O brasileiro que sobreviver ao duelo desta noite no Maracanã, Flamengo ou Grêmio, terá motivos evidentes para se preocupar com o River Plate, primeiro finalista desta Liberadores. Seja porque Marcelo Gallardo tem mais de cinco anos no comando do time, o que lhe dá controle total sobre um elenco que sabe de cor o modelo de jogo, seja por ter se habituado a instâncias decisivas da Libertadores, ou mesmo pelas qualidades de um time muito competitivo. Mas a verdade é que os 180 minutos de semifinal contra o Boca Juniors estiveram longe de ser brilhantes, dois jogos pobres, exceção feita ao segundo tempo da partida de ida, quando o River exibiu algo próximo de seu melhor nível. Mas a exibição da equipe de Gallardo na partida de volta foi decepcionante.

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Diante de um Boca necessitado de gols, mas cujas ideias ofensivas se limitavam a um jogo direto, com bolas longas e muita disputa física, não era demais esperar que o River Plate tivesse mais controle do jogo. O time abriu mão da bola, o que poderia ser uma estratégia, desde que ligasse contra-ataques e negasse chances ao rival. Não fez uma coisa nem outra. Ao permitir que o jogo rondasse sua área, potencializou as chances de um adversário muito mais fraco. Tévez marcou um gol corretamente anulado, mas por um detalhe: um desvio de mão involuntário que, pela nova regra, invalida o lance. Depois, a 11 minutos do fim, sofreu o gol de Hurtado e viveu perigosa e desnecessariamente no limite. Tudo porque limitou-se a defender e andou longe de impor seu modelo de jogo.

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Mas o que esperar do River Plate em circunstâncias normais? Para começar, há algumas semelhanças entre com o modelo de Jorge Jesus no Flamengo. Primeiro, o sistema tático, o desenho em campo se baseia num 4-1-3-2, plataforma de jogo com que Jesus iniciou seu trabalho no rubro-negro. Mais adiante, com Arão e Gérson formando a dupla de meias, o português tendeu a alinhá-los, migrando para um 4-4-2. Já Gallardo segue tendo Enzo Pérez como primeiro volante e um trio de meias, formado por Ignácio Fernández, Palacios e De la Cruz. Os dois primeiros têm mais características de meio-campistas mais organizadores, enquanto De la Cruz é mais incisivo, mais vertical, que conduz a bola em direção à área e busca o drible.

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Outra ponto diz respeito aos dois atacantes. Assim como a dupla de ataque do Flamengo, Borré e Matías Suárez tentam prender os quatro defensores dos rivais, podendo circular pelo lado do campo ou correr em diagonal para a área. Para tanto, muitas vezes buscam se posicionar entre lateral e zagueiro do adversário e têm mobilidade. Mas, tecnicamente, estão abaixo dos rubro-negros Gabigol e Bruno Henrique, por exemplo.

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O River busca pressionar o adversário e jogar de forma compacta. Ao retomar a bola, tenta chegar ao ataque com o mínimo de toques possíveis, buscando resolver rapidamente os lances. Neste ponto, o tempo de trabalho de Gallardo dá ao time alguns movimentos muito automatizados. A maturidade do trabalho é um grande trunfo.

É verdade que não é simples jogar como visitante na Bombonera. Mas foi intrigante como o River Plate sofreu mais do que o habitual e jogou menos do que se poderia esperar. E ao permitir que o Boca, mesmo limitado, pressionasse tanto, expôs um defeito: perdeu uma infinidade de disputas aéreas.

O River da decisão não deverá ser o time que perdeu pelo placar que podia perder para o Boca. Caso o Flamengo passe pelo Grêmio, encontrará um  rival com um modelo de jogo mais consolidado, um trabalho mais longo e um hábito de disputar fases finais de Libertadores. Uma maturidade que faz diferença, afinal trata-se de uma equipe que chega à terceira decisão em cinco anos. Mas o Flamengo tem pontos a seu favor: assimilou rápido o modelo de Jorge Jesus e, nas individualidades, é superior. Mas o fato é que, entre River e Boca, passou para a final o melhor time. Um rival de respeito.