O domingo da 27ª rodada do Brasileirão reforçou a ideia de que estamos vivendo a edição mais cercada de causas e politização dos últimos anos.
No Morumbi, o emprego de atletas paralímpicos como gandulas conscientizou os torcedores sobre inclusão de cadeirantes. Nas mãos deles, bolas oficiais mostravam um novo visual, em nome do Outubro Rosa, ação que alerta para a prevenção do câncer de mama.
Antes, as redes sociais foram tomadas pelo anúncio de que o Bahia usará hoje, contra o Ceará, uma camisa tingida de petróleo cru. A finalidade é denunciar o crime ambiental e a inércia que assolam o litoral do Nordeste.
O mesmo Bahia já havia trazido outras questões a público no último sábado, quando seu técnico, Roger Machado, fez um elogiado discurso sobre o racismo estrutural brasileiro. Mas não só isso. O clube presidido por Guilherme Bellintani esteve na vanguarda tanto em movimentos intimamente ligados ao futebol ? como o clamor por cerveja barata, em protesto contra o aumento de preços dentro da Fonte Nova ? quanto outros que pareciam jamais tocar as quatro linhas.
No primeiro Brasileirão em que os gritos homofóbicos foram repudiados por lei ? o que obrigou uma histórica manifestação de clubes contra cânticos mais do que tradicionais de suas torcidas ? o Bahia usou bandeirinhas de campo com as cores do arco-íris.
Na sexta-feira, o Santos também se posicionou contra preconceitos de sua própria torcida em partida contra o Ceará. Depois dela, Thiago Galhardo relatou injúrias raciais contra o colega Fabinho, o que gerou desconforto e temor por consequências jurídicas. Em resposta, o Santos postou em suas redes uma poderosa advertência:
“Se você é racista, preconceituoso ou xenófobo, por favor, não compareça aos jogos do Santos FC, não seja sócio Rei e não use nossos produtos oficiais. Melhor ainda: deixe de torcer para o Santos. Você não merece esse clube e não é bem-vindo.?
Nem tudo, porém, são ações institucionais de clubes, embora muitas outras pudessem ser lembradas. Nas redes sociais, Igor Julião, lateral do Fluminense, se manifesta em favor da defesa de direitos raciais e de LGBTs, com fortes posições políticas. Em entrevista ao GLOBO, o atacante do Vasco justificou o uso do prenome “Lucas?, em vez do “Ribamar? mais famoso, que herdou do pai. Ele admite que nunca trava contato com o pai e, de forma discreta, demonstra que nenhuma criança deveria crescer nessa carência afetiva.
Foi-se o tempo em que os atletas que mais abriam a boca falavam apenas gracejos e lugares-comuns. O futebol deixou de ser uma ilha de seu tempo, alheia aos dramas e opiniões, e somente os náufragos da razão não perceberam isso.
Fonte: O Globo