esporte »

'Meu colega de treino dizia que eu tinha que fazer serviço doméstico', conta única brasileira com medalha olímpica no boxe



A soteropolitana Adriana Araújo encara, literalmente, uma luta diária para viver do boxe. Ou melhor, sobreviver. Sem patrocínio, a única mulher do país a conquistar uma medalha olímpica na categoria, o bronze em Londres-2012, precisa dar aulas para se manter. Mas há uma luz no fim do túnel. Se derrotar a argentina Yamilla Abellaneda, hoje, na Arena de Lutas, em São Paulo, a brasileira, de 37 anos, disputará o cinturão mundial do super-leves do Conselho Mundial de Boxe(CMB), que é o seu maior sonho. Atualmente, a detentora é a americana Jessica McCaskill.

? Infelizmente tenho que dar aula para sobreviver. Meu treinador também me ajuda muito, se deslocando para me treinar mais perto. Como tenho pouco dinheiro para me locomover, ele me ajuda. Minhas irmãs também me dão muita força na busca pelos meus sonhos no boxe profissional ? revela Adriana, cuja luta de logo mais será a principal atração da sexta edição do Boxing For You. Sportv, FoxSports, Dazn e Bandsports transmitem o evento a partir das 20h. Quem ganhar conquista o cinturão latino.

A primeira paixão esportiva de Adriana, cujo apelido é Pitbull, foi o futebol, em que chegou a participar de uma peneira no Vitória, mas logo desistiu, já que precisava trabalhar para se manter. Nos ringues, o início foi no bairro de Brotas, em Salvador, no projeto social da Academia Mundo do Boxe. Ali ela conheceu a nobre arte através de Rangel Almeida, seu técnico até hoje.

Na época, a convite de uma amiga, Adriana escolheu o esporte por uma questão de saúde, já que estava oito quilos acima do peso.

? Rejeitei na hora, a chamei de maluca. Aquilo ali não era pra mim. Mas um dia fui ver como era, e tudo mudou. Comecei a pegar as coisas muito rápido e o peso começou a baixar. Fazia coisas que os meninos que treinavam há tempos não conseguiam ? recorda.

Capacidade questionada

Invicta nas três lutas como profissional, todas pelo Boxing For You, a soteropolitana somou mais de 200 embates como amadora, com apenas 12 derrotas. Pitbull tem 12 títulos brasileiros e oito pan-americanos, além de participações em cinco Mundiais, duas Olimpíadas e uma edição do Pan.

Mas construir tal currículo nunca foi fácil para a dona da 100ª medalha do Brasil em Olimpíadas. Desde os primeiros golpes, os obstáculos têm sido diversos para Adriana. Como o sexismo:

 

:

Adriana Araujo e a medalha olímpica conquistada em Londres Foto: Reprodução/Instagram
Adriana Araujo e a medalha olímpica conquistada em Londres Foto: Reprodução/Instagram

? Ele ainda é muito forte no esporte em geral. Infelizmente no boxe não é diferente. Há uma diferença que vai desde a estrutura ao investimento nos atletas. Os homens são o centro das atenções, sendo beneficiados durante os treinamentos.

Adriana tem duas irmãs e um irmão, nenhum dos três no boxe. Os pais já são falecidos. Na busca por um lugar ao sol, ela já ouviu de tudo na vida:

? No início, meu próprio colega de treinamento dizia que ali não era o meu lugar, que eu deveria fazer serviços domésticos. Duvidava da minha capacidade. Era discriminada também por pessoas que me criticavam por praticar o boxe

.

Ver essa foto no Instagram

Faltam dois dias!

Uma publicação compartilhada por ADRIANA ARAÚJO ?? (@adriana_araujoboxe) em

Porém nada disso importa agora. Adriana está focada na luta de hoje. Tanto que, por ora, o sonho maior do título mundial está em segundo plano:

? Vivo cada momento no seu tempo, e as minhas energias estão direcionadas a este evento. A possibilidade de disputar o cinturão é um combustível a mais para buscar essa vitória.

Fonte: O Globo


Comente