E no fim das contas,a seleção que, a cada fim de ciclo mergulha na paranoia de que o país parou de produzir talentos, venceu a Copa América com mais de meio time que, em 2022, no Qatar, terá no máximo 31 anos.
Venceu, é verdade, regida por um brilhante Daniel Alves, do alto de seus 36 anos. Mas com uma demonstração de personalidade e agressividade de Gabriel Jesus, que tem só 22. Venceu porque, quando o Peru ameaçava dominar o meio-campo, Arthur, também de 22, teve momentos imperiais de controle e inteligência. Venceu porque Éverton combinou ousadia e instantes de rebeldia aos 23 anos.E venceu com um sistema defensivo sólido, que tem em Marquinhos, 25, um de seus pilares.
E venceu não porque “se livrou de Neymar?, mas apesar de sua ausência. Havia uma narrativa pronta que merece ser logo desmontada: é justo dizer que a seleção tenha ficado menos vulnerável a fatores externos diante da situações vividas recentemente pelo astro. Mas, com Neymar, qualquer time do mundo tende a ser melhor.
Gabriel Jesus abre os braços para comemorar o segundo gol do Brasil sobre o Peru Foto: Guito Moreto / Guito MoretoRicharlison beija a camisa ao fazer o terceiro gol do Brasil Foto: Guito Moreto / Guito MoretoPhilippe Coutinho, do Brasil, disputa bola com o peruano Renato Tapia Foto: UESLEI MARCELINO / REUTERSA seleção brasileira durante a execução do Hino Nacional Brasileiro minutos antes do início da partida Foto: PILAR OLIVARES / REUTERSLuis Advincula, do Peru, e Everton numa disputa de bola durante a final da Copa América de Futebol no estádio do Maracanã Foto: PEDRO UGARTE / AFP
Gabriel Jesus e o peruano Yoshimar Yotun Foto: RAUL ARBOLEDA / AFPO técnico da seleção brasileira, Tite, orienta jogadores à beira do gramado no Maracanã Foto: UESLEI MARCELINO / REUTERSRicardo Gareca, técnico do Peru, grita e gesticula à beira do gramado para orientar sua equipe Foto: UESLEI MARCELINO / REUTERSEverton abre o placar da partida e corre para comemorar com companheiros de equipe Foto: SERGIO MORAES / REUTERSJogadores brasileiros comemoram primeiro gol da partida Foto: CARL DE SOUZA / AFP
O peruano Paolo Guerrero enfrenta a marcação de Marquinhos Foto: HENRY ROMERO / REUTERSO goleiro peruano, Pedro Gallese, gesticula para companheiros de equipe durante a partida final da Copa América Foto: PEDRO UGARTE / AFPEdison Flores, do Peru, e Alex Sandro, do Brasil, disputam a bola durante o primeiro tempo Foto: PEDRO UGARTE / AFPGabriel Jesus domina bola diante do peruano Miguel Trauco Foto: LUISA GONZALEZ / REUTERSPaolo Guerrero cobra pênalti a favor da seleção peruana e marca seu primeiro gol na partida Foto: PILAR OLIVARES / REUTERS
Guerrero comemora gol de pênalti com Andre Carrillo Foto: HENRY ROMERO / REUTERSO goleiro Pedro Gallese celebra gol da seleção do Peru Foto: UESLEI MARCELINO / REUTERSRoberto Firmino passa pela marcação do peruano Miguel Trauco Foto: UESLEI MARCELINO / REUTERSGabriel Jesus recebe cartão amarelo do árbitro chileno Roberto Tobar Foto: PEDRO UGARTE / AFPThiago Silva em disputa de bola com Paolo Guerrero Foto: SERGIO MORAES / REUTERS
Andre Carrillo e Daniel Alves disputam a posse de bola durante primeiro tempo da partida entre Brasil e Peru Foto: JUAN MABROMATA / AFPGabriel Jesus chuta para marcar o segundo gol do Brasil, ainda no primeiro tempo Foto: UESLEI MARCELINO / REUTERSGabriel Jesus comemora seu primeiro gol na final da Copa América contra o Peru Foto: LUISA GONZALEZ / REUTERS
Nada disso pretende sugerir que o Brasil tem um time pronto para um Mundial de 2022, ou que não há problemas a enfrentar, porque há, em especial ao atacar. Pondera-se, sim, que há um caminho e há talentos. Um ano após a Copa, o Brasil ganha um título com seis titulares diferentes.
A Copa América é hoje um torneio de exigência técnica insuficiente como parâmetro para duelos com as maiores forças do planeta. Mas um ciclo se inicia. Então, é momento de ter projeto, manter treinador e trabalhar. Pode haver menos extraclasses do que em outros momentos, mas sobram jogadores de elite.
E futuro à parte, finais como a de ontem são um fim em si mesmas. E o Brasil que vem de traumas precisa de noites assim: Maracanã cheio e final feliz, sem frustrações. Estas se tornaram quase insuportáveis para o futebol brasileiro. Por vezes, o que se evita é tão importante quanto o que se conquista.
Por pouco a torcida não se impacientou, é claro, porque a final não foi fácil. E porque vivemos um eterno conflito entre realidade e fantasia. Nunca fomos colecionadores de Copa América, mas criamos a fantasia de que, no passado, a seleção sempre encantou. Se assim fosse, não seria parte do anedotário nacional a longa lista de vaias à equipe.
O jogo mostrou virtudes e estabeleceu uma agenda para o futuro. O Peru apostou novamente na marcação adiantada e incomodava o Brasil. Em jogos de imposição física, o meio-campo brasileiro tende a sofrer para retomar a bola, porque Coutinho participa pouco. Sua posição é um tema a rever.
A agenda para 2022
O controle retorna graças a dois fatores. Primeiro, o trio Marquinhos-Thiago Silva-Casemiro sufocou Guerrero, que faz o ataque do Peru funcionar. A seleção de Tite se defende muito bem.
O outro, Arthur começou a ditar o ritmo e controlar a bola. Para completar, veio o gol que deve ter dado prazer especial a Tite. É questionável se Gabriel Jesus oferece seu melhor recebendo tantas bolas preso à ponta. Mas foi por ali que fez a grande jogada para servir Everton.
Torcedores do Brasil e do Peru posam juntos para foto no entorno do estádio do Maracanã, Rio de Janeiro, antes da partida final da Copa Amércia Foto: CARL DE SOUZA / AFPTorcida dentro do estádio Maracanã, horas antes da partida entre Brasil e Peru, pela final da Copa América Foto: Guito Moreto / Agência O GloboTorcedor do Brasil Foto: Guito Moreto / Agência O GloboTorcedores no Maracanã momentos antes da partida final da Copa América Foto: LUISA GONZALEZ / REUTERSTorcedores no Maracanã, momentos antes do início da partida entre Brasil e Peru, pela final da Copa América de Futebol Foto: Guito Moreto / Agência O Globo
Torcedores no Maracanã, momentos antes do início da partida entre Brasil e Peru, pela final da Copa América de Futebol Foto: LUISA GONZALEZ / REUTERSTorcedores brasileiros nos arredores do Maracanã, antes do início da partida final da Copa América entre Brasil e Peru Foto: RICARDO MORAES / REUTERSTorcedor peruano mostra sua paixão pela seleção Foto: LUISA GONZALEZ / REUTERSTorcedores no Maracanã, momentos antes do início da partida entre Brasil e Peru, pela final da Copa América de Futebol Foto: RAUL ARBOLEDA / AFPOpostos apaixonados. Casal de torcedores se beija antes do início da partida final da Copa América entre Brasil e Peru, no Maracanã Foto: LUIS ACOSTA / AFP
Pequena torcedora do Brasil segura bandeira nacional enquanto aguarda o início da partida final da Copa América no estádio do Maracanã Foto: LUIS ACOSTA / AFPTorcedor peruano no Maracanã, pouco antes da final da Copa América Foto: LUIS ACOSTA / AFPTorcedores no Maracanã, momentos antes do início da partida entre Brasil e Peru, pela final da Copa América de Futebol Foto: UESLEI MARCELINO / REUTERSTorcedores no Maracanã, momentos antes do início da partida entre Brasil e Peru, pela final da Copa América de Futebol Foto: Guito Moreto / Agência O GloboTorcedores do Peru no Maracanã momentos antes da final da Copa América de Futebol Foto: HENRY ROMERO / REUTERS
O domínio tático do jogo era total quando o Peru empatou em pênalti mal marcado, cobrado por Guerrero ? Thiago Silva usou o braço para se apoiar no chão, e a regra o exime da falta. Mas o Brasil chutava pouco, o que revela outro desafio a enfrentar: falta fluência para atacar rivais posicionados atrás, talvez porque o modelo atual permite menos liberdade de movimentos. E o momento ruim de Coutinho o torna ansioso, impreciso. Por sorte, um desarme de Firmino, um grande lance de Arthur e o gol de Jesus recolocaram logo o Brasil à frente.
Outro ponto positivo deste time é o contragolpe. Parecia pronto para matar o jogo quando Jesus foi expulso em decisão rigorosa. Começava ali um jogo de resistência, bem resolvido com a entrada de Militão, passando Daniel Alves para a ponta. Até que um pênalti duvidoso, cobrado por Richarlison, liquidou a fatura.
Há desafios para 2022. Mais do que achar laterais, pode ser preciso: substituir um Daniel Alves que se tornou um dos principais armadores do time; definir o papel de Neymar, se pelo lado ou mais central, como no PSG; melhorar a forma de atacar rivais fechados; observar jovens como Vinícius Júnior, Rodrygo, Paquetá… Não é pouco, mas é melhor fazê-lo com uma taça ganha do que com outra frustração.