BELO HORIZONTE – Nos vestiários do Barcelona, Daniel Alves recebeu um apelido que tomou para si como filosofia de vida.
– Eles viviam me chamando de louco. Eu disse que era um louco do bem.
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Foi assim que ele virou o “good crazy”. Esse cara não segue padrões. Não espere dele ser um lateral-direito trivial. Autodenominando-se dono da raça de Cafu e da qualidade de Jorginho, Dani Alves mostrou nesta terça-feira, na classificação do Brasil diante da Argentina para a final da Copa América, o quanto é valiosa a liberdade que recebeu de Tite na seleção brasileira. Do incandescente clássico disputado no Mineirão, a imagem que fica é aquela com os dribles espetaculares de Dani Alves na jogada do primeiro gol brasileiro, abrindo o caminho para a vitória por 2 a 0.
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Eclético e fã de muitos estilos musicais, Dani Alves poderia indagar-se usando um verso famoso: “O que é que eu vou fazer com essa tal liberdade?” Pois ele apoiou, construiu jogadas, roubou bolas, discutiu com argentinos, levou amarelo e quase foi expulso. Uma atuação histórica desse jogador de 36 anos que assumiu definitivamente a capitania da seleção brasileira por causa das travessuras de Neymar.
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Com essa inspiração toda, o Brasil manteve o sonho de conquistar um título em casa e desdenho do tal fantasma que rondou o Mineirão no 7 a 1 da Copa de 2014. Contribuindo mais uma vez para o aumento da seca de títulos da Argentina, o Brasil agora aguarda o vencedor da semifinal entre Chile e Peru para saber contra quem fará a final de domingo, no Maracanã. Ao continuar na freguesia, tal qual nas edições da Copa América de 1995, 1999, 2004, 2007, a Argentina chegará a 27 anos sem uma conquista da seleção principal.
A jogada protagonizada por Daniel Alves – um lençol em Acuña e um corte desmoralizante em Paredes – culminou com um momento importantíssimo para Gabriel Jesus. Aos 18 minutos do primeiro tempo, depois de receber passe de Firmino, o camisa 9 do Brasil, enfim, encerrou o jejum de gols pela seleção em torneios oficiais – Copa do Mundo e Copa América. Um alívio para esse atacante que colocou na cabeça que precisava chutar mais ao gol e vem arriscando mais nas partidas.
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Messi, por outro lado, continua sua via crucis com a seleção. Foi o melhor jogo do craque argentino nesta Copa América. Ele deu trabalho à marcação brasileira, acertou a trave no segundo tempo, deixou companheiros em ótimas condições de fazer gols, mas saiu em branco. E isso se deve, especialmente, a Alisson. Em uma cobrança de falta no segundo tempo, o goleiro brasileiro mostrou o motivo de ser tão respeitado mundialmente. A frieza, a segurança e a técnica foram colocadas em prática. Não foi necessário um salto espalhafatoso para defender, sem soltar, a cobrança do melhor do mundo.
Enquanto a seleção se mantinha firme na defesa, ainda que passando alguns sustos com a busca argentina pelo gol, Gabriel Jesus voltou a aparecer de forma relevante. A arrancada pela ponta esquerda só foi interrompida para que ele retribuísse a assistência a Firmino, fazendo o segundo gol do Brasil e sepultando o rival de vez.
A loucura se instalou no Mineirão. O Brasil e seus loucos do bem estão na final e muito perto do título.
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Fonte: O Globo