Havia quase uma hora que terminara a derrota da Argentina. Mais uma das tantas derrotas que tocaram a Messi viver com a seleção. E o astro se encarregou de dar as explicações, numa das mais longas passagens pela zona de entrevistas de que se tem notícia em sua carreira. Repetiu, exaustivamente, a mensagem de que o time do segundo tempo encontrara um caminho.
– A iniciativa do primeiro tempo foi deles, quando tínhamos a bola estávamos muito longe do gol. No segundo tempo manejamos mais a bola, tivemos posses mais longas, jogamos no campo ofensivo, recuperamos a bola mais na frente e criamos chances. Quando melhor estávamos, levamos o gol. Mas este é o caminho, jogar desta forma, progredir nesta ideia – sustentava Messi, numa atitude que reforça a tese de que o craque chega ao Brasil disposto a assumir o posto de líder de um grupo renovado.
Na teoria, parece simples: repetir quarta-feira, durante 90 minutos contra o Paraguai, o que se fez durante quase 30 diante da Colômbia. Mas se a esta altura muitas seleções apenas iniciam a construção de equipes, esta Argentina é um caso ainda mais grave: treinada por um interino e eternamente instável, é uma grande confusão de ideias de jogo, todas elas embrionárias e ainda mal executadas. O jogo com a Colômbia foi um painel da falta de um norte. E, contra o Paraguai, nova derrota pode ser fatal na Copa América.
O outro Lionel do grupo, o Scaloni, o técnico, assumiu o cargo propondo adotar um jogo mais direto, com marcação mais atrás e saídas rápidas para o ataque. E tentou levar adiante a ideia no primeiro tempo contra os colombianos. A questão é que o modelo não casava com os intérpretes. Aguero e Messi estão longe de serem atacantes de velocidade que podem ser lançados em profundidade. Ainda mais a esta altura da temporada e das carreiras deles. Pelos lados, Lo Celso e Di Maria também não davam tal opção e passaram 45 minutos quase pregados à linha lateral. A Argentina não tinha associações, aproximações, asfixiada em meio a uma Colômbia compacta. Messi tentava seu espaço entre as duas linhas de defesa do rival, mas se via só.
– Eles tinham um homem a mais no meio-campo. Quando recuperávamos a bola, perdíamos rapidamente – disse Scaloni, que de fato se viu de frente com uma ótima Colômbia, que ganhou o duelo no meio com ótimas exibições de Wilmar Barrios e de um Cuadrado que defendia como meia e por vezes atacava pelo lado do campo.
Em tese, a solução era ter a bola e jogar no campo de ataque. Fazer um jogo de aproximação e toques curtos, com mais posse de bola. Claramente melhorou. O lance em que Messi combinou com Aguero e quase ficou diante do gol exemplificava de que forma os dois funcionariam. Era uma forma de potencializar o talento. A entrada de De Paul pela esquerda, na vaga de um pálido Di Maria, também oferecia mais opções de passe, mais jogo.
– No segundo tempo saímos para buscar o resultado, fizemos 45 minutos dignos de Argentina, com alguns ajustes – reconheceu Scaloni.
Mas mesmo assim o time parece longe de estar resolvido. Afinal, o que fora feito nada mais era do que, nos 15 minutos de intervalo, mudar radicalmente de plano, desfazer tudo o que Scaloni planejara desde os amistosos. A Argentina tinha a bola, mas infiltrava pouco na área. E tal modelo exige pressão em campo ofensivo para recuperar a bola rapidamente e não expor a defesa. Não é característica dos atacantes e, aliás, Aguero parece fisicamente muito abaixo. Além disso, num time formado às pressas, é natural que ao jogar em campo ofensivo surjam espaços atrás. A Colômbia chegou aos dois gols.
– Temos que levantar a cabeça, o torneio apenas começou. Vamos assimilar a derrota e tirar as coisas positivas, porque houve coisas boas – afirmou Messi.
A Argentina pode crescer, mas vive uma encruzilhada. Ir pelo caminho que Messi defende, e ao qual o treinador pareceu se inclinar após o jogo, exige ser mais agressivo com a bola e assumir riscos atrás. Riscos grandes, dada a facilidade com que o lateral Saravia foi batido por Roger Martínez no primeiro gol colombiano. Ir pelo caminho que Scaloni trilhava desde os amistosos parece atentar contra as características dos nomes de mais peso do ataque. No futebol, o primeiro passo é ter convicção na ideia. A escolha não é fácil e os argentinos não parecem tão convictos.
Fonte: O Globo