Pode ser uma avaliação condescendente com os 28 jogadores que entraram em campo. Mas beira o inacreditável que um dos jogos mais importantes e promissores da rodada do principal campeonato do país tenha sido jogado num gramado como o de São Januário. Ali, era impossível ter bom jogo.

A noite, aliás, serviu como um painel de alguns dos piores aspectos do futebol brasileiro: VAR intervencionista e demorado, jogadores e comissões técnicas pressionando histericamente o árbitro e, por consequência, um juiz inseguro. E, além de tudo, um campo impraticável.

LEIA MAIS: Final da Libertadores: O GLOBO fez trajeto Rio-Lima de ônibus; Relembre

É fundamental o futebol brasileiro perceber que nenhum destes temas é periférico. Já está claro o quanto o mau uso do árbitro de vídeo interfere nos jogos. Mais do que tirar credibilidade de uma inovação que deveria trazer segurança, as paralisações longas são um  tiro no coração da dinâmica do jogo. E o futebol depende demais dela para não se descaracterizar.

Quanto ao comportamento dos atletas, ele tem enorme parte nas más decisões da arbitragem. Afinal, gera um ambiente insuportável no campo, como se juiz e jogadores fossem adversários.

LEIA MAIS: Polícia diz que Botafogo assume risco ao não abrir mais setores para o Flamengo

Já o campo é uma questão que transcende a parte técnica das partidas. E isto não é um ponto menor, ao contrário. Mas além disso está em jogo a reputação do futebol brasileiro, a conquista de um mercado que está sob ataque. O futebol europeu está nas TVs de quase todas as residências no país, com palcos bem tratados, sem falar nas estrelas mundiais do jogo, estas inacessíveis dada a disparidade financeira. O contraste é muito cruel, e nocivo para um futebol brasileiro que precisa sempre estar atento à percepção que jovens torcedores em formação estão criando a respeito do jogo doméstico. Cuidar bem dos nossos campos exige pouca coisa a mais do que cuidado, carinho. Claro que custa dinheiro e há clubes em dificuldades, mas um mínimo padrão precisa ser respeitado.

Venceu o Palmeiras por 2 a 1 porque buscou mais o gol. E reduziu para cinco pontos sua diferença para o Flamengo, líder do Brasileiro. O Vasco, por sua vez, tem pontos suficientes para um fim de ano tranquilo, mas está claro que é sua falta de poder ofensivo, além da qualidade técnica limitada do elenco, que o afastará de voos maiores. Nesta quarta, mal incomodou o rival.

Técnicos surpreendem

Qualquer análise do jogo fica prejudicada pelas condições do campo. Não é possível cravar que foi a grama a questão determinante no erro de Mayke, autor do gol contra que deu ao Vasco o empate parcial. Mas a articulação de jogadas, o ritmo, tudo era prejudicado por um gramado de aspecto ruim, com uma bola viva e difícil de dominar. Não era simples dar velocidade à partida.

Campo à parte, os técnicos surpreenderam. Vanderlei Luxemburgo escalou Bruno César como “falso 9?. Tentava ganhar um quarto meio-campista e construir superioridade numérica contra o trio do Palmeiras no setor. Ou fazê-lo se mover para arrastar um zagueiro rival, desordenando a defesa do Palmeiras.

LEIA MAIS: Botafogo e Fluminense podem se salvar com 43 pontos; confira o caminho mais fácil

Mas o Vasco só chegou perto do gol duas vezes em 90 minutos. Quando articulou uma boa jogada pela direita, com Pikachu e Rossi, não finalizou. Contou com o desvio de Mayke para fazer seu gol, aos 17 minutos. Na outra, Guarín desarmou Luan, mas perdeu o gol diante de Fernando Prass. No mais, não construiu em lances trabalhados. Este é um problema recorrente de um Vasco que se habituou a marcar atrás e contra-atacar.

Mano Menezes poupou cinco titulares e um dos teóricos substitutos, Lucas Lima, aproveitou uma bola longa aparada por Deyverson e abriu o placar, aos 11 minutos. Mas precisou lançar Dudu e Luiz Adriano no segundo tempo. A ideia era ganhar qualidade, mas o jogo não fluía. Numa disputa contra três vascaínos, Luiz Adriano, em lance irregular na visão do comentarista Sandro Meira Ricci, fez o gol da vitória dos paulistas.

Aliás, até os lances polêmicos, do gol do Palmeiras à expulsão de Leandro Castan por reclamação, tiveram relação com o campo: a bola viva gerando disputas e situações controversas.