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Brasileira termina maratona do Pan, mas é quase eliminada por falha no chip



LIMA ? Em meio a toda a emoção da torcida peruana pela conquista da medalha de ouro pan-americana da maratonista Gladys Tejeda, uma cena comoveu a imprensa na área de entrevistas. A brasileira Andréia Hessel se sentou no chão e começou a chorar. Não foram apenas algumas poucas lágrimas. A atleta permaneceu naquela condição durante cerca de dez minutos. Foi consolada por um membro de delegação. Depois, por outro. Em alguns instantes, mesmo a imprensa estrangeira estava interessada pela cena.

? Foi uma mistura de tudo. Mas na maior parte foi de alegria por ter completado bem a prova. Tenho certeza de que dei o meu melhor para representar o país. E essa emoção toda é por saber que tem muita gente no Brasil torcendo por mim. Amigos e, principalmente, familiares. Infelizmente, não conseguimos a medalha. Este é o lado triste. Mas a emoção de representar o país é muito grande ? explicou brasileira:

? Passou um flash de toda a minha família. Os momentos que tive que abdicar em prol do esporte. Como o dias das mães, festas em que não estive. Agora vou conseguir passar o dia dos pais com meu pai.

Em Lima, Andréia cruzou a linha de chegada com o oitavo melhor tempo (2h35m40), duas posições atrás da outra brasileira da prova, Valdilene Silva (2h34m20). A prova foi vencida pela peruana Gladys Tejeda (2h30m55). De fato, não parecia abatida por ter terminado fora do pódio. A sensação de dever cumprido por ter concluído os 42km se sobressaiu. Só que seu drama estava apenas no começo.

Andréia Hessel chora após concluir a maratona em oitavo Foto: Rafael Oliveira
Andréia Hessel chora após concluir a maratona em oitavo Foto: Rafael Oliveira

Assim que a organização da prova divulgou os resultados oficiais, o nome de Andreia não aparecia na oitava colocação. Na verdade, o resultado oficial dizia que ela havia não havia concluído a prova, justamente aquele que fora seu maior orgulho.

Ao se dar conta do episódio, o chefe de equipe do atletismo, Aderson Rosa, procurou os responsáveis pelos resultados oficiais. Ninguém soube lhe responder. Para eles, de fato a brasileira não cruzara a linha de chegada. Em que pese todos terem presenciado seu momento de tanta alegria.

A partir daí, teve início uma verdadeira mobilização entre os organizadores da prova para descobrir o que ocorreu. Checaram os registros de vídeo e, de fato, puderam comprovar que Andreia fora a oitava a completar a prova. Em busca de respostas, começaram a discutir entre si. Após mais de duas horas de debates, o chefe de equipe ouviu dos peruanos que tudo estava resolvido: Andreia de fato obteve o oitavo melhor tempo.

? Houve uma falha no chip. Mas fizeram o controle manual e descobriram. São coisas que acontecem. O importante é que o tempo dela valeu ? contou Rosa.

Enquanto isso, Andreia parecia a mesma. Seu semblante de tranquilidade não mudara ao ser informada do que ocorreu. Estava certa de que havia feito sua parte. Católica, é bastante apegada a religião, que usa como força motora, além da família. No ano passado, foi a atleta do Pinheiros-SP que acabou com um jejum de oito anos sem vitórias de mulheres na Maratona Internacional de São Paulo.

Em março, em Nagoya (JAP), chegou a fazer um tempo de 2h34m55 que , se repetido neste sábado, teria lhe dado o ouro e o recorde pan-americano. Mas isso não parecia incomodá-la tanto quanto a distância da família:

? A família faz falta, mas sei que sempre estiveram torcendo por mim. E é por isso que me mantenho firme pra concretizar todos estes sonhos.

*O repórter viajou a convite da Promperú

Fonte: O Globo


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