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Flamengo: como ter chances contra o Liverpool, caso os clubes façam a final do Mundial



 

O nível das atuações e do elenco do Flamengo alimentou uma curiosidade que a ordem econômica do jogo moderno havia adormecido. Já não se discutia a hipótese de um sul-americano enfrentar em pé de igualdade um campeão europeu. Agora, o possível confronto entre o rubro-negro e o Liverpool deixa no ar a pergunta é: pode ter jogo ?

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A possibilidade de haver um confronto sem ares de monólogo é mais real do que nos duelos recentes. Mas a resposta é difícil, tão diferentes são os contextos em que Flamengo e Liverpool competem. O caso é que o Flamengo vai ao Mundial com características inéditas num representante sul-americano nesta versão moderna do torneio: comissão técnica europeia, jogadores que há pouco tempo jogavam na elite internacional e um investimento bem acima do padrão sul-americano. Se nem assim houver jogo, será a prova de que o abismo tornou-se mais dramático do que imaginamos.

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Mas do outro lado estará o melhor time do mundo, que amassa rivais como Arsenal, Tottenham e Manchester City. Pratica uma submissão dos rivais, tem jogadores no auge técnico e físico. Nenhum time do planeta asfixia um adversário como faz o Liverpool. E isso é algo que o Flamengo não enfrenta no dia a dia.

Como ter chance?

Algumas virtudes distinguem este Liverpool. Uma é o ritmo. Ele surge das seguidas roubadas de bola no campo ofensivo, gerando uma sucessão de ataques rápidos e finalizações, como um boxeador colocando o rival nas cordas. A pressão intensa é outra marca, e é ela que permite tal ritmo. E, claro, o trio de atacantes Salah, Firmino e Mané, este último um colosso físico. Qualquer espaço às costas da defesa é fatal.

O inglês Michael Beale era técnico do sub-23 do Liverpool. Depois se tornou assistente de Rogério Ceni no São Paulo e hoje trabalha no Glasgow Rangers, da Escócia, como auxiliar do ex-meia Steven Gerrard, ídolo dos Reds. Ele se debruçou sobre jogos do Flamengo desde que Jesus assumiu.

? Se o Flamengo tiver uma chance, o jogo terá que ser o mais lento, o mais pausado possível. E nunca disputado em grandes espaços ? avalia o inglês. Ou seja, manter-se compacto, tentar defender em espaços pequenos e evitar o jogo em ida e volta. Não há time do mundo que passe de defender a atacar tão rapidamente quanto o Liverpool, que domina as chamadas transições.

As principais
jogadas do
Liverpool
1
Liverpool x Leicester
Mané
2
3
Liverpool x Manchester United
Liverpool x Manchester United
Firmino
Firmino
Salah
Salah
5
4
Liverpool x Arsenal
Liverpool x Arsenal
Blitz
por zona
Pressão no ataque

As principais
jogadas do
Liverpool
1
Liverpool x Leicester
Mané
2
Liverpool x Manchester United
Firmino
Salah
3
Liverpool x Manchester United
Firmino
Salah
4
Liverpool x Arsenal
Pressão no ataque
5
Liverpool x Arsenal
Blitz
por zona

 

Uma linha adiantada como a do Flamengo precisa sempre administrar um grande espaço às suas costas. E aí existe um problema: Salah, Firmino e Mané precisam de poucas bolas para definir um jogo. Têm técnica, velocidade e muita dinâmica. Como impedir que acelerem para o gol?

? O Flamengo teria que marcar com uma defesa bem baixa (perto de sua área), mas não é o seu estilo habitual com Jesus. Se defender como fez contra o River Plate, terá problemas ? alerta Beale.

Há um dilema: marcar muito atrás pode fazer o Flamengo se oferecer à pressão. Adiantar-se permite um lançamento longo para um dos atacantes às costas da defesa, conforme a ilustração 1 . Nela, Mané ataca a defesa do Leicester.

Os atacantes do Liverpool, aliás, ajudam a criar um time flexível. A base é o 4-3-3, mas Firmino recua para abrir espaços e ajudar a armar, enquanto Salah e Mané infiltram nos espaços, num 4-4-2. Por vezes, Firmino vira meia num 4-2-3-1 e Salah pode virar centroavante. Cada vez mais, os meias infiltram, superpovoando a área. As duas ilustrações 2 e 3 mostram o movimento em jogo contra o rival Manchester United.

A pressão

O Liverpool é obsessivo com a retomada da bola no campo de ataque. Por vezes, induz o rival a sair jogando por um dos lados e para lá move toda a sua equpe para sufocar. Será, para o Flamengo, um exercício de coragem, buscar aproximações na saída de bola e passes verticais que vençam a linha de pressão. E, a partir daí, encontrar a técnica de Éverton Ribeiro e Arrascaeta entre as linhas de meio e defesa do Liverpool, além da velocidade de Bruno Henrique, vital neste tipo de situação.

Por melhor que seja, é natural que um time, ao pressionar na frente, ceda algum terreno. A questão é o Flamengo sair da pressão para avançar.

? É o time mais atlético e dinâmico da Europa ? avalia Michael Beale.

A pressão do Liverpool de Jürgen Klopp é a mais bem feita do mundo, porque combina ocupação do campo, agressividade e o atleticismo único deste time. Esses elementos combinados geram pânico naqueles adversários que demoram a definir a melhor forma de sair de trás. A dificuldade do Arsenal de sair jogando é retratada na ilustração 4 .

Os laterais

O Liverpool não tem exatamente um criador de jogadas. Meias como Henderson, Wijnaldum e Chamberlain são dinâmicos, móveis, marcam e atacam. Ninguém é mais criativo do que os laterais, que resolvem jogos com cruzamentos que são autênticos passes. Em especial o lateral-direitoTrent Alexander-Arnold.

Algo que o Liverpool faz magnificamente é sobrecarregar um dos lados, induzir o adversário a marcar o setor com muitos homens e isolar o lateral do lado oposto, dando-lhe espaço para atacar, movimento flagrado na ilustração 5.

? Não é ideal pressionar muito o Liverpool na frente. É ideal ocupar os espaços, num bloco médio, e deixar ao máximo a bola com os zagueiros na saída de jogo ? alerta Beale.

Estratégia

Passar 90 minutos defendendo não é característica do Flamengo, tampouco deve levá-lo a êxito. Mas ao marcar, o Flamengo deverá ter o máximo de jogadores atrás da bola ocupando espaços e cortando opções de passe para os homens de frente. Ao impedir um jogo rápido, ao obrigar o Liverpool a construir jogadas com mais pausa, contra uma defesa montada, cria-se o tipo de jogo que mais aproxima os Reds de uma “equipe normal”, ainda que, mesmo assim, ela ainda seja bem acima da média.

E os avanços dos laterais deixam algum espaço dos lados. Bruno Henrique pode ser peça importante.

Pelo alto

Outro ponto dramático para rivais do Liverpool é a capacidade de vencer sem jogar bem, com armas mais vulgares. Ontem, contra o Brighton, foram dois gols de cabeça de Van Dijk, o melhor defensor do mundo, técnico e colosso físico.

 

Fonte: O Globo

 


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