BELO HORIZONTE – “A sensação, por enquanto, é a de que eu te servi dois chopes, você está tomando um, mas o outro está esquentando na mesa?, diz, com um sotaque mineiro inconfundível, Ricardo Gonzalez, presidente da Abrasel-MG (Associação Brasileira de Bares e Restaurantes de Minas Gerais). A metáfora é sobre a inegável decepção dos setores de turismo de Belo Horizonte em relação à Copa América, que completou ontem sua primeira rodada com média de público de 25.218 por jogo e menos de um quarto de assentos ocupados nos estádios.
O chope que está esquentando, segundo Ricardo, é do turista ?nacional ou estrangeiro ?que não se empolgou para viajar a fimde assistir aos jogos. Quem está tomando o outro é a população local, já acostumada a sair e frequentar partidas fora de casa, numa capital conhecida por sua abundância de bares.
?É um movimento que aumenta pelo bom horários dos jogos ? diz Ricardo, ponderando, no entanto, que a situação seria a mesma se o torneio fosse disputada em um outro país.
No setor hoteleiro, há um constrangimento no ar. Esperava-se que 80% dos leitos estivessem ocupados durante toda a competição. Depois de meses de muita consulta e pouca confirmação de hospedagens, a taxa está perto de 70%, ocupação normal para o período ? junho e julho são meses já com algum movimento, independentemente de grandes eventos.
A esperança está no time do Tite. Se o Brasil avançar em primeiro no grupo e passar pelas quartas de final, a semifinal será no Mineirão.
Nem mesmo a presença de Messi e da Argentina, que joga amanhã contra o Paraguai, foi suficiente para um movimento acima da média em uma cidade que, ao contrário de sedes como Rio ou Salvador, não tem uma vocação turística tão óbvia fora de eventos pontuais. Na Copa do Mundo, há cinco anos, BH viu um crescimento do setor hoteleiro, que entrou em crise nos anos seguintes com o fechamento de locais tradicionais.
Uruguai 4×0 Equador abriu a Copa América em BH no domingo à noite. Só 22% da capacidade total do estádio foram usados pelas 13.611 pessoas que assistiram ao jogo, um dos piores públicos da primeira rodada. E os números devem cair: os últimos dois jogos no estádio na 1ª fase ? Bolívia x Venezuela, no sábado, e Equador x Japão, na segunda) ? têm pouco apelo, e antes da abertura, não somavam mais de 7 mil entradas vendidas.
Menor taxa de ocupação
Não é só Belo Horizonte. A média de público pagante da primeira rodada até é um pouco maior do que da última vez em que o torneio foi disputado na América do Sul. Em 2015, no Chile, porém, os estádios usados eram muito menores.
A estreia do Brasil, contra a Bolívia, no Morumbi, teve público de 46.342, o que representa 69,4% da capacidade máxima oficial, de 66.795 presentes. A taxa de ocupação ?baseada na capacidade total dos estádios ? é a mais baixa em uma primeira rodada de Copa América na década. Desde 2011, é a primeira vez em que mais cadeiras ficam vazias do que cheias em um início do torneio.
?Acho que os ingressos estão caros. É bom para o dono de bar. Se o Mineirão fica vazio, os bares ficam cheios ? opina Ricardo, adicionando mais alguém à lista de quem pode lucrar com o fracasso de público.
No quesito, a Conmebol lidera, já que, dado o preço elevado de ingressos, os borderôs de cada partida são mais que satisfatórios. Mesmo o vazio Mineirão conseguiu uma renda maior que R$ 1 milhão.
O ingresso mais barato disponível em todos os estádios na primeira fase, R$ 120, corresponde ao dobro do preço praticado na Argentina em 2011. Só perde para a Copa América Centenário, realizada em 2016, com características peculiares aos EUA. O tamanho dos estádios brasileiros foi usado como justificativa para o número de cadeiras vazias ? nem toda capacidade do estádio é colocada à venda ?, mas o torneio de 2016 nos EUA teve estádios maiores, maior público e maior taxa de ocupação em seu início, mesmo com ingressos mais caros.
Questão preocupa
Apesar de o Comitê Organizador Local não ter respondido às perguntas enviadas sobre medidas a serem tomadas para melhorar os números no torneio, o presidente da Conmebol, Alejandro Domínguez, admitiu, no domingo, que a questão preocupa:
? Claro. Aqui em um país onde se vive o futebol, então, se gostaria que as pessoas participassem. Mas até agora (o balanço) é muito positivo.
Fonte: O Globo