A CBF demorou um mês para tomar a primeira decisão desde a derrota para a França, que eliminou a seleção brasileira nas oitavas de final da Copa do Mundo feminina. Ontem, a entidade demitiu o técnico Vadão, mas ainda não anunciou outro nome para seu lugar. A mais cotada é a sueca Pia Sundhage, bicampeã olímpica com os Estados Unidos.
A pouco mais de um ano dos Jogos Olímpicos de Tóquio, no entanto, ainda não se sabe se o comando do futebol feminino terá mudanças, e qual será o caminho a seguir. O coordenador Marco Aurélio Cunha, que divide opiniões entre as jogadoras, no cargo até segunda ordem. Os próximos compromissos da seleção serão em setembro, mas ainda não há adversários definidos.
A morosidade da CBF chama atenção. A base feminina está sem técnico há meses. Na sub-20, Doriva Bueno foi demitido em setembro de 2018; na sub-17, Luizão deixou o cargo após o Mundial, no fim do ano passado.
O momento, segundo quem trabalha na área, não pode ser mais uma vez desperdiçado. O ciclo não é novo, infelizmente. O Brasil vai mal no Mundial ou na Olimpíada, as jogadoras reclamam cobrando mais investimentos, a CBF promete mudanças, mas pouco é feito na estrutura a longo prazo. Até agora, a maior vitória delas foi o aumento da premiação pela Copa: a entidade triplicou o valor e vai pagar R$ 120 mil para cada atleta.
Problemas no Brasileirão
Em 2016, depois da derrota para a Suécia de Pia, na semifinal olímpica, um grupo de ex-jogadoras e especialistas se reuniu e estabeleceu algumas metas para o fomento da modalidade no país. O trabalho foi entregue à CBF, mas pouco foi feito: tanto na seleção, que teve racha após a saída da técnica Emily Lima, em 2017 ? Vadão foi reconduzido ao cargo sem um plano a longo prazo e chegou à Copa com nove derrotas seguidas ?, quanto no âmbito dos clubes e da formação.
Depois da imensa visibilidade da Copa, as jogadoras não se calaram e problemas foram expostos nas redes. A começar pelas condições precárias de clubes como o Sport, que virou saco de pancadas no Brasileirão. O time treina apenas três vezes por semana num gramado sem marcações e com grama que cobre as pernas das jogadoras. Outro ponto atacado pelas atletas foram as logísticas mal feitas, como a que permitiu que o time do Santos chegasse ao hotel em Manaus e não encontrasse reserva.
?O futebol de mulheres ainda precisa de muito investimento. Não dá mais para considerar gasto, não dá mais para dizer que não tem interesse. A Copa do Mundo mostrou a quantidade de espectadores nos jogos ? diz Silvana Goelnner, professora titular da UFRGS e pesquisadora sobre mulheres e esporte, que também participou do grupo de trabalho em 2016.
Em nota, a entidade disse que em “relação às Seleções Brasileiras Femininas, a CBF está trabalhando, internamente, e planejando os próximos passos. Assim que houver uma definição, vamos comunicar?.
Fonte: O Globo