Existe um padrão na construção das defesas dos principais times do Campeonato Brasileiro: a ideia de que uma boa dupla de zaga pede alguém com sotaque estrangeiro. Nove das 20 equipes da primeira divisão apostam em um jogador vindo de fora do país para compor o setor.
LEIA TAMBÉM: Outro lado do clube-empresa: Na Inglaterra, torcidas vivem crise
Na competição deste ano, a estratégia tem funcionado. Dos primeiros colocados ? Santos, Palmeiras, Flamengo, Atlético-MG, São Paulo e Internacional ?, apenas o Galo não tem um zagueiro gringo como titular. Aguilar (Santos), Gomez (Palmeiras), Marí (Flamengo), Arboleda (São Paulo) e Cuesta (Internacional) são representantes da legião estrangeira que joga nas defesas da Série A.
LEIA MAIS: Sevilla ensina a contratar sem ser rico: Daniel Alves é uma prova
Quem mais jogou, porém, não está no topo da tabela. É um zagueiro colombiano quem mais acumula partidas no Brasileirão. Quintero, do Fortaleza, é homem de confiança do técnico Rogério Ceni, atuou nas 13 partidas possíveis na competição. Completam a lista dos nove zagueiros titulares Carli, do Botafogo, Henríquez, do Vasco, e Kannemann, do Grêmio.
Para dois especialistas na posição, os ex-zagueiros Ricardo Rocha e Edinho, a presença dos zagueiros vindos de fora reforça a ideia de que existe uma fragilidade nas opções que emergem das categorias de base.
? Isso é um reflexo da carência dos clubes e de uma deficiência nossa na formação de zagueiros, e aí as equipes acabam buscando alternativas em outros mercados. Além disso, há um êxodo muito precoce de zagueiros que se destacam cedo. Antes, os clubes europeus buscavam, principalmente, atacantes e meias no Brasil. Hoje, volantes, zagueiros e goleiros saem quase na mesma proporção ? analisou Rocha, campeão do mundo com a seleção brasileira em 1994.
Número repetido
Edinho, zagueiro do Brasil nas Copas de 1978, 1982 e 1986, também tem ressalvas à formação atual:
? Zagueiro é uma posição que exige um treinamento específico, e não temos isso hoje no Brasil. Como resultado, nossos zagueiros sobem para o profissional com defeitos. Mesmo os que se destacam aqui e são vendidos completam cerca de 40% de seu aprimoramento na Europa, aprendendo em escolas onde existe uma cultura defensiva maior.
Atualmente a seleção brasileira enfrenta uma entressafra. Na Copa América, os jovens Marquinhos (25) e Militão (21) tiveram a companhia dos veteranos Thiago Silva e Miranda, ambos com 34 anos. Com uma leva de zagueiros não tão talentosa na praça, os clubes recorrem aos estrangeiros, fenômeno que se repete na mesma proporção desde 2016.
Naquele ano, dez atuaram: Balbuena, Erazo, Carli, Lugano, Kannemann, Benitez, Mina, Nogueira, Henríquez e Donatti .
Em 2017, foram de novo dez: Balbuena, Carli, Henríquez, Arboleda, Kannemann, Mina, Nogueira, Caicedo, Lugano e Erazo.
Já em 2018, o número caiu para nove: Cuesta, Carli, Arboleda, Kannemann, Gómez, Balbuena, Bareiro, Henríquez e Erazo .
Este ano, além dos nove que são titulares de suas equipes no Brasileiro, há o uruguaio Méndez, reserva do técnico Fábio Carille no Corinthians. Ele disputou até agora duas partidas.
Fonte: O Globo