Analisadas as individualidades, o Flamengo tem mais talento. Coletivamente, teve atuações recentes mais redondas. Mas a final da Libertadores o põe diante de um River Plate cheio de virtudes e que, em cinco anos e meio sob as ordens de Marcelo Gallardo, chega à terceira final do torneio continental.
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Finais em partida única são sujeitas a diversos imprevistos decisivos: uma bola desviada, um gol cedo, um erro, uma expulsão, os nervos, sem falar na capacidade dos jogadores gerarem soluções individuais. Mas haverá um duelo tático entre dois times que têm uma série de características similares no modelo de busca ao gol. O certo é que não há times idênticos.
Os sistemas
Aqui estão algumas semelhanças. O River deve usar o habitual 4-1-3-2: ou seja, uma defesa de quatro homens, o volante Enzo Pérez logo à frente, depois uma linha de três meias e dois atacantes. Algo que Jorge Jesus usou para iniciar seu trabalho no Flamengo, até alinhar Gérson e Willian Arão no centro do campo e partir para o 4-4-2.
Curiosamente, os dois times têm na linha de três meias outra semelhança: partindo dos lados, estão jogadores com pé invertido. Os destros Arrascaeta e De La Cruz partem da esquerda, enquanto os canhotos Éverton Ribeiro e Nacho Fernández partem da direita. Com isto, buscam o centro do campo, gerando aproximações, trocas de passes e mobilidade, outra marca dos dois times.
Os modelos
Sistemas são apenas a forma de distribuir jogadores em campo. O que se faz a partir do desenho é a real essência dos times. E tanto River quanto Flamengo privilegiam o ataque, e o fazem a partir de uma pressão sufocante na posse de boal adversária. A partir da recuperação, tentam chegar ao gol em poucos e rápidos toques. O meio-campo será palco de uma batalha intensa, com o objetivo de recuperar a bola e atacar o gol rival rapidamente.
Os atacantes
Numa época em que proliferam sistemas com dois pontas e um camisa 9, River e Flamengo apostam em duplas de ataque: Gabigol e Bruno Henrique contra Matías Suárez e Rafael Borré. Os dois times tentam posicionar seus atacantes entre laterais e zagueiros do rival, buscando diagonais ora para a ponta, ora para o centro, sempre mirando as costas da linha defensiva. Podem inverter posições ou arrastar um zagueiro, criando buracos onde o companheiro de ataque infiltra.
Como atacar o River
Aqui começamos a abordar as diferenças. É comum flagrar a linha de defesa do River Plate desalinhada, algo raro no Flamengo. Seus defensores fazem mais perseguições na marcação. Daí podem surgir espaços que o rubro-negro pode aproveitar, caso aceite um confronto marcado por retomada de bola e golpes rápidos. O risco é criar um jogo frenético de idas e vindas em que o River também se sente bem.
Com toques rápidos ou até bolas longas, o Flamengo pode expor a defesa argentina. E mais: Pinola, aos 36 anos, e Enzo Pérez, aos 33, não são tão rápidos. E o lateral Montiel ataca melhor do que defende. Neste tipo de jogo, Bruno Henrique é chave .
Há a opção de tirar o ritmo do jogo. O Flamengo tem achado mais soluções do que o River em um jogo de mais cadência e posse, com Arão, Gérson e os laterais acionando os homens criativos entre as linhas dos argentinos. Outro dado: como o quarteto de meio-campo do River joga quase num losango, eles se movem lateralmente para pressionar o setor da bola. As inversões de lado podem abrir grandes espaços. Mas será preciso atenção máxima para evitar a perda da bola, porque o contragolpe do River é, sim, mortal.
Onde o River incomoda
Os laterais jogam um pouco mais avançados, ajudando na pressão no meio-campo. E permitem aos meias se moverem pelo centro. Dois dos meias são ótimos organizadores: Fernández e, em especial, Palacios. Mas outro meia merece atenção. Nicolás de La Cruz, uruguaio de 22 anos, é rápido, incisivo, e pode sair da esquerda para virar um meia central ou até um ponta direita, mudando o sistema para um 4-3-3 sem uma substituição sequer.
A dupla de ataque Suárez e Borré é móvel e rápida. E tentará buscar as costas dos laterais e da defensa avançada do Flamengo, como alguns dos rivais dos rubro-negros fizeram no Brasileirão.
Fonte: O Globo