Uma das principais vozes em defesa dos técnicos brasileiros ante a chegada de Jorge Jesus e Jorge Sampaoli, Vanderlei Luxemburgo teve um turno inteiro para refletir sobre a goleada sofrida em Brasília, dia 17 de agosto. O tempo foi suficiente para que lapidasse a equipe, que tinha assumido havia dois meses.

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O meio de campo foi o setor mais modificado pelo técnico desde aquele 4 a 1 no Mané Garrincha. Luxemburgo fixou o setor com três homens de marcação, diferentemente da escalação no primeiro jogo, em que congestionou o meio. Richard, Raul e Marcos Júnior são os favoritos para iniciarem a partida de hoje, às 21h30, no Maracanã, mas outras opções que não existiam antes emergiram: o marcador Bruno Gomes e o mais técnico Guarín. Ambos devem começar o jogo no banco.

Para o ataque, Luxemburgo apostou em Talles Magno à frente no primeiro turno, o que, em alguns momentos, até funcionou. Para o clássico desta noite, porém, o técnico, que não conta com o prodígio, deve privilegiar a quantidade: a dupla Marrony e Rossi, com ou sem Lucas Ribamar. Outra opção é a escalação de Felipe Ferreira, meia-atacante.

O clássico do primeiro turno serviu de ensinamento para o Vasco. O primeiro, mais óbvio: não se perdem dois pênaltis numa mesma partida impunemente. Yago Pikachu e Bruno César desperdiçaram, e o lateral-direito deve ser novamente o cobrador caso surja oportunidade. O segundo, é que quando o Flamengo der espaços, é preciso aproveitar as chances. Antes de Bruno Henrique abrir o placar, o Vasco fez jogo equilibrado e poderia ter saído na frente.

Ao olhar para o quintal dos vizinhos, Luxemburgo também pode encontrar inspiração no primeiro tempo do Botafogo, que igualou as ações com o Flamengo à base de um jogo de muita marcação, intensidade física e até a força excessiva em alguns lances. Enquanto teve os mesmos 11 jogadores em campo que o adversário, o time de Valentim manteve o ímpeto rubro-negro relativamente sob controle.

Provavelmente o técnico que mais chama para si a autoria de inovações táticas no futebol brasileiro, Luxemburgo vê atualmente Jorge Jesus levar o Flamengo rumo ao título brasileiro, mas não apenas isso. O time rubro-negro atingiu patamar de atuações que catapultaram o treinador para um nível acima dos demais. Esta noite, Vanderlei terá mais uma chance para provar que, mesmo à frente de jogadores menos talentosos, é capaz de ocupar o mesmo degrau que o colega português, que não terá Arrascaeta ? Vitinho e Reinier disputam a posição.

Jesus quase ?Vascou?

Luxemburgo foi a opção do Vasco logo depois da tentativa do clube de contratar Jorge Jesus. Tudo começou com a ponte feita pelo ex-vice-presidente de futebol José Luis Moreira.

O empresário português colocou o treinador e seus representantes em contato com a diretoria do Vasco depois da demissão de Alberto Valentim. Alexandre Faria, diretor de futebol na época, encabeçou a maior parte da negociação, que ocorreu muitas vezes diretamente com Jesus. Foram 15 dias de conversas frequentes por telefone, que culminaram com o envio de uma proposta oficial para o treinador.

As tratativas não foram para frente. Faria alega que Jorge Jesus teve de cumprir compromissos no futebol do Oriente Médio e não pôde dar uma resposta para o Vasco a tempo.Alega que os valores não pesaram:

? A questão nunca foi financeira, era de filosofia. Ele conhece muito o futebol brasileiro e se mostrou muito interessado em conversar, desde o primeiro contato. Ele está sempre atento, conhecia o Vasco, conhecia o elenco, como conhecia outros grupos do futebol brasileiro. Foi o timing mesmo, mas veio o Luxemburgo, que está muito bem.

A imprensa portuguesa, por sua vez, noticiou que o treinador recusou a proposta, enquanto fontes do Flamengo afirmam que a negociação vascaína nunca foi aberta a sério. Essa história, Jesus um dia contará.