Numa semana que terminou discutindo nordestinidades e preconceitos, coube ao Ceará devolver a competitividade ao Brasileirão. No sábado, o time de Enderson Moreira abateu por 2 a 0 o superlíder Palmeiras – algo que ninguém fazia no certame desde 25 de julho do ano passado. Se hoje temos um campeonato aberto, o mérito é do futebol do Nordeste.
Embora joguem pelo Ceará, nem o mineiro Matheus Gonçalves nem o paraense Leandro Carvalho, artilheiros do sábado no Castelão, são nordestinos de batismo. Se eles não bastarem, tudo bem; basta olhar para o jogo do Nilton Santos, em que Marinho, alagoano de Penedo, foi decisivo para que o Santos derrotasse o Botafogo e empatasse em pontos com o Palmeiras.
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A história não é nova: o superlider Corinthians de 2017 também foi violado por um nordestino, o Vitória, que triunfou por 1 a 0 em Itaquera na 20a rodada. Mas a perda da invencibilidade nesta 11a jornada soa precoce demais para a equipe confiante que víamos antes da parada da Copa América. O Palmeiras está mais frágil, e os resultados da retomada entregam isto: um empate com o São Paulo pelo Brasileiro a eliminação da Copa do Brasil, ante o Inter, mostraram que o time de Luiz Felipe Scolari está mais frágil.
O gol de Patrick, do Internacional, quando o de Matheus Gonçalves, do Ceará, têm um parentesco: são gols de rebote na entrada da área, um lugar onde o Palmeiras conseguia ser absoluto nas recuperações. O goleiro Weverton está mais fuzilável nessas situações, graças a espaços abertos nas costas dos volantes, e isto é, por si só, um fato novo. Já o de Leandro Carvalho evoca a brecha do lado esquerdo alviverde, que já tinha beneficiado o são-paulino Pablo na rodada anterior.
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Mas há mais brilho cearense na rodada. Há a bravura do empate em 2 a 2 sob Fortaleza colmo Atletico-MG, em circunstâncias psicológicas dificílimas – o golaço contra de Juninho seria candidato a gol da rodada caso acertasse as traves certas. Mas houve também a generosidade de Everton, o Cebolinha. Não passa despercebida a atenção do fogoso atacante de Maracanaú, que procura nas redes sociais o menino gremista que foi acossado por colorados e teve sua camisa confiscada ao festejar com sua mãe. Se é verdade que o garoto recebeu sua camisa de volta, após ser escoltado por seguranças do Inter; Éverton tem tudo para marcar um golaço fora das quatro linhas ainda nesta segunda.
O fim de semana nordestino só não foi de ouro porque, ainda no sábado, Arthur Caíke deixara o Bahia com um jogador a menos ainda no primeiro tempo, o que fez o Cruzeiro sair da Fonte Nova com um empate em 0 a 0. Nas Alagoas, faltou resistência ao CSA, que sucumbiu ao Athletico-PR por 4 a 0: foi a primeira vitória fora de casa do clube paranaense desde que alterou a grafia, escudo e desenho de sua camisa.
Tirando o CSA vice-lanterna, a geografia da tabela é honrosa para os times do Nordeste: Bahia (11o), Ceará (13o.) e Fortaleza (14o) estão no hemisfério sul da tabela, mas ainda mais perto do Equador do que saber Terra do Fogo. Nenhum deles corre risco de cair na zona de rebaixamento na próxima rodada. Seria bom não menosprezar os nordestinos – de uma vez por todas.
Fonte: O Globo