MONTPELLIER, França – Sue Car, como a franco-potiguar Sueli se apresenta, era a única torcedora na porta do hotel da seleção. Estava ali, com celular a postos, e queria registrar o máximo de selfies com as jogadoras, que passariam por ali rumo ao ônibus para o primeiro treino em Montpellier. Marta foi a primeira passar e mandou um tchauzinho. A torcedora, com uma camiseta estilizada do Brasil, fez uma foto de longe, deu um oi e só.
Bastou a goleira Aline interagir com ela para a recepcionista e produtora de eventos se sentir à vontade. Aproximou-se das jogadoras e, de repente, várias delas se uniram à selfie coletiva.
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Ainda não era suficiente. Faltava uma foto. “Cadê a Marta?”, perguntou ela, num misto de francês com sotaque de Natal, onde nasceu. Informada de que até já havia falado com a melhor do mundo, a brasileira perdeu um pouco da empolgação, e pareceu não entender o que aconteceu.
A chegada de Cristiane, autora dos três gols da vitória sobre a Jamaica, no entanto, empolgou Sue Car de novo. E lá foi ela com o inseparável celular garantir a última lembrança.
– Era com ela que eu queria tirar foto – explicou a brasileira, residente na Europa há 37 anos, que não poderá assistir ao jogo por causa de um casamento em Paris. – Viajo amanhã (quarta), mas produzi uma festa num pub que vai passar o jogo e terá uma batucada depois.
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Sueli não teve qualquer impedimento de se aproximar das jogadoras brasileiras. Não havia seguranças por perto. Bem diferente das turnês da seleção masculina em países estrangeiros, quando há cordões de isolamento e histeria coletiva. Ainda que Marta seja a seis vezes melhor do mundo, o interesse pela equipe feminina está a anos-luz dos homens, que foram alçados a super celebridades.
Toda a badalação e aparato de segurança passam longe das mulheres. O ambiente é mais tranquilo. Nos treinos, poucos curiosos ou crianças costumam ficar ao lado de fora. Se as jogadoras saírem para uma volta em Montpellier, por exemplo, apenas algumas devem ser reconhecidas, como Andressa que jogou na cidade.
Cenas vistas na Copa do Mundo da Rússia, com grande grupo de parentes, amigos e empresários fazendo churrasco em Sochi num hotel onde ficaram hospedados, estão fora de cogitação na França. Há pouquíssimos familiares acompanhando a seleção. Segundo a CBF, como de praxe, todos por conta própria. A entidade pode, no máximo, ajudar na logística, como fez no Mundial do ano passado.
Aqueles que puderam vir são, principalmente, parentes de integrantes da comissão técnica. Como a mulher do técnico Vadão, que assistiu ao treino ao lado de outros parentes da delegação. A mãe da goleira Aline também veio ver a filha na Copa.
O lado financeiro pesa. Os salários médios das jogadoras, que em geral vieram de famílias de classe média a classe média baixa, estão longe das cifras milionárias dos craques brasileiros. Bancar uma longa viagem à Europa não cabe no bolso com tranquilidade.
O coordenador de seleções femininas, Marco Aurélio Cunha, vê um lado bom nisso.
– Elas (famílias) vêm sim, mas são mais discretas, não aparecem tanto. O problema do masculino é a visibilidade. Vamos sair para o treino, e deve ter uma TV aí fora ou lá no estádio. No masculino, teríamos 50. Para mim, é ótimo porque nos dá tranquilidade e não traz tanta especulação. A especulação estraga o ambiente. Saber quem entrou ou quem saiu, o empresário que entra, se tem favorecimento de atletas – diz.
Fonte: O Globo