Faltou gol. Não é normal que quatro partidas do Brasileirão tenham terminado zeradas no placar. Inveja das seleções brasileiras que, juntas, fizeram 10 gols em suas duas partidas de domingo, ou um simples prenúncio de que já a parada da Copa América é mais do que esperada pelos nossos 20 clubes da elite? Jamais saberemos. Só resta lamentar.
Aberta na última sexta-feira, a rodada já prometia ser incomum: contra o Internacional, sob o comando de Vanderlei Luxemburgo, o Vasco finalmente obteve sua primeira vitória no campeonato, depois de perambular por sete rodadas de desesperança. Com placar de 2 a 1, o jogo em São Januário até contribuiu de forma digna para a média de gols.
Aí veio o Sábado da Seca. Um 8 de junho que os fãs de futebol odiarão se lembrar, sobretudo aqueles que assistiram à desumanidade que Avaí e São Paulo praticaram na noite de Florianópolis. Inúmeros foram os relatos de pessoas que abandonaram a partida e imediatamente encontraram uma nova série para acompanhar. Qualquer coisa serviria depois daquele martírio. Cuca foi até gentil ao comentar que a torcida tinha razão em seus protestos. O bom devedor não briga com seus credores.
Situação semelhante ocorreu com os abnegados que se lançaram a ver o Ceará x Bahia que ninou o Castelão com futebol sonolentíssimo. Não critico os jogadores. Se morasse no Nordeste, eu também me guardaria para a temporada das festas juninas.
Nem todo zero a zero é terrível. O Cruzeiro talvez merecesse mais sorte contra o Corinthians no Mineirão, onde o goleiro Walter defendeu o gol habitualmente pertinente a Cássio com heroísmo. Mas foi outro zero a zero, sórdido e avarento zero a zero.
Reforço estratégico
A lista de quatro empates que sonegaram mixaria se completou ontem, num Maracanã em que Flamengo e Fluminense pareceram dispostos a mostrar ao futuro técnico, Jorge Jesus, e ao futuro presidente, Mário Bittencourt, que eles terão muita contribuição a dar ?o português, pelo visto, mais do que o advogado.
Para não terminar o jogo totalmente por baixo, o Flamengo anunciou o lateral Rafinha, que passou as temporadas mais recentes no Bayern, como se fosse um gol. Não deixa de ser uma boa tática: deixar aquela contratação certa e mais do que anunciada ali na manga, para aquelas horas em que a bola não entra, e a turba no Twitter começa a se agitar. O efeito é de alívio imediato, o assunto muda, o ar fica mais leve, a impressão é até de que já se fala apenas na Copa América e que a meta do ano, como todos sabem, é a Libertadores.
A pior rodada dos pontos corridos em média de gols não faz muito tempo. Foi na 32ª rodada da edição de 2015, quando apenas 12 gols foram marcados nos dez jogos. A oitava rodada do Brasileirão de 2019 já tem os mesmos 12 gols. Amanhã, Goiás e Chapecoense terão uma última oportunidade de livrá-la dessa pecha de pior rodada da história, ainda que empatada. Os catarinenses marcam 1 gol por jogo em média neste campeonato. Como os goianos só marcaram seis em oito jogos, é recomendável que os matemáticos não fiquem muito animados com as probabilidades de uma goleada no Serra Dourada.São desprezíveis, diria meu velho professor Nilmar.
Um pedido
Falta apenas uma rodada para o Brasileirão antes de Copa América dividir nossas atenções ao lado da Copa do Mundo feminina. Gostaria de pedir aos clubes que realizem despedidas animadas aos corações dos torcedores ? ainda mais quando a classificação está a poucos dias de ficar cristalizada por um mês, sem qualquer alteração, a não ser, é claro, quando o STJD decidir o que fazer com aquele infeliz Botafogo 0x1 Palmeiras que ainda não foi computado.
No ano passado, lembrarão o torcedor e torcedora, a tabela do Brasileiro ficou intocada por um mês durante a Copa da Rússia. Tornava-se um pôster, uma carta de intenções e um receptáculo de esperanças. Os que sonhavam com dias melhores miravam a zona de rebaixamento como um desafio. Muitos desses clubes que miravam a tabela e tentavam encontrar uma solução trocaram de técnico. Ali, o Palmeiras de Luiz Felipe Scolari via o Flamengo no topo da tabela como um usurpador de seu lugar.
Tudo bem que já nos acostumamos a ver os alviverdes no topo ? e perceba que, mesmo quando os gols faltam, a máquina pontuadora do Palestra Itália não falha em marcar. É por isso que é se torna cada vez mais seguro dizer que o torneio nacional deveria se chamar Taça de Prata. O grande lugar que ainda pode ser almejado é o vice-campeonato, a julgar pela (in)capacidade do Palmeiras em dar mole: já são 15 gols a favor e apenas dois contra. Nada parece tirá-los do caminho de uma campanha absurdamente trucidante. Eu adoraria estar errado, no mínimo para ver um campeonato com um pouco mais de emoção em seu final. Mas você viu esse fim de semana?
Fonte: O Globo