Daqui a exatamente um ano, Tóquio vai celebrar um dos maiores eventos esportivos do mundo: os Jogos Olímpicos. Classificar o maior número de atletas e modalidades é a meta do Comitê Olímpico do Brasil (COB), que estima ter uma delegação entre 250 e 300 esportistas e evita falar em previsão de medalhas.
Ao mesmo tempo em que vagas ainda estão em disputa ? Pan-Americano de Lima, que começa na sexta-feira, Mundiais e Pré-Olímpicos ?, o Brasil precisa lidar com um problema alarmante: o doping. Nos últimos 12 meses, dez atletas foram flagrados em exames. O caso mais recente é o da tenista Beatriz Haddad, de 23 anos, suspensa provisoriamente ontem pela Federação Internacional de Tênis (ITF) por uso do anabolizante Sarm, proibido pela Agência Mundial Antidoping (Wada).
O nadador Gabriel Santos também entrou para a estatística. Titular do revezamento 4x100m livre do Brasil (que, no Mundial de 2017, conquistou uma inédita medalha de prata), ele foi pego pelo anabólico clostebol, também proibido pela Wada. Inicialmente, recebeu uma punição de oito meses e, na segunda-feira, viu sua pena aumentar para um ano. Ainda é possível recorrer, mas, hoje, o atleta estaria fora dos Jogos de Tóquio.
? Independentemente do dolo e da culpa, o processo de análise identificou a presença de algo nos exames destes atletas. Eu não vejo culpa, vejo um erro. E o erro leva a algum tipo de punição, a um julgamento e a penalização ? afirma o diretor de esportes do COB, Jorge Bichara. ?Minhas preocupações são inúmeras, e o doping se encontra nesta lista. Se houve imprudência ou contaminação, a nossa tolerância ao doping é zero.
Vagas em 5 modalidades
Para o COB, o processo para definir as análises, as defesas e os julgamentos é longo demais e muito prejudicial à preparação dos atletas e das equipes, principalmente a um ano dos Jogos. Na visão da entidade, isso atrapalha o planejamento e até mesmo o tempo para recuperar o que foi perdido, o que, em muitos casos, pode nem acontecer.
Na opinião de Bichara Neto, advogado especialista em doping, uma das explicações por trás do alarmante número de casos entre atletas é o maior rigor, precisão e periodicidade dos exames. Segundo ele, também falta orientação.
? O Gabriel (Santos), por exemplo, usou uma toalha do irmão, e uma quantidade mínima de clostebol foi encontrada no organismo dele. A própria FINA (Federação Internacional de esportes aquáticos) entendeu que ele teve culpa mínima no caso, pois a pena poderia ser de até quatro anos ? explica o advogado. ? Por outro lado, aqui no Brasil, há pouco investimento em educação antidopagem, e muitos atletas acabam tendo contato com substâncias proibidas sem sequer saberem que estão fazendo isso.
Os casos de doping não são as únicas preocupações do COB para os Jogos. A seleção feminina de futebol, por exemplo, está sem técnico, já que Vadão foi demitido na segunda-feira. A equipe foi a primeira a conquistar uma vaga para Tóquio, na Copa América de 2018.
? Temos total confiança na CBF, mas obviamente a situação preocupa a gente, e muito mais a eles. A seleção está classificada, demonstrou que tem potencial, mas precisa treinar e disputar competições ? diz Jorge Bichara.
Mas é o tiro com arco quem mais sofreu com problemas de comando. Após a demissão de Evandro Azevedo, em outubro de 2016, a equipe ficou dois anos e sete meses sem treinador, até o cubano Jorge Luis Carrasco ser contratado, em maio deste ano. Dos quatro anos do ciclo olímpico, mais da metade foi sem um técnico. Segundo o COB, a modalidade passou por um processo complicado, “com problemas e muita demora para resolver?.
Até o momento, o país tem vagas asseguradas no rúgbi de 7 feminino, na vela (Laser masculina, 49er FX , Nacra 17 e Finn), maratona aquática feminina e natação (revezamento 4x100m livre masculino).
Fonte: O Globo