LE HAVRE, FRANÇA ? Amandine Henry deu seu primeiro chute na bola por volta dos 5 anos, em Lille. Só queria jogar futebol como via fazer seu pai e os jogadores no estádio da cidade. Naquela época, não tinha ideia da existência da franzina Formiga, quiçá que a volante estreava em sua primeira Copa do Mundo, na Suécia, em 1995. Nem em sonho de criança imaginaria que, hoje, as duas seriam referências dos rivais Lyon e PSG e de suas seleções, que se encontram às 16h, no estádio Oceane, em Le Havre, pelas oitavas de final da Copa do Mundo.
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Mais do que referências, elas são apontadas os corações de seus times. Dificilmente alguma bola não passa pelos pés das volantes. Aos 29 anos, Amandine já tem 86 partidas com a camisa 6 da França, sendo 12 delas como capitã. Não ganhou folga na última na rodada e correu mais de 27 km nas três vitórias.
Bem, Formiga dispensa apresentações no quesito resistência. Aos 41 anos, é a jogadora mais velha a atuar em Mundiais ? essa é a sétima Copa do Mundo da carreira ? e já envergou o uniforme brasileiro 188 vezes. Nesta Copa, jogou um jogo e meio e percorreu impressionantes 16km (mais de cinco quilômetros por tempo de partida).
A torção no tornozelo contra a Austrália e a suspensão a deixaram fora da rodada final da primeira fase, diante da Itália. Hoje, a seleção deve contar com seu retorno. E na melhor hora possível. Amandine dita o ritmo francês, mas conta com uma dupla de zaga experiente e entrosada. Formiga é a onipresença defensiva que o Brasil precisa para impedir o avanço das rivais.
Não é da boca para fora que todos na seleção, até mesmo suas reservas, admitem que ela é insubstituível.
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As francesas sabem que esse é o ponto forte brasileiro. Mas preferem enaltecer o encontro.
? É uma boa cultura de futebol em campo. França x Brasil sempre chama atenção. Tem que ver se aqui no campo isso vai acontecer também ? disse a capitã Amandine.
O Brasil reconhece suas fraquezas. Não faz de conta que há uma igualdade total de forças. Por tudo o que envolve a Copa do Mundo em casa e o retrospecto (a seleção nunca derrotou a França), elas são as favoritas. Não quer dizer que vão vencer, pondera o técnico da seleção Vadão:
? A França já chegou inteira na Copa, já tem padrão totalmente definido, mas temos condições de fazer frente. No campo é que se decide.
CONFIRA:
Amandine é peça fundamental neste entrosamento. Líder do Lyon, esteve presente em cinco títulos da Champions, inclusive no último, mês passado, e 11 campeonatos franceses desde 2008. Só não estava na conquista de 2017, ano em que Formiga chegou ao PSG. A francesa se aventurou por uma temporada na liga americana, no Portland Thorns. Foi campeã nacional lá também.
Pelo primeiro mundial
Isso a elevou a um status de celebridade mundial. Tudo bem agenciado por um staff que cuida da sua carreira. Os contratos publicitários e o salário (?30 mil por mês, quase R$ 150 mil) já somam quase ? 500 mil por ano. Mas na extensa galeria da jogadora falta o título pela seleção. Na última, no Canadá, caiu nas quartas para a Alemanha, mas ganhou a bola de prata. Agora, em casa, sonha repetir 1998, quando a França bateu o Brasil na final e conquistou a Copa masculina em seu território.
? Sou daquela geração. Tenho bons exemplos em mente, como Zidane ? disse ela antes da estreia no Mundial.
A discreta Formiga vem de um outro momento da mulher no futebol. Não tem essa badalação toda. Pode, porém, exibir suas inúmeras conquistas com a seleção. Sabe o que é vencer (ouro no Pan-Americano de 2007), embora também nunca tenha sido campeã do mundo, e o que é perder em casa (Rio-2016). Toda esta vivência está a serviço da seleção há quase 25 anos, quando Amandine mal chutava uma bola. Pode fazer a diferença.
Fonte: O Globo