus, o volante busca ser fundamental também no Mundial de Clubes, onde estreia na próxima terça.
Houve algum fator fora de campo para a sua mudança?
A chegada de qualquer filho muda a pessoa, de dois então… Logo depois que o Natan (4 meses, irmão de Isabel, 2 anos) nasceu, eu fiz o gol contra o Grêmio. O Mister até brincou. Falou que sabia que eu ia marcar, porque estava muito feliz pelo nascimento dele. É uma felicidade imensa poder ser pai. Eles nasceram pé-quente. Com quase dois anos, já têm Libertadores, Brasileiro, Carioca… Guardo camisa, chuteira e caneleira. Quero mostrar para os meus filhos o que o pai conseguiu e ser uma inspiração. Eles vão ver as notícias, vão ver que as pessoas não acreditavam tanto em mim, me criticavam. Mas que pude jogar e ser campeão com o Flamengo. Tento não pensar tanto no futuro, mas às vezes não tem como não imaginar.
LEIA MAIS:Arrascaeta: ‘Sou assim mesmo. Tem jogadores que são mais intensos do que eu?
Como divide o tempo livre entre futebol e família?
Meu principal hobby é jogar Counter-Strike (game de tiro). Mas meu tempo livre é dos meus dois filhos. Sempre que tem tempo livre, estou ali com eles. Sou o cara mais autocrítico possível. Quero participar. Tenho que aproveitar o tempo com a Amanda (mulher), porque a gente viaja muito.
E esse desejo de ganhar a Libertadores em campo?
Naquela ocasião (com o Corinthians em 2012), não estava atuando e não pude ajudar tanto. Foi mais uma coisa minha mesmo. Queria estar jogando. Graças a Deus pude conquistar isso. Não foi uma promessa, não sou de ficar fazendo promessa, mas foi uma coisa interna, um desejo, um sonho de um dia poder estar ajudando e conquistar a Libertadores.
Vale o mesmo para o Mundial?
Vale. Eu estive lá também e não atuei. Desta vez espero que seja diferente. Espero estar jogando.
O que mudou daquele Arão para esse?
São dois “Arãos? (risos) diferentes. Lá, eu era muito jovem. Toda aquela experiência serve para hoje. Tenho uma exposição maior por ter o nome consolidado. Mas isso não tira os méritos daquele titulo.
Não faltaram brincadeiras na volta por cima no Flamengo…
O patinho feio… No início, comentaram bastante. Depois de algumas semanas tinham esquecido. Mas o “tá bem, Arão? , “tá mal, Arão?, viralizou de uma forma… Fico feliz de poder mudar isso. Era um posicionamento errado meu, uma cobrança do Mister que as pessoas levam para a maldade. Mas, quando você dá a volta por cima, é prazeroso demais.
LEIA MAIS:Flamengo se aproxima de acerto com atacante Pedro Rocha, ex-Cruzeiro
O Jesus te aconselhou bastante nesse período, não?
Sim, na questão de um melhor posicionamento em campo. Quando chegou, ele me falou que eu tocava muito de primeira e, às vezes, falhava por isso. Ele me pedia para dar mais de um toque na bola, para ganhar confiança e não errar passes.
Quando sentiu que o Flamengo ia ganhar do River?
No segundo tempo, o Gabigol fez uma jogada e perdeu o gol. E depois o Éverton Ribeiro, no rebote, perdeu também. Ali, eu senti muita confiança. Antes, não estávamos conseguindo furar a defesa deles. Mas ali foi a primeira chance clara. E eu pensei: “Achamos um caminho?. Seria questão de tempo para entrar de cara com o goleiro. Aí teve a bicicleta do Arrascaeta, o chute do Gabriel e depois os dois gols. Mas aquele lance foi chave.
LEIA MAIS:Braz detalha como Flamengo atuará no mercado e dá recado: ‘Quem quer ficar, a gente não perde’
E aquela volta ao Rio?
Você falou sobre isso e eu arrepiei só de lembrar. A gente sabia que o Rio de Janeiro estava tomado, mas o momento emblemático foi quando estávamos no trio, indo reto. Antes estava legal e tal, maior festa. Mas na avenida (Presidente Vargas) a gente vira para a direita e vê aquele mar de gente.
O primeiro sentimento foi “Cara, a gente não vai passar aqui?. Foi um sentimento de felicidade, você olha no rosto das pessoas e vê felicidade. Eu me sinto honrado. Tenho que agradecer a Deus por estar vivendo esse momento. Sou grato a Deus e aos torcedores do Flamengo. Tinha gente subindo no poste, no semáforo, em árvore… Ver a felicidade nas pessoas é muito prazeroso.
Chegou a chocar?
Você fica um pouco chocado, não espera que aquilo vá acontecer como foi. Nós demoramos 40 minutos do CT à avenida (no embarque para Lima). Gente passando por cima do carro para acompanhar o ônibus. Aquelas pessoas tentando de alguma forma passar um gás a mais, uma fé a mais, te instigar um pouco. É uma responsabilidade grande saber que milhões de pessoas estão com você.
O título fez todo mundo no time pintar o cabelo…
Isso foi uma brincadeira entre nós. Se a gente fosse campeão, todo mundo ia pintar o cabelo. Foi um falando para o outro. Eu disse: “Tá bom, eu pinto?. E todo mundo disse: “Se até o Arão vai pintar, eu vou pintar”.
Você tem bastante cuidado com o cabelo, não?
Filipe Luis e eu somos os mais vaidosos com cabelo. Dá trabalho. Tem que hidratar, usar creme… Mas eu gosto. Ficou uma marca natural, sem forçar. Tinha o sonho de ter um cabelo grande, mas não imaginava que seria desse jeito. Pensei que meu cabelo ia crescer de outra forma. Só depois vi que era cacheado.
O que representa estar no Mundial agora?
É muito prazeroso, porque você sabe que está entre os melhores times de cada continente. E você é um dos melhores. É uma sensação prazerosa, uma coisa que não consigo descrever. Falo para os meninos mais jovens para aproveitarem tudo. Daqui a pouco vai passar e temos que ter esse gosto.
Fonte: O Globo