A vaia tomou conta das arquibancadas quando Paulo Henrique Ganso e João Pedro tocavam na bola. Ainda faltavam mais de 30 minutos para o derradeiro apito final, mas o torcedor que se deslocou ao Maracanã em plena quinta-feira já havia escolhido os seus alvos. A dupla personifica a frustração que é o Campeonato Brasileiro realizado pelo Fluminense , não apenas pelo que exibe, mas pelo que se espera.

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Ironicamente, Ganso e João Pedro se tornaram vítimas das expectativas criadas sobre eles. O Fluminense não jogou mal, eles tampouco, mas o torcedor em fúria escolheu descontar sua raiva no camisa 10 que não consegue ser líder e no atacante que está há nove jogos sem balançar as redes ? mesmo com outros jogadores tendo atuações piores que as deles.

O problema é que a principal diferença entre Fluminense e Athletico vai além de rendimentos individuais. O 2 a 1 no placar é um diagnóstico dos momentos dos clubes e os mais de 16 mil presentes vivenciaram um choque de realidade nesta quinta-feira: hoje, os paranenses são favoritos tanto no sintético da Arena da Baixada quanto no gramado do Maracanã.

Os motivos são o modelo de jogo bem definido e o trabalho a longo prazo que colhe frutos ? e títulos ? com Tiago Nunes. Em contrapartida, o irregular Fluminense é um ‘Frankenstein’ de ideias, dividido entre as lembranças de Fernando Diniz e o início de trabalho de Marcão ? e Ganso e João Pedro não são culpados por isso.

O efetivado treinador tenta manter intacto o DNA da equipe. Há posse de bola (58% contra 42%) e busca pela criação de espaços com movimentação. Também houve correções defensivas, como extinguir a marcação alta para não sofrer contra-ataques em inferioridade numérica, um antigo problema grave. Consequentemente, o poder de fogo diminuiu consideravelmente: se antes a média era de 27 chutes a gol por jogo, foram apenas 12 nesta quinta-feira.

O retrato desta disparidade foi como as equipes tentaram furar os bloqueios adversários. Tiago Nunes orientava seus jogadores a atacar os espaços vazios do campo. Foi assim que Wellington ? em lance de rara felicidade ? acertou um lançamento de mais de 40 metros para Madson marcar. Enquanto isso, um isolado e pouco inspirado Wellington Nem tentava driblar três marcadores athleticanos sozinho repetidamente durante o segundo tempo.

Some isso às atuações ruins de pilares como Allan, Caio Henrique e Daniel e tenha uma queda considerável de entrosamento na parte coletiva, o que também explica a derrota. A conclusão é que o Fluminense atual tem futebol para escapar do rebaixamento sem maiores sustos ? os cinco jogos de invencibilidade antes de enfrentar o Athletico provam isso ?, mas precisa evoluir se quiser desafiar equipes da parte de cima da tabela

E rápido, já que o próximo adversário é o líder Flamengo, com clássico marcado para o domingo.