Adversários políticos declarados, o governador do Rio, Wilson Witzel, e o presidente da República, Jair Bolsonaro, compartilham do mesmo interesse pelo futebol. Difícil julgar até que ponto a paixão por determinado clube é genuína, mas é fato que ambos batem ponto com frequência em estádios. A consequência de promover os eventos e jogos é vista com bons olhos pela CBF, mas a entidade pisa em ovos e tenta não tomar partido entre um e outro.
Bolsonaro estará no Maracanã para Flamengo x Avaí desta quinta-feira, pelo Brasileirão, e ficará num camarote do rubro-negro. A diretoria da CBF não estará lá. Ao mesmo tempo, o staff de Witzel ainda não confirma a presença do governador.
Apesar de não ter convidado nenhum dos dois para a entrega da taça da Série A, a CBF entende que precisa manter diálogo com ambos os lados, principalmente num ciclo que envolve candidatura a eventos. A rispidez entre os políticos gera saia justa.
O trânsito em Brasília foi importante para a realização do recente Mundial Sub-17, em solo brasileiro, e a postulação ao Mundial feminino de 2023. Bolsonaro recebeu o atual presidente da CBF, Rogério Caboclo, um dia após a posse na entidade, em abril. Até o mandatário da Fifa, Gianni Infantino, participou do encontro.
A CBF considera importante manter o canal aberto com o Planalto, uma relação que contrasta com os seis anos de governo Dilma. As portas estavam fechadas. Nesse período, a articulação política se deu mais no Congresso. Atualmente, com uma bancada da bola enfraquecida, o comando do futebol nacional se vê de novo diante de um presidente boleiro, tal qual era o corintiano Lula, que participou ativamente da candidatura à Copa do Mundo de 2014.
Na Copa América, Caboclo e Bolsonaro estiveram juntos em ao menos três jogos da seleção (abertura, semifinal e final). No amistoso de preparação do torneio, contra o Qatar, em Brasília, o presidente da República não só foi ao estádio Mané Garrincha como visitou Neymar no hospital, após a torção no tornozelo.
Quando o assunto é Libertadores, a preparação do Maracanã, escolhido como sede da final única de 2020, passa pelas garantias do governo estadual de que o estádio estará à disposição e a cidade terá o suporte necessário para o evento. A Conmebol anda traumatizada com os percalços das finais dos últimos dois anos. O papo com Witzel também foi importante para assegurar o Maracanã como sede da final da Copa América, independentemente da permissão de uso dada a Flamengo e Fluminense.
Já como opositor de Bolsonaro, o governador do Rio foi à sede da entidade sul-americana, no Paraguai, no dia em que o Conselho da Conmebol bateu o martelo e anunciou o estádio da final única do ano que vem. Lá, recebeu o convite do presidente Alejandro Domínguez para estar na final entre Flamengo e River Plate, antes em Santiago, mas que migrou para Lima. Nessa, Bolsonaro não foi.
Witzel costuma usar voos de carreira nas viagens representando o Estado. Para a decisão da Libertadores, foi de carona no avião fretado pela cúpula da CBF e voltou no voo do campeão Flamengo.
Com o time campeão, o governador apareceu no campo e até ajoelhou-se aos pés de Gabigol. Os oficiais da Conmebol não gostaram muito, mas já era tarde demais. Ali, a CBF lavou as mãos, já que a jurisdição não era dela.
Fonte: O Globo