Enfrentar o Peru no Maracanã traz à memória da seleção brasileira um episódio sem o qual a história da amarelinha seria completamente diferente. Além disso, deixa uma pontinha de saudade em relação à eficácia dos jogadores em um atributo que consagrou muitos craques nacionais: a cobrança de falta, recurso com o qual a seleção principal não balança as redes desde setembro de 2014.
Com a famosa batida na bola que lhe rendeu a alcunha de Didi Folha Seca, em abril de 1957, no mesmo palco que abrigará a final da Copa América amanhã, o Brasil conseguiu a classificação para a Copa do Mundo de 1958 em cima do Peru. A batida clássica daquele que viria a ser chamado de “Mr. Football? por encantados estrangeiros deu a vitória à seleção por 1 a 0 no jogo pelas eliminatórias. Esse feito foi a ponte para a campanha do primeiro título mundial do Brasil, na Suécia.
Didi é personagem importante nos dois lados da final da Copa América, já que foi técnico do Peru na Copa de 1970. Ele morreu em 2001 deixando como legado a capacidade ímpar de cobrar faltas, ferramenta capaz de decidir jogos importantes, como aquele diante do Peru, e que anda esquecida.
Pela seleção, Neymar foi o último a acertar o pé dessa forma. E lá se vão quase cinco anos. O último gol foi em amistoso contra a Colômbia, no primeiro jogo após a Copa-2014, em setembro. O gol solitário do camisa 10 (36º dele na seleção) deu a vitória por 1 a 0.
Com Tite no comando, ninguém fez gol de falta ainda. O trabalho é mais focado para que as faltas rendam gols em lances de bola aérea, algo parecido com os escanteios. Com a política dos treinos fechados, é difícil mensurar o volume de treino de faltas na seleção atual. Mas os jogadores contam que isso não foi esquecido.
? Claro que estamos treinando. Uma hora a bola vai entrar. Mas não diria que é uma coisa preocupante. Claro que é uma arma forte para fazer gol, mas estamos criando outras oportunidades, gols de outras maneiras ? disse o volante Casemiro.
O camisa 5 do Brasil se coloca na lista dos que não deixaram de lado as cobranças de falta. Mas a concorrência com ele é grande. Como Neymar foi cortado antes da Copa América, Coutinho e Daniel Alves assumem a missão. Casemiro prefere entrar na disputa quando há uma batida de longa distância. Mas ninguém acertou o pé recentemente. A preocupação maior tem sido os pênaltis: o Brasil precisou deles para passar pelo Paraguai nas quartas de final.
Lembrança olímpica
Não é preciso voltar a 1957 para se lembrar de um episódio no qual a falta tenha ajudado o Brasil. Não foi com a seleção principal, mas sim com a olímpica, na conquista do ouro em 2016. Neymar abriu o placar com um chute no ângulo naquela final contra a Alemanha, decidida nos pênaltis, no mesmo Maracanã da decisão de amanhã. Uma lembrança agradável para o zagueiro Marquinhos, que estava em campo naquela partida:
?Sabemos que gol de falta é difícil de fazer. Na Olimpíada, saiu em um momento oportuno, importante para nós. Esperamos que o gol saia assim de novo.
Fonte: O Globo