Jesus tinha razão. Ao menos, quanto à certeza absoluta de que seria o Al-Hilal, seu antigo clube, o adversário do Flamengo na semifinal do Mundial. Já quanto à impressão de que os sauditas não devem nada ao rubro-negro em potencial, este é um diagnóstico que a vitória de ontem sobre os tunisianos do Espérance não permitiu concluir. Persiste a sensação de que o Flamengo tem melhor time e, especialmente, mais soluções individuais. Mas não é possível negligenciar o fato de que os árabes mostraram virtudes que podem incomodar.
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Talvez a mais clara conclusão do jogo de ontem é que o Al-Hilal parece mesmo se sentir mais confortável com a bola. Aí se abrem duas possibilidades. Se o Flamengo controlar a posse, pode tirar o rival de sua zona de conforto e forçar o jogo contra uma defesa que não é a maior virtude do time. Os árabes até pressionaram bem na frente, mas permitiram ao Espérance criar chances, principalmente nos primeiros 20 minutos, quando levaram sustos.
Outra questão é a possibilidade de o Flamengo alternar ritmos. Em dados momentos, se o Al-Hilal mantiver a bola no campo de ataque, o rubro-negro pode explorar uma recomposição defensiva que deixa a desejar e uma linha defensiva que não é rápida o bastante para lidar, por exemplo, com Bruno Henrique.
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Mas espera o Flamengo um adversário atrevido e com personalidade. E que nem usou todos os seus talentos ontem. Gomis e Giovinco vêm de lesão e não iniciaram o jogo. A entrada do centroavante francês deu um claro toque de presença de área ao Al-Hilal.
— Existe uma diferença de investimento, o Flamengo está um pouco na frente. Mas somos um time montado para propor jogo, para jogar na frente. Não será diferente aqui – garantiu o volante Cuéllar, ex-Flamengo.
Num tom semelhante, André Carrillo disse ver a semifinal equilibrada.
— Está 50% a 50%. Sabemos que o Flamengo tem jogadores que triunfaram na Europa, como Rafinha e Filipe Luís. Mas o futebol hoje está muito igual. Não é só camisa ou nomes – afirmou.
O meia-atacante peruano, aliás, é o jogador a ser observado. Foi o melhor da partida com sobras e repetiu sistematicamente um movimento com que o Flamengo deve ter atenção. Os dois pontas, ele pela direita e o saudita Al Dawsari pela esquerda, movem-se para o meio para trocar passes curtos. Foi com infiltrações pelo meio da defesa do Espérance que o Al-Hilal mais criou. E assim Carrillo achou o passe decisivo para o gol. Marcar a entrada da área e não permitir espaços entre a linha de defesa e de meio-campo será vital para o Flamengo não sofrer.
Mas a primeira oportunidade dos árabes aconteceu com outra virtude de Carrillo. E esta merece atenção rubro-negra por ter relação com a já conhecida questão de rivais usarem a velocidade pelos lados às costas dos laterais do Flamengo. No primeiro espaço aberto, o peruano arrancou e quase marcou.
Sem Giovinco, jogou Carlos Eduardo como um meia-atacante central. Ele passou pelo Fluminense em 2009 e depois defendeu Porto e Nice, da França. Sua movimentação foi fundamental para as trocas de passes pelo meio.
— Gomis e Giovinco tiveram problemas, treinaram menos. Era a melhor opção para nós (não escalá-los de início). Quanto ao Flamengo, sabemos da qualidade dos times brasileiros. Mas também temos a nossa qualidade. Na vida, quando se acredita no que faz, é possível fazer coisas grandes – disse Razvan Lucescu, técnico do Al-Hilal.
O fato é que, mesmo tendo investimento e talentos em menor quantidade, o Espérance andou incomodando o Al-Hilal. Em especial pelos lados, com Badri na direita e Elhouni na esquerda. Pareceu claro que a qualidade ofensiva do Flamengo, com seu ataque móvel, pode produzir vantagens. Além disso, embora taticamente o time tenha bons movimentos construídos para sair jogando com trocas de passes, os defensores e o goleiro do Al-Hilal não parecem especialmente hábeis com a bola. O coreano Jang, um pouco mais pesado, teve problemas quando pressionado. E o goleiro Al Muaiouf ofereceu ótima chance ao Espérance.
Mas até para a saída de bola Carrillo é fundamental. Enquanto o time árabe vê o rival pressionar sua saída de bola, o peruano se coloca por trás desta linha de pressão para receber a bola e arrancar. O Flamengo terá que ser compacto quando fizer seu jogo de pressão ofensiva. Os rubro-negros entram com o favoritismo, mas será preciso jogar bem.
Fonte: O Globo