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Autêntico, Daniel Alves se reinventa para ser insubstituível na seleção brasileira



É preciso ter personalidade para ser Daniel Alves. Para se posicionar sobre tudo e até para, provocado sobre o seu lugar na longa linhagem de laterais brasileiros de primeiro nível, dizer que julga ter “a raça de Cafu e a qualidade de Jorginho”. Mas é esta personalidade que permite exibir sem filtros um perfil em total compasso com o seu tempo, produto do jogo atual. Seja pela compreensão do alcance que tem o jogador de hoje, seja pelo entendimento da sua necessidade de se reinventar em campo para resistir ao tempo.

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Voltar à Bahia, onde nasceu e foi revelado, cerca Daniel Alves de câmeras, atenção e naturais “cobranças? por um possível retorno ao tricolor baiano. Em momentos assim, com o contrato com o Paris Saint-Germain por terminar, é que Daniel faz questão de reafirmar o quanto é dono de seu futuro. Como em nenhuma outra era do jogo, atletas de elite comandam seus destinos.

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? Quero mostrar para os jovens que ninguém deve decidir por eles quando o futebol começa ou acaba. Eu decidi quando minha carreira começaria, vou decidir quando acaba. Depois da Copa América, vou pensar no futuro ? afirmou.

O capitão da seleção nem sequer resvala na demagogia. Fala com carinho de sua terra, mas impõe distância quando sugerem uma volta ao Bahia que o revelou. Ele está no comando. Como se quisesse frisar que a saudade não significa dívida a quitar:

? Não vai ser para agora. Tenho objetivos, coisas que quero realizar. E disse ao pessoal do Bahia que não será uma temporada inteira, serão dois, três meses.

Atletas hoje têm um papel social, dada a penetração que têm. E Daniel fala sobre tudo, ou quase tudo. Já não perece temer repercussões negativas, gerar um peso extra que o acompanhe.

Nem a discussão sobre preços de ingressos lhe escapou, ainda mais depois que um Morumbi que pagou caro teve sua frieza criticada pelo lateral na estreia da seleção.

? Eu sou do povo. Meu lado será sempre a favor de o povo estar no estádio ? disse. ? Peço desculpas, mas expressei o que sentia.

Com a mesma liberdade com que diz ver doses de clubismo nas vaias da torcida a um ou outro jogador da seleção, observou que o brasileiro “não valoriza seus ídolos e supervaloriza os de fora?. A esta altura, ele defendia que o nível médio da Copa América é comparável ao das competições europeias. Concorde-se ou não com suas visões, o olhar atento de Daniel Alves para tudo que o cerca se estende ao jogo em si. Aos 36 anos, voltou de longa lesão e, no PSG, intensificou um processo que já se insinuava: cada vez mais ser um construtor de jogadas e menos um lateral que corre os 100m de campo junto à lateral.

? Minha função nem deveria ser mais chamada de lateral. Deveria ser “amigo de todos?. Se o volante precisa de ajuda, se o meia precisa de ajuda… Consegui captar a mensagem que o jogo me passou. Hoje os times têm pontas, não se joga mais com laterais atacando só por fora.

Tal percepção e a qualidade técnica criam duas situações: Daniel segue titular da seleção, ao mesmo tempo que é difícil enxergar um substituto com características similares. Ainda mais no modo de jogar de Tite.

No modelo, ele executa uma função sensível, afetada a cada peça que muda no time. Por exemplo, com Fernandinho, ou até com Arthur, ganha mais liberdade para ser um criador. Afinal, ambos jogam alguns poucos metros à frente de Casemiro, o primeiro volante, iniciando de trás a organização do time. Se entra Allan, que infiltra mais na área rival, Daniel precisa ficar mais preso.

Suas tarefas interagem também com o atacante pela direita. Richarlison faz com frequência a diagonal da ponta para a área. Cabe a Daniel perceber a ocupação de espaços e, ora atacar por dentro, ora ocupar um espaço que se abra pelo lado. E até entender a movimentação do centroavante. Hoje, com Firmino ou Jesus, o time tem um “9? mais móvel.

? Após a Copa, ouvi que deveriam trazer só jovens. Discordo. É preciso construir em cima de uma base.

E Daniel ainda é um pilar.

Fonte: O Globo


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