Janeiro de 2018. Após longas conversas com o Liverpool para convencer o clube inglês a liberá-lo, Philippe Coutinho enfim concretiza a mudança para Barcelona. Parte do convencimento, aliás, foram os ?160 milhões pagos pelo clube catalão e que o tornavam, à época, o segundo jogador mais caro da história.
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Pouco mais de um ano e meio depois, as cores que Coutinho vestirá na temporada europeia que está prestes a começar são um mistério. E a associação de seu nome a seguidos rumores é o retrato de uma temporada abaixo do esperado. Faltam 48 horas para o fechamento da janela de registros no futebol inglês, o primeiro a encerrar o período de contratações. E, a esta altura, um empréstimo para um clube da Premier League é uma opção do Barcelona. Descartado o Arsenal, surge o Tottenham como destino possível. O negócio teria que ser fechado até amanhã. A provável saída do dinamarquês Eriksen seria o passo final para criar condições ideais para a chegada de Coutinho ao time do técnico argentino Mauricio Pochettino.
Dilema tático
Tal movimento no mercado é reflexo do momento de Coutinho: a temporada 2019/2020 representará uma busca por reencontrar seu melhor jogo, e o meia de 27 anos não vê com maus olhos uma negociação. Sob o ponto de vista do Barcelona, o sinal é de que a saída do brasileiro é uma das condições para que a eventual chegada de Neymar não leve o clube a violar o Fair Play Financeiro, conjunto de normas que limita prejuízos dos clubes europeus numa temporada.
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Ainda que Coutinho não seja vendido, sua saída aliviaria a folha salarial dos catalães. Seria preciso, ainda, selar outras saídas, como a do croata Rakitic. Superadas estas questões, o Barcelona teria via livre para fechar com o PSG a volta de Neymar. Exceção feita à Inglaterra, as principais ligas europeias têm janelas abertas até o dia 2 de setembro.
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A sensação, hoje, é de que nem o Barcelona teve o Coutinho que esperava, nem Coutinho teve na Catalunha a adaptação natural que imaginava. Não que tenha fracassado. Coutinho chegou no meio da temporada 2017-2018 e fez dez gols em 22 jogos. No último ano, somou 11 gols em 54 partidas. A sensação de frustração talvez tenha se construído a partir de uma expectativa irreal.
A apresentação do brasileiro em Barcelona coincidiu com os últimos meses de Iniesta na Catalunha. E Robert Fernandez, então secretário técnico no Camp Nou, anunciou que o meia era a aposta para substituir o craque que viveria no Japão a etapa final de sua carreira. Ocorre que Coutinho não é Iniesta, seja por história, simbolismo no clube e até por característica.
De início, a tentativa foi posicioná-lo no 4-3-3 do Barcelona como um dos dois meias à frente de Busquets, mais à esquerda, na posição de Iniesta. A dificuldade, similar à que Tite enfrenta na seleção brasileira para adaptar Coutinho na função, foi sentida. Primeiro, pela dificuldade física de cobrir grandes porções do campo, além de criar um desequilíbrio defensivo. E o brasileiro não é exatamente um organizador de jogo, mas um meia-atacante que gosta de atuar próximo da área.
(O vídeo acima é um conteúdo produzido por Dugout)
Restariam duas opções. Uma delas, ser um meia ofensivo centralizado, por trás do centroavante. Esta função, no entanto, não existe no Barcelona. A zona perto da área é ocupada por Messi, que parte do lado direito do ataque e tem liberdade total para se mover.
Coutinho, então, foi colocado na ponta esquerda, outra posição em que se sente bem. De lá, pode trazer a bola para o centro e finalizar ou buscar o último passe. Mas nem sempre era simples coordenar a ocupação de espaço com o movimento de Messi. O argentino, aliás, em geral se movia da direita para a esquerda buscando a combinação com Jordi Alba, o lateral que ultrapassava em velocidade. Coutinho tinha dificuldade de achar seu espaço.
Perda de confiança
Além disso, com Messi pela direita e Coutinho na esquerda, faltava profundidade ao time. Aos poucos, Dembélé, com característica de ponta, ganhou espaço. Para o meio-campo, o clube contratou o brasileiro Arthur e o chileno Vidal. E, agora, levou o holandês De Jong. Para o ataque, Griezmann acaba de chegar e tornar a concorrência ainda maior.
Mas nem tudo era tático. A dificuldade fez Coutinho perder confiança e forma técnica. Ouviu vaias do Camp Nou e até fez um gesto polêmico, tapando os ouvidos após um gol sobre o Manchester United.
No clube, houve quem entendesse que tanto Coutinho quanto Messi são jogadores de características especiais e que demandam adaptações táticas. E é natural que estas se voltem prioritariamente para o argentino. Até amanhã, Coutinho pode selar a volta à Premier League. Caso contrário, terá mais três semanas para definir onde buscará seu melhor futebol.
Fonte: O Globo