Foram 14 anos na Europa, mas é no Flamengo que Rafinha admite viver o melhor momento da carreira. O lateral-direito de 34 anos chegou ao clube como se aqui já estivesse. Embora seja natural de Londrina, no Paraná, tem no samba estampado pelo corpo uma ligação com a cidade e com o rubro-negro.
No Rio e no clube, costuma parar e conversar com pessoas comuns e muitas vezes invisíveis aos olhos da população, demonstrando muita simplicidade.
Já as suas tatuagens resumem a importância que o jogador dá à família. Recentemente, ganhou o terceiro filho, primeiro menino, Rafael Luca, depois de ter duas gêmeas, Maria Luiza e Maria Sofia. Todos registrados pelo corpo. Que promete receber em breve o desenho da Taça Libertadores de 2019.
O ano começou com a promessa da diretoria do Flamengo de que o traria. Rafinha deu sua palavra, e teve a dos dirigentes Marcos Braz e Bruno Spindel, que foram à Europa para se reunir pessoalmente com o jogador e convencê-lo a jogar pelo clube carioca.
Todos no clube falam de você ser o mais gente boa do Fla…
Agradeço pelo elogio (risos). Sou assim mesmo, tenho um bom contato com todo mundo. Somos todos iguais e procuro conversar com todo mundo. Desde o pessoal da limpeza até quem corta grama, tem que tratar todo mundo igual, com o mesmo respeito.
E as boas maneiras?
Vem de berço, sou do interior do Paraná. Isso vem da minha mãe, dos meus tios, são pessoas de família tradicional, simples. Desde sempre aprendemos a respeitar a família, pedir benção.
Seus amigos dizem que o seu apelido é Bubbaloo…
Isso foi na infância, tinha esse chiclete. A gente queria comprar e ninguém conseguia porque era muito caro. Falavam para pegar o mais barato. Então, um amigo de infância falou que eu só queria o Bubbaloo e colocou esse apelido em mim. Até hoje, todo mundo me chama assim.
Amigos como o Tibúrcio?
Tibúrcio é o meu pé de coelho. Está em todas comigo, em todas as decisões. Liga dos Campeões, Mundiais, Supercopas da Europa. Deu certo na Alemanha e está dando certo no Flamengo. Gosto de trazer pessoas que trazem bons fluidos para ter aqui do lado.
O que você pensou quando usou o capacete após a operação?
Não quero ficar usando, não é legal ficar usando capacete. Tenho que usar mais algumas semanas, o osso já está praticamente colado. É bom para prevenir. Com certeza [tive medo de não jogar a semifinal], cirurgia requer todo o cuidado. Doutor falou que não poderia me colocar em uma nova furada, mas me acompanhou em todo tempo. Não foi tão simples como pareceu.
Qual a sua tatuagem mais representativa? E pretende atuar a Libertadores se for campeão?
São as dos meus filhos. Eles três são os meus maiores troféus. Meu corpo tem espaço para colocar qualquer taça, mas o negócio agora é o Campeonato Brasileiro. O jogo mais difícil sempre é o próximo. Depois que conquistar as coisas, tem espaço. Meu tatuador é o Thiago, de São José dos Campos, que está sempre comigo. Foi para a Alemanha algumas vezes, está sempre comigo. Já avisei que se a gente conquistar alguma coisa, tem trabalho para ele.
Ser campeão da Champions te prepara para a final da Libertadores?
A Champions é outro mundo. O Mourinho disse uma vez que prefere vencer uma Champions do que cinco Copas do Mundo. Lá estão os melhores. É gratificante participar, conquistar então é o ápice. Meu objetivo é encontrar um ambiente igual na final. A Champions é um show, é um evento, é um teatro que tem cantor e coreografia dos países.
Quando foi em Wembley, em 2013, jogou o Borussia e o Bayern. Eles simularam guerras antigas com soldados alemães se enfrentando. Em 2012, contra o Chelsea, foram pessoas entrando em campo com roupa da Alemanha simulando um ataque contra ingleses, que estavam se defendendo. Estávamos jogando em Munique, no nosso estádio. Espero que a [final da] Libertadores seja um espetáculo grande.
Uma Libertadores vale mais do que cinco Copas do Mundo para você?
Para mim, vale, né. Com certeza. Minha vontade de ganhar a Libertadores é maior, porque nunca conquistei e eu não vou disputar uma Copa do Mundo. A minha idade me permite jogar, estou em 34 anos e no melhor momento da minha carreira, correndo 11 km todos os jogos. É difícil porque a gente acompanha as convocações da seleção e o Tite tem a base dele. Não tenho essa pretensão. Claro, se me convocar vou representar o meu país, mas não é a minha prioridade. Na seleção, já tive melhores momentos e não fui convocado. Mas respeito, meu momento é o Flamengo agora.
Como vê essa crise no Chile?
Eu procuro me desligar. Quando estou em casa, prefiro distrair. Até gosto de evitar essas coisas porque a gente vive futebol 24h. Quando estou em casa quero mudar o foco. Tenho vários amigos no Chile, até o Vidal, a gente fica triste porque tenho amigos no Chile. Quero que essa situação se resolva o mais rápido possível.
O que você aprendeu com Jesus que não aprendeu com Guardiola?
É um privilégio trabalhar com ele [Jesus], porque ele trouxe coisas novas para o futebol brasileiro. Na Europa, eu já sabia como eles trabalhavam, mas muitos no Brasil não sabiam. O ‘Mister’ tem uma forma boa de trabalhar, ele passa todas as informações detalhadas. Está tudo na sua mão. Coletivamente e individualmente você sabe tudo que tem que fazer.
Vidal quer mesmo jogar no Flamengo?
O Vidal é nosso, Vidal é Mengão. O Podolski também. Vidal, em especial, jogou no Colo-Colo e sabe a força do Flamengo. Quando estava no Bayern, ele já falava isso [jogar no Flamengo]. Todo mundo gosta, todo profissional sabe da força da torcida do Flamengo. Joguei oito anos no Bayern e, quando falei que ia vir para cá, todo mundo comentou.
Tem essa ‘Flamengomania’ na Alemanha como em Portugal?
Na Alemanha tem, na Inglaterra tem. Flamenguista tem em todo lugar. Flamenguista é formiga, tem em todo lugar. Fico feliz de estar em um momento maravilhoso como eles. Mas vamos com calma com os objetivos.
Você assumiu um status de liderança no Flamengo?
Já participei com o Diego, Filipe Luis. Nós temos uma amizade de grande tempo, disputamos Olimpíadas em 2008, Eliminatórias. Todo mundo sabe do meu caráter, da minha índole, fiquei 15 anos em um clube grande. Ninguem fica la por ser bonito ou legal, fica por ser bom jogador. Escrevi meu nome no Bayern, venci todos os títulos que disputei. Esse respeito não é só daqui, é de todo mundo.
Encerra a carreira no Flamengo?
Vou encerrar no Coritiba, todo mundo sabe sou coxa-branca, vou encerrar no Coritiba. Já prometi. Sai de lá e vou terminar lá. O Filipe Luís é quem vai encerrar no Flamengo.
Fonte: O Globo