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'Fera enjaulada': como Guerrero deu a volta por cima após doping



Paolo Guerrero personifica a relação entre Brasil e Peru como poucos. Depois de passagens de destaque pelos dois clubes mais populares do Brasil – Corinthians e Flamengo – o centroavante encontrou a paz no Internacional para dar a volta por cima após a suspensão da Fifa por doping, e é um dos principais personagens em campo na final da Copa América, neste domingo, contra o Brasil. 

Os últimos meses da atual temporada foram de recomeço para o jogador. Com o prazo de 60 dias para o fim da punição da Fifa, Guerrero se reapresentou ao clube para os treinos em fevereiro, mas já vinha mantendo a forma com uma equipe particular, monitorado por telefone. Em seguida, deu-se início a um processo de recuperação no Parque Gigante, CT Colorado, com o acompanhamento próximo da seleção peruana.

Leia também: O que faz Trauco, do Flamengo, funcionar na seleção do Peru

O técnico Ricardo Gareca foi até Porto Alegre, conversou com o jogador, e o indagou sobre o nível de disposição para o atacante jogar novamente por seu país depois de tudo que sofreu. A suposta contaminação por um metabólito da cocaína e da folha de coca se deu na concentração da seleção peruana. Guerrero então informou que toda a polêmica seria um combustível para ele tentar fazer história no retorno à seleção, e botou a mão na massa. 

– Ele era uma fera enjaulada. Sabia que era inocente, cumpria uma punição que não era dele. O Inter entrou, fez um projeto, e a acolhida foi fundamental nesse processo – conta o diretor Rodrigo Caetano, que indicou a contratação ao clube após o Flamengo decidir não renovar o contrato com Guerrero e exigir ressarscimento da seleção peruana.

Peru's forward Paolo Guerrero waves upon arrival at a training session in Rio de Janeiro, Brazil on July 6, 2019 on the eve of the Copa America final football match against Brazil to be held at the Maracana stadium. (Photo by JUAN MABROMATA / AFP) Foto: JUAN MABROMATA / AFP
Peru's forward Paolo Guerrero waves upon arrival at a training session in Rio de Janeiro, Brazil on July 6, 2019 on the eve of the Copa America final football match against Brazil to be held at the Maracana stadium. (Photo by JUAN MABROMATA / AFP) Foto: JUAN MABROMATA / AFP

Segundo relatos de outros profissionais que acompanharam o jogador no Internacional, Paolo estava disposto a pagar o preço que precisasse para voltar a sua melhor condição. Aos 35 anos, não tinha mais tempo a perder. Por isso, iniciou treinamentos em período integral, utilizando o software de monitoramento por GPS que é usado pelo clube e pela seleção brasileira para o controle de carga.

Preparador físico do Inter, Cristiano Nunes coordenou de perto os trabalhos e atestou o profissionalismo e a vontade do camisa nove em dar a volta por cima. 

– Ele dizia que o que precisasse fazer, ele faria para voltar à melhor forma. Às vezes o nível de fadiga era grande, a gente pedia para parar, mas ele queria cumprir as séries, sabia que precisava do treino – relata, lembrando que os sorrisos eram raros.
 
O clube teve o cuidado de lançar Guerrero aos poucos nas partidas. Primeiro, apenas 45 minutos, depois 60. Mas logo no segundo jogo, o peruano atuou o tempo todo. Foram 13 partidas desde o retorno, com nove gols. Tudo acompanhado de perto pelo Peru.

 

TOPSHOT - Peru's Paolo Guerrero controls the ball over Chile's Gary Medel during their Copa America football tournament semi-final match at the Gremio Arena in Porto Alegre, Brazil, on July 3, 2019. (Photo by Carl DE SOUZA / AFP) Foto: CARL DE SOUZA / AFP
TOPSHOT – Peru's Paolo Guerrero controls the ball over Chile's Gary Medel during their Copa America football tournament semi-final match at the Gremio Arena in Porto Alegre, Brazil, on July 3, 2019. (Photo by Carl DE SOUZA / AFP) Foto: CARL DE SOUZA / AFP

Preparadores físicos da seleção peruana recebiam dados dos treinos semanais de Guerrero. Era nítido que o atacante evoluía e poderia atuar em bom nível na Copa América. Quando o Inter atuou pela Libertadores contra o Alianza Lima, a comissão técnica peruana foi ao treino pessoalmente, buscou informações e viu o avanço de perto. Em janeiro, o preparador físico Néstor Bonilla já se mostrava animado com a recuperação de olho na Copa América.

Se na parte física a evolução era constante, no aspecto emocional Guerrero esteve sempre mordido. De acordo com quem o acompanhou no clube, ele se sentia injustiçado e negava a quem quisesse ouvir que precisasse de doping para ter um bom rendimento.

– Na cabeça dele nunca precisou de nenhum agente externo. E aos 35 anos não vai ser diferente. Vai mostrar que não precisava de nada disso – conta o preparador Cristiano Nunes.

No clube, Guerrero também mantinha cuidados extracampo que o marcaram na carreira. Além da alimentação regrada, cumpria tarefas após os treinos para acelerar a recuperação. Era comum ver o atacante fazendo hora extra na banheira de gelo, na massagem, e adotando a suplementação alimentar aliada a uma boa dieta. Acolhido pelo novo clube e pelo novo grupo, se transformou rapidamente em referência também para os torcedores colorados, e voltou à seleção sem perder o status de ídolo nacional.

– Aqui ele veio em situação ruim, o Inter resolveu apostar e confiar nele, na inocência e na capacidade dele. Começou bem, fez gols, aumentou a autoestima dele para o clube e a seleção – comemora Caetano.

Guerrero tem mais dois anos de contrato com o Internacional. O futuro na seleção peruana é incerto em relação a participação na Copa do Mundo de 2022, quando o jogador estará com 38 anos. Na decisão da Copa América diante do Brasil, o centroavante tem a chance de redenção perfeita.

Fonte: O Globo


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