Hospedada no mesmo hotel da seleção brasileira, em Lille, Manuela Giugliano teve a oportunidade de ver Marta de perto, talvez pelos corredores ou no café da manhã. Até então só havia visto a craque em vídeos do youtube e nos poucos jogos transmitidos pela TV. Podia ter pedido uma camisa da melhor do mundo pessoalmente. Mas não é o melhor momento. Manuela é o cérebro e a promessa da próxima geração da Itália, que joga com o Brasil em Valenciennes. Em jogo, o primeiro lugar do Grupo C e a classificação do Brasil. A meio-campo do Milan deixa a tietagem para depois ? na verdade, já pediu o mimo à companheira de clube, a volante Thaisa.
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Giugliano, de 21 anos, tinha apenas dois anos na última participação da seleção feminina em Copa do Mundo ? jogou também a edição de estreia em 1991. Talvez por isso seus ídolos no futebol do país sejam Del Piero e Pirlo, presentes no tetracampeonato mundial de 2006. E Marta ocupa o espaço que suas parceiras da seleção ainda não tiveram chances.
? É um sentimento único jogar contra uma jogadora como a Marta. Sempre vejo os jogos dela: é incrível ? conta Giugliano.
Criada nas ruelas de Castelfranco, na região de Vêneto, província de Treviso ao Norte da Itália, Giugliano tinha a bola como diversão. E os companheiros da brincadeira eram o irmão mais velho e o pai militar, que viu o potencial da menina e a encaminhou para um clube de um município próximo. Os espaços estreitos da cidade murada ajudaram a forjar sua precisão nos passes.
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Já foram três assistências perfeitas a gol nesta Copa do Mundo. Dois deles contra a Jamaica. Praticamente uma inversão de primeira na cabeça de Girelli, que marcou pela terceira vez na partida; e um passe em profundidade, no meio de toda a defesa jamaicana, no pé de Galli, para fechar o placar de 5 a 0. Em 33 partidas com a Azzurra, marcou três vezes.
Desistência na Espanha e reconhecimento na Itália
O corpo franzino sob 1,60 esconde um chute potente e onipresença em campo. Se os passes precisos chamam atenção, a cobertura à defesa e abertura pelas pontas não escapam aos olhos de quem pinça talentos. O Atlético de Madrid percebeu e a levou na janela de verão há três anos. A garota do interior não se adaptou à capital espanhola e desistiu antes mesmo do início da temporada. Não teve problema, o Brescia quis e, logo depois, o Milan, onde joga com outras cinco companheiras de seleção.
– Foi uma decisão precipitada. Fiquei com medo de encarar um desafio tão grande e decidi voltar para casa. Hoje, eu estaria pronta. No entanto, o movimento está crescendo aqui e eu posso fazer muito pelo futebol italiano, ajudando muitas crianças a jogar este fantástico esporte. Minha primeira escolha é a Itália, mesmo que ganhe menos – argumenta ela, que faz faculdade de educação infantil na área de saúde.
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Hoje, a jogadora de 21 anos, que ainda carrega o jeito de menina, com seus ruivos cabelos curtos e as sardas no nariz, vai encarar um estádio lotado, com mais de 22 mil pessoas ? seus conterrâneos, que não passam de 33 mil cidadãos, praticamente caberiam ali. No Italiano, passa longe da média. O recorde de público foi registrado somente este ano no jogo entre a Juventus, que foi a campeã, e Fiorentina, no Allianz Stadium, para 39 mil pessoas. Não tem medo. Ela e a seleção surpreenderam e já impõem respeito a qualquer adversário.
? É ótimo jogar na frente de muitas pessoas, não estamos acostumadas a isso, mas poderemos trazer todos esses espectadores para a Itália também. Nossas principais qualidades são a técnica, a tática e temos uma mente forte. Não temos medo de jogar com times mais fortes ? disse.
Fonte: O Globo