Aos 22 anos, Simone Biles é a melhor ginasta da atualidade. Neste fim de semana, a americana de 22 anos conquistou não só o hexacampeonato na categoria individual geral do Campeonato de Ginástica dos Estados Unidos, como também deixou mais uma façanha para a história.
Trata-se de um estarrecedor duplo mortal com tripla pirueta na apresentação de solo, um daqueles movimentos difícil de explicar com olhos de leigo, mas que arrepiam até o espectador mais desinformado.
? É inédito. Ela faz um duplo com tripla, sendo que antes só fazia o duplo com dupla (dois mortais seguidos de uma pirueta no 1ºmortal e uma pirueta no 2º mortal). Agora ela faz com a tripla pirueta. Incrível, algo absolutamente sensacional ? diz extasiada a treinadora de ginástica artística Georgette Vidor.
A própria Simone Biles não se segurou. Assim que terminou a apresentação, a ginasta de Ohio, que ainda tinha duas provas no dia, agarrou o celular a fim de ver a imagem de seu salto, que já tinha viralizado.
? Não queria ser a última pessoa a ver. Fui direto para a internet para ver como tinha ficado ? disse a atleta.
É a execução de três piruetas no ar na posição grupada, com dois mortais. Ou seja, Biles gira três vezes em torno do próprio eixo e ainda faz duplo mortal por cima do corpo. Uma acrobacia que deverá ganhar o nome dela, assim como duplo twist carpado se chama “Dos Santos”, por causa da brasileira Daiane.
? É um salto bem difícil. Embora os meninos já façam, são bem poucos. Nenhuma mulher havia feito e ela vai ser a primeira a fazer esse salto oficialmente. Agora ela precisa se apresentar no Mundial, numa competição oficial e acertar o elemento para validar o movimento com o nome dela ? explicou a ex-ginasta brasileira Daiane dos Santos, campeã mundial do solo em 2003 e hoje comentarista do Sportv. ? Não que seja uma regra, mas claro que é sempre muito legal você ter um elemento que leve teu sobrenome. Isso acontece quando o atleta é o primeiro a executar o elemento.
Quando o atleta executa exercícios inéditos, os movimentos vão se alterando para, por exemplo, “dos Santos 1?, “Dos Santos 2? e o que define o valor é realmente o grau de dificuldade da acrobacia. Hoje se percorre uma escala de A até G, que é o valor máximo que a ginástica tem. Alguns atletas têm esse objetivo de consolidar um movimento com seu nome, outros não ? diz Daiane.
Com seus 1,42m e sua coleção de vinte medalhas obtidas em campeonatos mundiais, sendo 14 de ouro, Biles igualou neste Campeonato dos EUA a marca de Clara Schroth Lomady, que também foi hexacampeã de 1946 a 1952. Georgette salienta a facilidade com que Biles coordena seu corpo no espaço e não vê nenhuma ginasta capaz de derrotá-la no Mundial de Stuttgart, que acontece em outubro.
? Ela vai ganhar com muita diferença. Está realmente tão a frente que no momento é incomparável, não tem nada parecido no mundo ? ressaltou.
Questionada sobre a comparação do movimento da americana em relação a outros de alto grau de dificuldade, Georgette pondera:
? Talvez o triplo mortal seja o elemento que chegue mais perto desse movimento inédito da Biles, que hoje tem russos voltando a executar, na verdade os homens estão fazendo, porque as mulheres nunca conseguiram. Uma vez tivemos um triplo na saída da paralela de uma mexicana, mas a saída da trave era marcada apenas pelo duplo (mortal) com dupla (pirueta). Era o que Biles fazia no solo. Muita gente faz, não era nada espetacular, até essa apresentação inédita, também na saída da trave ? disse a técnica.
Se conseguir com que a FIG (Federação Internacional de Ginástica) homologue a acrobacia no código de pontuação, ela vai se chamar Biles 2, o sobrenome da ginasta, como de praxe, acrescido de uma 2ª menção. Dentre os brasileiros que já batizaram movimentos com seus sobrenomes estão: Daiane dos Santos (solo), Diego Hypolito (solo), Arthur Zanetti (argolas) e Sérgio Sasaki (paralelas).
? Deve entrar no grau de dificuldade G, que hoje é o grau mais alto da ginástica. Eu tenho dois elementos com meu nome. Um vale “E? (duplo twist carpado) e outro vale “G? que é o duplo twist esticado e esse nivelamento depende da parte técnica da comissão da FIG, que vai avaliar o grau de dificuldade do elemento. Como esse duplo com tripla é um exercício muito difícil, acredito que vá receber o grau máximo que é “G?, o mesmo valor do Biles que ela já tem em outro elemento. Então esse vai ser o “Biles 2?, porque ela já tem o Biles 1 (que é o duplo mortal com meia volta mais um mortal pra frente, na posição esticada) ? analisou Daiane dos Santos.
Colchão de segurança
Uma das curiosidades notadas no vídeo da acrobacia inédita de Biles é o uso de um colchão na saída do movimento, bem na hora de sua aterrissagem. Assim que ela deixa o colchão, uma pessoa da organização o retira do tablado.
? Esse é um movimento de um nível tão excepcional que não vale deixar a atleta desprotegida. Como tem um Mundial que é classificatório pros Jogos Olímpicos, não há necessidade de deixar de protegê-la num campeonato nacional. Na trave e na paralela a gente pode usar aquele colchão de 10 cm, na saída. É algo que às vezes a gente faz em campeonatos nacionais, quando os atletas vão executar movimentos muito difíceis. Faz-se um pedido antes e o congresso técnico determina se é possível. Depende de cada congresso e competição, mas no Mundial e no Pan, o uso deste colchão não é permitido ? esclarece Daiane.
Para Tóquio 2020, é mais do que provável que as expectativas estejam voltadas para Simone Biles, como um dos grandes nomes para figurar no cenário mundial e no quadro de medalhas.
? Eu acho que ela já está no nível do Phelps e do Bolt, tanto que nos últimos Jogos Olímpicos eles compararam ela à Nadia Comaneci, como se fosse a Nádia dos tempos modernos. Ela é um fenômeno, stá muito além das outras ginastas. Dificilmente alguém vai bater ela. Ela já foi o grande nome da última Olimpíada e tomara que seja de novo, pois vai ser muito legal ter uma representante da ginástica como maior nome dos Jogos ? afirma Daiane.
Fonte: O Globo