Desde o apito final da vitória de 4 a 1 sobre o Brighton, que encerrou a mais sensacional disputa do Campeonato Inglês dos últimos anos, emergiu uma interminável lista de dados impressionantes sobre o Manchester City de Pep Guardiola, o primeiro time a defender com sucesso o título nos últimos dez anos da Premier League. É possível destacar os 198 pontos somados nas duas últimas temporadas em 228 possíveis, o que significa manter 87% de aproveitamento por dois anos no mais duro campeonato do mundo. Neste período, o time ganhou 64 dos 76 jogos que disputou.
A arrancada para o título teve 14 vitórias nas últimas 14 rodadas, a segunda maior sequência da história, batida apenas pelas 18 vitórias seguidas do mesmo City de Guardiola no ano passado. Tudo isso sob a pressão de um Liverpool que somou 97 pontos, a terceira maior pontuação na história do campeonato inglês. Atrás de quem? Do City que fez 100 pontos no ano passado e do que ganhou o bicampeonato ontem com 98. Nunca um time terminara a Premier League com saldo de 72 gols, tampouco ganhara todas as taças disponíveis no país, algo que pode ser alcançado domingo, contra o Watford, na final da Copa da Inglaterra. A Supercopa, a Copa da Liga e o Campeonato Inglês já são história.
Números brutais, mas que apenas refletem algo maior. A essência deste City é a forma, o como persegue taças. Guardiola, com oito títulos nacionais em dez temporadas na elite, redefiniu a percepção do público sobre o “jogar bem?, mudou um jogo que mergulhara na especulação. Seus times ganham com a marca do estilo, da estética, da busca inegociável do gol. E assim ele conquistou um terreno para muitos indomável: o futebol inglês e sua liga equilibrada, dura, física. Seu City é recordista de posse de bola, criação de chances, finalização, gols, passes trocados… O futebol inglês foi domado.
Neste domingo, após sair atrás do Brighton, no lugar do pânico, continuou passando a bola e alugando o campo rival. Um pouco mais tenso do que o habitual, é verdade. Mas sendo Manchester City, movendo-se no campo ofensivo atrás da virada.
Tensão por 21 minutos
O Liverpool saíra na frente em Anfield, contra o Wolverhampton, foi “campeão? por 21 minutos, até Laporte, de cabeça, fazer o 2 a 1 para o City. Antes, Agüero marcara um gol crucial, o do empate, um minuto após o susto pelo gol do Brighton.
? Eu não vim aqui para ganhar a Liga dos Campeões. Vim para fazer o time jogar desta forma ? disse Guardiola há poucos dias, ciente da cobrança pelo título europeu que ele já levantou duas vezes e que nenhum técnico na história venceu mais de três.
? Foi meu título mais difícil pela qualidade do Liverpool. Após o que fizemos no último ano (100 pontos), elevamos o padrão da competição e só o Liverpool conseguiu lidar com isso. Eles nos ajudaram a chegar no nível que estamos ? disse Guardiola.
De fato, a Premier League produziu um campeão sem taça. É também histórica a temporada do Liverpool, outro time de jogo ofensivo, mas com estilo distinto, mais direto, rápido, com uma energia posta em cada jogo, que é a imagem do técnico Jürgen Klopp. Mas não bastou. Ontem, ao fazer 2 a 0 no Wolverhampton, tornou-se o melhor vice-campeão da história das grandes ligas europeias. Seus 97 pontos superam os 96 do Real Madrid no Espanhol 2010. Na ocasião, o campeão foi o Barcelona de Guardiola. O catalão redefiniu também o que é preciso para ser campeão na Espanha, Alemanha e Inglaterra.
O Liverpool fez o City melhorar, superar lesões. Kevin de Bruyne, talvez o único jogador do elenco que seja um top 5 do mundo em sua posição, ficou fora por mais da metade do ano. Guardiola fez surgir as melhores versões das carreiras de jogadores como Bernardo Silva e Sterling. Este é um traço marcante deste time. Há bilhões dos Emirados Árabes como combustível, mas o processo é mais rico em ideias. O City não contratou estrelas mundiais prontas, mas jovens que Guardiola desenvolveu até que a percepção sobre eles mudasse. Há uma construção de time admirável. Como é a do Liverpool. Terminou ontem um campeonato inesquecível.
Fonte: O Globo