LIMA – No alto do Puruchuco, morro que cerca o estádio Monumental de Lima, uma barreira ainda impede que os peruanos do bairro de Ate assistam lá de cima aos jogos. A invasão aconteceu apenas uma vez, na partida de estreia, entre Universitario e Sporting Cristal, no ano 2000, quando a estrutura foi erguida para 80 mil pessoas. Até hoje se conta a historia dos torcedores que atravessaram a colina onde vivem milhares de peruanos, na região norte, afastada uma hora do centro turístico.

Em 1997, o estábulo com criação de gado para produção de leite e o bosque verde onde a sede de Flamengo x River Plate foi construída começaram a dar lugar a uma área que se mantém cinza e poluída. Projeto do arquiteto uruguaio Walter Lavalleja, a arena é utilizada pelo clube Universitário, que manda seus jogos, e por proprietários particulares dos chamados “palcos”, que cercam a arquibancada e funcionam como tribunas e camarotes VIP.

 

A divisão foi uma solução para a falta de dinheiro para a obra. Sem recursos, a empresa Gremco, proprietária do estádio, se viu obrigada a vender os “palcos” para interessados que até hoje têm direito de acesso. Hoje, há um consórcio de proprietários, presidido por uma espécie de síndico, Juan Abusabal, que também tem seu palco.

A situação gera problemas. Enquanto a Conmebol fazia os últimos retoques dentro e fora do estádio, um dos proprietários embicou o carro no portão seis, mas foi barrado. Em conversa com O GLOBO, ele explicou que a relação entre proprietários e clube não é boa, pois ainda há dívidas da La U com a construtora Gremco.

– O Universitário nunca pagou o total para a empresa pela construção. Isso ainda causa problemas. O estádio foi fechado por alguns anos e os proprietários de palcos deixaram de pagar também. Ano passado a seleção peruana fez duas partidas e voltamos para ter direito a entradas – revelou o proprietário, que não quis se identificar.  A reportagem fez contato com representantes do Universitario, mas eles não quiseram tratar do tema e disseram que estava tudo sendo resolvido.

No mesmo local em que o dono do palco foi barrado, trabalha o senhor Leonardo Oimas, 53 anos, operário que participou da obra e hoje é ambulante. Ele afirma que estava no dia da invasão do morro Puruchuco. Com o fim da obra, as chances de trabalho diminuíram, e o mercado informal virou solução.

– Foram quatro anos e meio de obra. Depois não havia mais trabalho – conta o vendedor, torcedor de La U, ao lado de sua barraquinha. Para ele, que lembrou mais do técnico Jorge Jesus do que qualquer jogador do Flamengo, haverá mais peruanos torcendo pelo time brasileiro.

O estádio da La U também é palco de partidas importantes da seleção peruana, que arrasta muita torcida no país. Nos jogos do Universitário, a capacidade total de 80 mil lugares raramente é preenchida.

– O campeonato local não lota tanto porque é um pouco distante para as pessoas, e também pela capacidade ser muito alta. Alem disso as autoridades não costumam autorizar a carga máxima de ingressos, no máximo 30 mil espectadores – explica o jornalista peruano Gustavo Fernandez.

Na região, fica clara a maior proximidade de peruanos com os clubes argentinos, também por conta do idioma. Nas ruas de Ate, região considerada de classe média baixa, os torcedores peruanos explicam que quem é Alianza Lima costuma apoiar o Boca Juniors, e quem é La U, o River. O que pode explicar maior simpatia pelos argentinos. Mas a relação menos apaixonada com o futebol, no geral, pode reverter o quadro. Como explica o jornalista Mario Pinedo, da rádio RPP.

– Historicamente o peruano torce mais para Brasil do que para a Argentina. Talvez mais torcida por Boca do que River. Diria que vão apoiar o Flamengo. Em enquete da rádio, deu 70 a 30 para Flamengo. Mas não há muita paixão pelo futebol aqui, mais para a seleção – analisa.

Conmebol dá últimos retoques no estádio

O estádio Monumental de Lima está quase pronto para receber a final da Libertadores entre Flamengo e River Plate. A três dias da partida, marcada para sábado às 17h de Brasília, o palco da decisão recebeu os últimos retoques nesta quarta-feira.

A impressão geral é de um gramado em bom estado e arquibancadas prontas para receber os quase 60 mil torcedores. A capacidade total é de 80 mil levando em conta os palcos que circundam o campo por cima das arquibancadas.

Equipes da Conmebol trabalham desde as primeiras horas da manhã para deixar o Estádio do clube Universitario com a cara da final da Libertadores. Placas com referência ao jogo são espalhadas por dentro e por fora dos assentos dos torcedores. Ajustes em cadeiras e na iluminação ainda são necessários.

No campo, já estão instaladas as redes nos gols e a irrigação foi testada com sucesso. A marcação do campo está nova e as poucas falhas sinalizadas para um último retoque. Ainda não foi finalizada a conexão de internet nas tribunas.

Do lado externo, operários trabalham para aprontar as áreas auxiliares, como um campo de grama sintética que receberá eventos. Na única rua que dá acesso ao Monumental, a Javier Prado, muita poeira em função da manutenção do asfalto e dos canteiros.