É verdade que a presença do Peru na decisão da Copa América frustrou alguns torcedores. Dos quatro semifinalistas, os peruanos eram os menos badalados. Mas, ainda que não tenha o mesmo apelo dos clássicos sul-americanos, o confronto é rico em rivalidade. A história em comum entre brasileiros e andinos no futebol é marcada por polêmicas e personagens. E o confronto neste domingo, às 17h, no Maracanã, pode ser seu ponto alto.
Separados por mais de quatro décadas, dois nomes em especial unem o futebol dos dois países em séculos diferentes: Didi e Paolo Guerrero. Bicampeão mundial pelo Brasil (1958 e 1962), o meia brasileiro se transferiu, no auge, para o Sporting Cristal, do Peru. Lá, foi técnico e jogador. Não conquistou títulos, mas deixou as portas abertas para uma nova e vitoriosa passagem em 1969, só como treinador.
Neste ano, o título nacional pelo Sporting foi o caminho para assumir a seleção peruana e apresentá-la ao mundo em 1970, com a classificação para a primeira Copa desde 1930. Algo parecido com o que fez o argentino Ricardo Gareca, atual treinador, que ano passado fez a seleção peruana volta a um Mundial após 36 anos. Não por acaso, ontem, no treino da seleção peruana no Estádio Nilton Santos, o técnico foi presenteado com a camisa do Botafogo com o número 8 e o nome de Didi.
O artilheiro
A família de Didi não tem dúvidas de que ele é mais valorizado lá do que aqui. O que não acontece com Guerrero, maior estrela do futebol peruano atualmente, mas que entra nesta história como o líder de uma geração que fez o Peru voltar ao mapa do futebol internacional. Maior artilheiro da história da seleção, com 38 gols, o camisa 9 foi quem reaproximou brasileiros e peruanos. Com seu sucesso no Brasil, o caminho para os peruanos foi aberto: Trauco, no Flamengo; Cueva, primeiro no São Paulo e, hoje, no Santos, entre outros.
Quiroga e 1978
Nenhum consegue repetir o sucesso de Guerrero, que depois de passagens de destaque por Corinthians e Flamengo encontrou paz no Internacional para dar a volta por cima após a suspensão por doping. A imagem vencedora do atacante ajudou, antes mesmo da classificação ao Mundial na Rússia, a mudar a má percepção sobre o futebol do seu país, que vinha desde a década de 1970.
“A seleção peruana não perdeu uma simples partida de futebol. Perdeu muito mais do que isso. Perdeu o prestígio mundial, perdeu a vergonha?. Com essas palavras, o técnico do Brasil na Copa de 1978, Cláudio Coutinho, resumiu o sentimento de seus conterrâneos.
A derrota peruana por 6 a 0 para a Argentina fez deles os grandes vilões da eliminação de Zico, Roberto Dinamite & cia. Ao menos no imaginário dos brasileiros, convictos de que os peruanos entregaram o jogo para os argentinos, anfitriões daquele Mundial.
Para avançar à decisão da Copa, os donos da casa precisavam vencer por, no mínimo, quatro gols de diferença. E é aí que entra outro personagem importante na história dos dois países: Ramón Quiroga. Naturalizado peruano, o goleiro era argentino. Antes do jogo, a não utilização do arqueiro contra a seleção de seu país de origem chegou a ser discutida pelo técnico Marcos Calderón. Após o apito final, ele virou o alvo principal da ira brasileira.
Os bastidores daqueles 6 a 0 ganharam ares folclóricos. No ano passado, José Velásquez, um dos jogadores daquele time, denunciou em uma entrevista que seis ex-companheiros se venderam. Entre eles, Quiroga. Nos anos 90, o próprio goleiro reconhecera que houve venda do resultado. Mas não se incluiu entre os envolvidos.
Em 2016, nova polêmica numa eliminação do Brasil. E, desta vez, com participação direta dos peruanos. O gol de mão de Ruidíaz tirou o Brasil da Copa América Centenário, nos Estados Unidos, ainda na primeira fase. Mais do que isso: foi o estopim de uma crise que custou o cargo de Dunga e deu início à Era Tite que, assim como Guerrero, também estará, hoje, no Maracanã.
O peruano, aliás, tratou de colocar pimenta na final de hoje. Reserva do Peru, lamentar não poder repetir a malandragem dos EUA:
? Agora tem o VAR, né?
Fonte: O Globo