O assunto demandava concentração. E nenhum vazamento. Antes de definir os rumos da final da Libertadores , dirigentes de Flamengo , River Plate , CBF e AFA colocaram os celulares numa cesta e lá deixaram pelas quase cinco horas de reunião na sede da Conmebol , no Paraguai. Só então, praticamente desconectados, começaram a deliberar sobre os rumos da partida, que viria a ser transferida de Santiago para Lima.

Mas esse caminho não foi curto.

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A reunião começou com cerca de 20 minutos de atraso. Culpa dos brasileiros, que foram juntos em um voo fretado. Assim que o papo começou, o presidente da Conmebol, Alejandro Domínguez já colocou à mesa que as decisões a seguir seriam tomadas pelos clubes. E jogou sobre eles a missão de deliberar sobre a caótica Santiago. Flamengo e River Plate se pronunciaram em uníssono: não estavam dispostos aos riscos de uma partida na capital chilena diante da onda de protestos violentos contra o governo. Os presidentes da CBF, Rogério Caboclo, e AFA, Chiqui Tapia, deram suporte.

Diante do cenário – ainda sem o presidente da Federação Chilena na sala -, Alejandro Domínguez começou a traçar os cenários alternativos. E foi fazendo uma lista de impossibilidades. Nada de Brasil e Argentina, países dos finalistas. Tampouco Bolívia e Venezuela, por não terem estrutura. O Uruguai receberá eleições presidenciais no dia 24, um dia após a data da final única. O Paraguai, por sua vez, é sede do Beach Soccer e já tem a final da Sul-Americana.

O exercício de exclusão terminou em Peru, Colômbia e Equador. Os equatorianos, além de não terem mexido uma palha sequer, ainda têm o obstáculo da altitude em Quito.

Intervenção chilena

Mas aí chegou o presidente da Federação Chilena, Sebastián Moreno. A discussão voltou praticamente à estaca zero porque a reunião retomou a questão Santiago. Mesmo sabendo a gravidade da situação “em casa” não estava boa, o cartola chileno deu a impressão de que não queria ser ele a dizer para a Conmebol retirar a final de Santiago.

Então, a ministra do Esporte do Chile, Cecilia Pérez, iniciou sua participação no encontro via videoconferência. Com cerca de uma semana no cargo, ela não economizou. O combo explicativo-argumentativo durou cerca de 1h30. A verborragia, no entanto, não foi suficiente para trazer segurança aos dirigentes. A Conmebol ainda provocou mais uma tentativa obtenção das garantias de segurança por parte do presidente Sebastián Piñera, mas elas nunca chegaram.

Excluído o Chile, retomou-se a discussão sobre o novo destino da final.

Passos rumo a Lima

Da Colômbia, veio a oferta formal para uso do Anastacio Girardot, em Medellín. Era uma opção, mas não a mais apetitosa. A dificuldade logística de fazer a final única em um local sem voos diretos pesou para os clubes.

Pausa para o lanche: café e sanduíche para as forças não caírem. Só nessa hora alguns dirigentes tiveram acesso aos celulares.

Até que Lima entrou na história. Foi como se do alto do Machu Pichu viesse uma luz para tirar a Libertadores da escuridão de ideias.

A ironia: a capital peruana já tinha perdido a final da Sul-Americana para Assunção, e o país também deixou escorrer entre os dedos a organização do Mundial Sub-17 deste ano. Mas a proposta veio com o que a Conmebol mais precisava no momento: segurança. O suporte governamental foi o diferencial. Voos? Muito mais fácil de conseguir do que para Colômbia. Distância? Relativamente parecida para argentinos e brasileiros, sem, ao mesmo tempo, favorecer um ou outro. Fato é que o movimento só ganhou robustez lá para as 19h.

Sem margem para pestanejarem, os clubes e a Conmebol abraçaram a ideia e bateram o martelo. Final da Libertadores em Lima. A ânsia foi tanta que só depois a entidade confirmou horário (17h de Brasilia). O estádio Monumental, com capacidade para 80 mil pessoas, é o ponto de encontro do embate pelo troféu mais cobiçado do continente.

E ninguém falou em fazer a final em dois jogos.