Pouco menos que cinco meses separam os enterros de Eurico Miranda e Antônio Soares Calçada. Na mesma cidade, no mesmo cemitério, sob os olhos da mesma torcida. Mas com diferenças que retratam na morte o que os dois maiores dirigentes da história do Vasco foram em vida. Figuras opostas que, juntas, trouxeram para o clube suas conquistas mais valiosas. Ainda assim, opostas.
Eurico Miranda era a guerra, e como toda guerra, desperta paixões. Cerca de 200 pessoas marcaram presença no enterro do ex-dirigente no cemitério São João Batista, dia 13 de março. Políticos, membros de torcidas organizadas, uma penca de conselheiros e figuras conhecidas da política do clube. Atletas do remo caminharam à frente do caixão.
O grito “Casaca” foi entoado três vezes, a plenos pulmões, numa sincronia de canto e movimentos com o braço quase marcial. No céu cinzento, nuvens de chuva geraram trovões bem no momento em que seu caixão era içado para baixo rumo ao túmulo, uma coincidência que fez com que os presentes logo zombassem, “mal chegou lá em cima e já está arrumando confusão”.
No de Calçada, não. O presidente era paz. E onde há paz, há serenidade. O grito de “Casaca” saiu aos 45 minutos do segundo tempo. Nem Alexandre Campello, presidente, nem Julio Brant, que Calçada apoiou na última eleição, tiveram a iniciativa de fazer a homenagem, diante de cerca de 50 pessoas, entre parentes e alguns nomes mais antigos da política do clube. Coube a um senhor, aparentemente desconhecido, pedir a palavra e puxar o “Ao Vasco, nada? Tudo”.
No fim, dona Marlene, a viúva, esticou a mão em agradecimento. Na outra ela trazia a bandeira do Vasco. Parecia esperar já ansiosa a hora em que o presidente mais vencedor da história do clube seria homenageado por mais do que uma salva de palmas protocolar. Depois disso, veio o silêncio. Dona Marlene mostrou zelo com a coroa de flores sobre o caixão de Calçada enquanto que o sol do inverno carioca iluminava o lugar.
Gestores diferentes
Eurico e Calçada, juntos, foram vitoriosos, venceram quase tudo que o futebol permitia. Separados, tiveram desempenhos distintos como presidentes. Eurico, fisioterapeuta e advogado, conhecido na sua biografia por não seguir os passos do pai, dono de uma padaria na Urca, improvisava no trato com os funcionários. Quando atrasava o salário, distribuía vales para que pudessem comprar mantimentos até que o pagamento fosse regularizado. Calçada era diferente. Único empresário presidente do Vasco desde 1983, guiava o clube com a mesma rigidez com que lidava com os números movimentados pela sua empresa de distribuição de carnes e frangos.
Calçada fazia jogo duro quando era instigado a aumentar o quadro de funcionários e era conhecido por dar aumento somente quando sofria pressão sindical. Condicionava a folha salarial do Vasco à receita gerada pelo clube social. Com isso, o atraso no pagamento dos funcionários era raro. Os gastos do departamento de futebol eram vinculados à receita gerada por outras fontes – patrocínio, premiações, negociações de jogadores.
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Fonte: O Globo