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As "soccer mom" jamaicanas: dos torneios infantis ao Mundial feminino



PARIS – O sorriso quase petrificado de Michelle Adamolekun era um misto de nervosismo e felicidade poucas horas antes da estreia da Jamaica na Copa do Mundo da França. Na caminhada até o interior do estádio, registrou cada movimento ao vivo pelo celular. Não queria perder nada. Precisava guardar todo segundo da conquista da filha Alufolasade, a Sade Adamolekun, de apenas 18 anos, que fazia história junto com as suas companheiras no primeiro Mundial feminino do país.

Pouco importava o resultado e se a filha entraria em campo – de fato, a atacante não entrou. Estava ali para acompanhar mais um passo da adolescente, que terminou o ensino médio, e comecará na Universidade de South Califórnia no próximo semestre (ainda não decidiu que carreira vai seguir).

Michelle esteve com a filha na noite anterior e na manhã antes do jogo. Conta que Sade ainda não compreendeu exatamente a grandiosidade do momento.

– Ela só tem 18 anos. Para ela, é tudo tão “fofo” e “legal”. Mas com o tempo vai entender a grande experiência que viveu – diz Michelle explodindo de orgulho. –

Adamolekun exibe o nome na camisa Foto: Tatiana Furtado
Adamolekun exibe o nome na camisa Foto: Tatiana Furtado

– Toda mãe espera ver sua filha realizando seus sonhos. Ela é muito nova e já está alcançando um dos seus objetivos. Mas quando você chega aqui e vê, pensa: “Meu Deus, realmente está acontecendo!”É assustador! – diz a jamaicana, que vive na Flórida.

Ela não está sozinha no suporte integral à filha. Outras mães seguirão as crias até onde a Jamaica for – muito provavelmente só na primeira fase. É a versão “Soccer Mom” a nível mundial.

O termo, tipicamente americano, traduz a vida das mães dedicadas à prática dos esportes das suas crianças. Levam aos jogos, montam toda a logística entre as familias, arrecadam fundos para os torneios, produzem piqueniques e até criam mini torcidas organizadas.

O trabalho deu tão certo que agora “replicam”  na França seguindo a Jamaica. Assimilaram o conceito em solo americano. Afinal, a estreante na competição conta com 12 jovens atletas nascidas nos Estados Unidos mas com ascendência jamaicana (de pais ou avós). Foram pinçadas por olheiros, há quatro anos em colégios e academias de futebol, justamente para fazer parte do projeto histórico de classificação à primeira Copa do Mundo feminina.

Claro que não fazem mais piqueniques nem levam escondidas guloseimas na bolsa. A seleção, inclusive, tem um chef na equipe.  Mas como suporte emocional estão lá constantemente. E até financeiro, já que a delegação precisou fazer vaquinha online para viajar.

Da torcida não abrem mao. Entre típico gritos de torcida americana e ginga jamaicana, lá estavam elas atrás do banco da equipe apoiando as crias. O grupo, que contava com outros torcedores sem ser familiares, tinha até mascote: uma representante das ReggaeGirlz, como são conhecidas. Não veio a vitória, mas nem por isso a festa terminou.

– Minha filha, aos 18 anos, já conquistou três grandes objetivos: entrou numa grande universidade, já jogou pela seleção adulta e esta num Mundial. Agora, o próximo passo é ser tornar profissional. E vai continuar seguindo seus sonhos – orgulha-se Michelle, que participa da Fundação Reggae Girlz para que outras mães jamaicanas possam sorrir como ela.

Fonte: O Globo


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