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Ataque cardíaco e AVC podem ser sinais precoces de câncer



Eventos cardiovasculares, como acidente vascular cerebral (AVC) e ataque cardíaco podem ser um indicativo precoce de câncer em indivíduos acima dos 67 anos, revela estudo recente publicado no periódico Blood. Segundo os pesquisadores,  o risco é de 69% durante o ano que antecede o diagnóstico, com pico de incidência cinco vezes mais alto ao longo dos 30 dias anteriores a identificação da neoplasia. Os resultados ainda mostraram que os cânceres com maior frequência de eventos são pulmão (29%), colorretal (24%), próstata (11%), mama (10%), bexiga (8%), linfoma não Hodgkin (6%), pâncreas (5%), estômago (4%) e útero (3%).

“Alguns tumores apresentam tendência maior a promover alterações no sangue que favorecem o surgimento de coágulos sanguíneos que podem resultar em eventos cardiovasculares”, explica Ismael Dale, oncologista e assessor médico do Fleury Medicina e Saúde. Isso acontece porque essas doenças atuam nas mesmas bases fisiopatológicas, ou seja, promovem as mesmas alterações no metabolismo. Por causa disso, para certos tipos de câncer, como o de pulmão, por exemplo, os médicos já esperam que o paciente desenvolva quadros de trombose arterial, embolia pulmonar ou AVC isquêmico.

Com as novas informações, especialistas acreditam que profissionais de saúde devem ficar atentos para casos de pacientes acima dos 60 anos internados em decorrência de ataque cardíaco e AVC, buscando analisar a eventual necessidade de exames para investigar a presença de câncer – o que pode permitir um diagnóstico precoce, facilitar o tratamento e aumentar as chances de cura. Além disso, indivíduos acima dos 35 anos que apresentem estado de resistência insulínica – um sinal em comum a uma variedade de cânceres – também precisam se atentar para a possibilidade, principalmente àqueles com histórico familiar da doença.

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Sinais precoces

Para chegar a estes resultados, os pesquisadores americanos analisaram o prontuário de 748.662 pessoas com idade superior a 67 anos entre 2005 e 2013. Entre os pacientes investigados, 374.331 receberam diagnóstico de câncer no período. Os demais participantes foram colocados em um grupo de controle para fins de comparação. A partir daí, a equipe rastreou eventos tromboembólicos no ano que antecedeu o diagnóstico da neoplasia. Nos primeiros sete meses, não houve qualquer diferença entre os dois grupos. Entretanto, nos meses que se seguiram, o risco de um evento cardiovascular aumentou em pacientes que mais tarde seriam diagnosticados com a doença. 

De acordo com os cientistas, um mês antes da identificação do câncer, a probabilidade dos pacientes apresentarem um quadro de AVC isquêmico ou infarto agudo do miocárdio aumentou cinco vezes em comparação com os participantes que não receberam diagnóstico de câncer posteriormente. Entre os cânceres com maior incidência estavam o de pulmão e o colorretal. “Esses resultados mostram que podem existir alterações metabólicas comuns a diferentes tipos de câncer que devem ser encaradas como provável ‘sinal de alerta oncológico’”, comentou Dale.

Embora sejam significativas, os pesquisadores destacaram que previamente, essas evidências apenas se aplicariam a indivíduos acima dos 67 anos – população investigada no estudo. No entanto, segundo Dale, existe um sinal comum a uma variedade de cânceres, incluindo os detalhados no estudo, que podem servir de alerta para pessoas acima dos 35 anos: os estados de resistência insulínica. 

O especialista explica que muitas pessoas, especialmente obesas ou com excesso de peso, desenvolvem problemas metabólicos, sendo um deles relacionado à produção de insulina – hormônio responsável por promover a entrada de glicose nas células, o que fornece energia ao organismo, além de reduzir a taxa de glicemia no sangue. No entanto, nestes indivíduos, esse processo não ocorre de forma adequada, gerando estado de resistência insulínica. Por causa disso, o organismo busca outras fontes de energia para manter o corpo funcionando. “Esses mecanismos de compensação por vezes favorecem o surgimento de tumores malignos”, esclarece Dale.

Esse mau funcionamento também pode resultar em diabetes tipo 2. Por isso, a recomendação é realizar exames anualmente para aferir as taxas de glicose no sangue.

Como surgem?

Câncer

De acordo com Dale, o processo de surgimento do câncer, conhecido como carcinogênese, acontece a partir de uma agressão ao DNA, que pode ser externa (radiação solar, álcool, fumo, etc) ou interna (distúrbios hormonais, por exemplo). Isso gera uma modificação no gene responsável pelo crescimento das células do organismo. Uma vez afetado por essa mutação, o gene leva as células a se dividirem de maneira desordenada e excessiva.

“Para cada tipo de câncer há um tratamento distinto, mas os novos resultados apontam não só para a possibilidade de uma terapia única para tratar uma diversidade de cânceres como pode indicar que, no futuro, poderia ser possível atuar em nível preventivo”, comentou Dale.

Eventos cardiovasculares

Os eventos cardiovasculares ocorrem diante do estreitamento do vaso sanguíneo, fazendo com que menos oxigênio chegue até os tecidos cerebrais ou cardíacos, por exemplo. Esse estreitamento é causado por uma placa que se forma na parede do vaso. “Uma das principais teorias que explicam esse fenômeno indica que uma lesão inflamatória crônica na parede do vaso favorece a infiltração de células de defesa, desencadeando um processo cicatricial. Isso cria uma placa que pode se romper facilmente, provocando esses eventos isquêmicos”, disse Guilherme Renke, cardiologista membro da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC). 

Ainda de acordo com ele, essa inflamação crônica pode ser causada por fatores genéticos ou doenças sistêmicas como dislipidemia (níveis elevados de gordura no sangue), hipertensão arterial, hemocromatose (excesso de ferro no organismo), obesidade e diabetes – doenças que, sabidamente, podem provocar estado de resistência insulínica, aumentando o risco de câncer. 

Para casos em que o evento cardiovascular não for um sinal precoce de câncer, a sugestão para evitar uma segunda manifestação é mudar hábitos de vida, que incluem diminuição do stress, melhora alimentar – com redução do consumo de alimentos processados – e aumento do consumo de vegetais. Além disso, vale a pena incluir nessas mudanças a prática de exercícios de reabilitação com acompanhamento médico e seguir as medicações prescritas pelo especialista.

Fonte: Veja


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