Goleiro das categorias de base do Operário de Campo Grande no início da década de 1980, o sul-mato-grossense de Aquidauana, Luiz Carlos Stefan de Andrade, que na época de jogador em Mato Grosso do Sul tinha o apelido de Kojak, é o novo herói de Vila Franca de Xira, uma cidade de 138 mil habitantes, a 36 km de Lisboa, famosa na Europa como palco das tradicionais Corridas de Touros.
Aos 49 anos, e não mais debaixo das traves, mas na posição de proprietário do União Desportiva Vilafranquense, o aquidauanense Luiz Andrade, como é conhecido em Portugal, onde vive desde 1987, comandou o inédito acesso do time de Vila Franca de Xira para a Série B do Campeonato Português da próxima temporada.
Não por acaso, ele foi saudado tal qual um herói por centenas de torcedores que foram às ruas do centro da cidade, neste domingo, 16, logo após sacramentada a conquista da vaga ao vencer o União Leiria nos pênaltis por 4 a 2 em um jogo que durou 120 minutos pelas semifinais da Série C (Terceira Divisão) do Campeonato Português 2018/2019, no Estádio do Cevadeiro, em Vila Franca de Xira. “Foi uma conquista de todos que acreditaram, trabalharam e torceram pelo nosso acesso”, disse Luiz Andrade ao dividir os louros da conquista com seus parceiros de jornada.
O sonhado acesso para a Série B veio em uma disputa dramática. É que no confronto de ida da semifinal, dia 9 deste mês em Leiria, distante 149 km de Lisboa, houve empate por 1 a 1, e o placar se repetiu no tempo normal do jogo da volta neste domingo. Como a igualdade prevaleceu na prorrogação de 30 minutos, a decisão foi para os pênaltis e o Vilafranquense levou a melhor.
“Por tudo que enfrentamos ao longo do campeonato e por tudo que aconteceu neste domingo, sinceramente acredito que estamos diante de um milagre. Não posso dizer que é resultado de trabalho porque os outros clubes também trabalham, e todos trabalham muito”, declarou Luiz Andrade. “Jogamos esta partida diante do Leiria com quatro jogadores machucados. O Tiago Mota e o João Freitas (zagueiros), o Tocantis (atacante) e o Luís Pinto (meio-campo e capitão do time). Nenhum deles tinha condição de jogo e foram para o sacrifício. Sou muito grato a eles”, revelou o dirigente.
Segundo ele, não apenas o jogo que valeu o acesso, mas a temporada do Vilafranquense foi marcada por dificuldades em busca do acesso para a Série B. O clube teve um orçamento de 400 mil euros (R$ 1,7 milhão) para encarar um campeonato com 72 clubes e apenas duas vagas de acesso, onde pelo menos dez desses clubes tiveram orçamento acima de 1 milhão de euros (R$ 4,3 milhões) e pelo menos três com orçamento de 1,5 milhão de euros (R$ 6,5 milhões). “É uma das competições mais difíceis do mundo com apenas duas vagas em disputa e uma margem muito pequena para atingir o objetivo”, comentou.
O Mister acesso – Esta não foi a primeira vez que o dirigente Luiz Andrade comandou a ascensão de uma equipe no futebol profissional em Portugal, e já é um nome conhecido dos portugueses por liderar projetos vitoriosos. Antes do Vilafranquense, ele dirigiu o Sporting Clube Farense, da cidade de Faro, a 278 km de Lisboa, e conquistou o acesso da Série C para a Série B justamente no ano em que o clube comemorava 100 anos de fundação, depois disso foi para o Desportivo das Aves, de Vila das Alves, a 347 km de Lisboa, e lá foram dois acessos: da Série C para a Série B e da Série B para a Série A, além do título de campeão da Taça de Portugal (o equivalente a nossa Copa do Brasil) ao bater o Sporting na final por 2 a 1 no dia 20 de maio de 2018.
Luiz Andrade lembrou que assumiu o comando do Vilafranquense em setembro de 2018 num momento pessoal difícil, por conta do falecimento da sua mãe no Brasil, e avaliou que deveria liderar a responsabilidade para se envolver no projeto e não pensar mais no que havia acontecido.
“Estava a beira de uma depressão e peguei o Vilafranquense com uma única condição: subir de divisão. Chamei os meus parceiros do Aves que se juntaram às pessoas de minha confiança que sempre me acompanham para encarar o desafio e conseguimos subir com muito trabalho, mérito, conhecimento e psicologia”, afirmou.
O dirigente considera que a gota d’água para o final feliz foi a chegada do treinador Filipe Moreira, um profissional com a experiência de vários acessos em outros clubes, que ele foi buscar em janeiro. “O Filipe Moreira acreditou e aceitou o nosso projeto. Eu disse, Mister, temos o desafio de subir, e ele me respondeu: Você é de subida, eu sou de subida, então vamos juntos subir o Vilafranquense”, contou ele.
Cidade em festa – Nesta segunda-feira, 17, Vila Franca de Xira amanheceu ainda em êxtase depois de uma noite de domingo de muita festa nas ruas com as comemorações dos torcedores pelo acesso, e Luiz Andrade usou sua conta nas redes sociais para agradecer o apoio da cidade.
“Mais uma subida, mais uma terra feliz, e muitas famílias realizadas, isso sim me da prazer, a luz de Deus me da força e sucesso para fazer tantas pessoas felizes. Meu muito obrigado Senhor meu Deus por tudo que tem feito na minha vida. Por me dar força e determinação, por colocar pessoas boas que acreditam e me ajudam, por me dar saúde para seguir em frente e por ter me dado uma família maravilhosa que está sempre ao meu lado me apoiando”, escreveu.
Já classificado para o que os portugueses chamam de Segunda Liga, o Vilafranquense vai decidir o título da Série C diante do Casa Pia, que ficou com a outra vaga ao eliminar o Praiense. O confronto valendo o título de campeão da Série C de 2018/2019 do Campeonato de Portugal será no próximo domingo no Estádio do Jamor, em Oeiras, a 18 km de Lisboa.
Fonte: CG News