Diferentes formas de agir geram diferentes formas de reagir. Novos estímulos provocam a busca por novas soluções. O 4 a 4 entre Flamengo e Vasco ajuda a ilustrar os benefícios de um futebol brasileiro aberto a novas ideias. É tão justo dar méritos a Vanderlei Luxemburgo pela forma como seu Vasco enfrentou um Flamengo tecnicamente tão mais forte quanto perceber que o modelo de jogo de Jorge Jesus, com comportamentos pouco usuais no país, obrigou o treinador vascaíno a se debruçar nos estudos e buscar novas alternativas. No empate entre um estrangeiro e um brasileiro, ganhou o intercâmbio.

ANÁLISE: No 4 a 4 entre Flamengo e Vasco, a grande notícia foi ver dois times protagonistas

O clássico, assim como outros jogos recentes, prova que este Flamengo dominante no Brasil vem sendo dissecado. É o jogo da ação e reação. Busca-se fórmulas de enfrentá-lo, o que cria desafios para o futuro do rubro-negro. E o mais importante no momento é perceber que, guardadas as proporções técnicas, o Vasco do empate em 4 a 4 confrontou o Flamengo com questões que o River Plate pode propor, por suas características.

Foi uma das primeiras vezes que o Flamengo enfrentou um sistema similar ao seu. Em especial, pelo fato de o Vasco usar uma dupla de atacantes, algo que se tornou raro no Brasil ? ao menos até o Flamengo brilhar com Gabigol e Bruno Henrique. Os rápidos vascaínos Rossi e Marrony, habitualmente pontas que jogam abertos, foram usados partindo do centro do ataque. Qual o plano de Vanderlei? Primeiro, forçar a linha defensiva do Flamengo, que joga adiantada. O objetivo era ganhar as costas dos defensores ou, com a mobilidade dos atacantes, tirar de lugar a defesa do Flamengo.

Os atacantes do River

Como o próprio Luxemburgo explicou, montou um 4-4-2 e, na linha de quatro meias, tinha Raul e Marcos Junior pelos lados, dois bons marcadores. Eles combatiam um pouco mais atrás, permitindo que o Flamengo, como de hábito, avançasse com seus laterais. Na perda da bola, Marrony e Rossi faziam diagonais para os lados, explorando os espaços às costas de Rafinha ou Filipe Luís. Em especial, nas costas de Filipe, já que o lado direito do Vasco, com Raul e Pikachu, tem mais projeção ao ataque. O Vasco sobrecarregou aquele lado. Uma arrancada por ali gerou o gol de pênalti; uma triangulação resultou no terceiro gol vascaíno.

Sem a bola, defesa e meio-campo do Vasco jogavam próximos, reduzindo espaços para jogadores como Everton Ribeiro criarem. O objetivo era gerar a perda da bola e o avanço rápido pelo lado. Funcionou no primeiro tempo. No segundo, o Flamengo criou muito.

O River Plate joga justamente com dois atacantes que, como fez o Vasco, tentam se posicionar entre lateral e zagueiro do adversário, buscando diagonais do centro do ataque para o lado: são eles Matías Suárez e Santos Borré. É também um time que tenta ser vertical após desarmar, ou seja, chegar ao gol em poucos e rápidos toques. O Flamengo terá que evitar as perdas de bola. Ainda mais se notarmos que, há algum tempo, treinadores apostam na velocidade contra a linha defensiva adiantada do Flamengo. É natural. Em futebol, todo modelo é um cobertor curto, toda forma de jogar tem suas fragilidades. E um time que busca o ataque desta forma se expõe um pouco.

O Fluminense apostou em dois atacantes rápidos também, mas com uma diferença: Yony e Nem partiam em diagonais da ponta para o centro, o oposto do que fez o Vasco. E mesmo o Flamengo tendo sido bem superior nos 2 a 0 do Fla-Flu, houve ação na área rubro-negra. Já o Bahia de Roger Machado ameaçou ao contra-atacar pelo lado, com o veloz Artur.

o foco e o físico

O Goiás, que empatou em 2 a 2, tentou explorar a velocidade do ponta esquerda Michael. Mas Ney Franco relata ter percebido que, quando o rival trabalha a jogada em um dos lados do campo, defensores e meias do Flamengo se movem para bloquear aquele lado.

? Trabalhamos com a inversão da jogada, com bolas mais longas, para que ele (Michael) recebesse com mais tempo até a chegada do marcador ? conta Ney.

Tudo isso significa que o Flamengo está em risco? Ou que é momento de alarme? Não. Porque há muitas ponderações a fazer. Primeiro, que a maioria das tentativas de surpreender o Flamengo de Jesus fracassou. O rubro-negro pressiona muito bem o rival assim que perde a bola. É intenso para marcar desde seu campo ofensivo e, com estes desarmes feitos lá na frente, cria chances de gol.

Aí reside uma questão até o jogo de Lima, no sábado. Parte do enredo do 4 a 4 tem a ver com o que o Vasco fez, mas também com o que o Flamengo não fez. O primeiro gol do Vasco surge de um lance um tanto fora do roteiro, quando Rodrigo Caio avança e o Flamengo não se reorganiza. Mas o fundamental é que, em jogos recentes, o rubro-negro pressionou menos no ataque. Ao ser menos intenso, se expôs mais na defesa.

E isto tem a ver com componentes anímico e físico: o foco no jogo da Libertadores e a sequência de partidas a que o time foi submetido. Provavelmente titulares não jogarão contra o Grêmio e haverá tempo até enfrentar o River Plate. Todas as atenções estarão voltadas para a Libertadores, e é natural um time mais concentrado.

O River Plate usa como base um 4-1-3-2. Ou seja, do meio para a frente tem um volante à frente da defesa, Enzo Perez. Diante dele, uma linha de três meias e dois atacantes. Enzo recua para iniciar jogadas, e os laterais avançam juntos, algo que não deve ocorrer contra o Flamengo, ao menos de forma tão atrevida. Mas na linha de três meias reside um alerta. Se Fernández e Palacios são mais organizadores, De la Cruz é mais incisivo, por vezes deslocado para uma ponta. Seria outra alternativa para tentar enfrentar em velocidade a linha defensiva do Flamengo.