Sendo totalmente honesto, eu não dediquei muito tempo (ou mesmo muito interesse) a Sea of Thieves – tanto em seu período de lançamento quanto nos meses seguintes.
Porém, como um fã da Rare da época do Nintendo 64 e até mesmo de muitos de seus jogos na era Xbox, era bom ver que, após um lançamento relativamente tépido, Sea of Thieves conseguiu encontrar um público e se estabelecer no mundo dos jogos como serviço – mesmo comigo não sendo exatamente o público-alvo deste tipo de game.
Não só isso, o estúdio parece estar determinado a trazer mais e mais elementos complexos e experiências ao jogo, e nada parece demonstrar isto melhor do que a atualização de aniversário de Sea of Thieves.
… Que, um tanto paradoxalmente, será lançado em abril, sendo que o jogo saiu em fevereiro de 2018, mas atrasos acontecem.
À convite da Microsoft, The Enemy teve chance de visitar os estúdios da Rare, no Reino Unido, para testar mais desta atualização, que promete trazer como diferencial uma campanha mais robusta no formato das Tall Tales, assim como um multiplayer competitivo mais elaborado na Arena.
Contos de pirata
Tall Tales é, em essência, uma plataforma de campanhas dentro da estrutura de mundo de Sea of Thieves, em que jogadores podem se aventurar por missões interconectadas e bem mais elaboradas do que uma simples quest, repletas de mistérios e quebra-cabeças a serem resolvidos.
A primeira grande amostra deste novo modelo é Shores of Gold, uma série de missões em que o jogador e seus companheiros devem desvendar pistas para revelar uma ilha perdida, onde reza a lenda há muitos tesouros escondidos.
O grande diferencial deste modelo, de acordo com a Rare, é que graças ao mundo compartilhado de Sea of Thieves, mesmo que o jogador complete as missões múltiplas vezes, a jornada sempre trará algo de diferente pelo caminho.
“Sea of Thieves é muito mais sobre a jornada do que o destino final”, declarou o diretor de design, Mike Chapman. “Acho que tínhamos como objetivo um novo tipo de jogo multiplayer, e o que quero dizer com isso é no sentido de mudar a percepção do que um jogo multiplayer pode ser.”
“A oportunidade para nós era a trazer uma narrativa autoral, mas fazendo isso em um mundo compartilhado”, continuou. “Então não apenas a quest em si pode ter um desfecho diferente, você estará fazendo isso em um mundo em que da próxima vez que a fizer será preciso lidar com uma tempestade ou enfrentar um kraken.”
Curiosamente, consegui presenciar esta natureza imprevisível que a Rare implementou com Tall Tales logo de cara, quando eu e minha tripulação literalmente tivemos que enfrentar um kraken antes de ser jogados em uma tempestade… antes de reiniciarmos a aventura para a inclusão de um novo jogador.
A segunda partida para o destino inicial, em contraponto, foi significativamente mais tranquila.
Sendo assim, pelo menos neste ambiente mais controlado, a Rare parece cumprir esta promessa, já que enquanto a tripulação está navegando em busca de seus objetivos, todos os elementos de Sea of Thieves ainda estão na ativa, podendo ajudar ou atrapalhar sua vida durante a aventura.
A Rare, porém, não se limitou a isso, já que as missões e quests de Shores of Gold são por si só mais bem feitas e elaboradas, e requerem que os jogadores utilizem ao menos um pouco de suas habilidades dedutivas para completar os objetivos.
Durante nossa jornada, foi necessário juntar e analisar pistas para chegar a novos lugares, decifrando coordenadas de diários, investigando as formações de ilhas no mapa, e solucionando quebra-cabeças diferentes.
A junção destes elementos com a imprevisibilidade do mundo online de Sea of Thieves também foi responsável por um momento memorável durante minha sessão, quando fui acidentalmente trancado para o lado de fora da sala do puzzle principal, me impedindo de ajudar meus companheiros diretamente na solução do quebra-cabeças, aumentando a tensão para todos os envolvidos.
E toda esta sessão – cerca de duas horas – foi apenas para pegar um item relevante para a narrativa total de Shores of Gold, com outros vistos apenas em um trailer, indicando que a quest inteira deve tomar um tempo significativo – e pode ser repetida diversas vezes.
Para Chapman, Shores of Gold é apenas o começo para mostrar o potencial de Tall Tales como uma plataforma narrativa.
“Acho podemos utilizá-la de diversas formas, seja contando histórias que se amarram do mesmo jeito de Shores of Gold ou narrativas mais contidas que têm um arco menor de apenas um conto.”
Por conta própria, porém, Shores of Gold parece um bom conteúdo para as pessoas que gostam de explorar e descobrir mais sobre o universo e a história de Sea of Thieves, e serve como uma boa ponte para o público que gosta de experiências multiplayer com ênfase na história.
Arena do mar
Em contraponto a Tall Tales, que tem um foco em jornadas mais longas e elaboradas, a Rare também criou um modo competitivo especialmente para quem prefere ou simplesmente só pode jogar sessões mais rápidas: Arena.
Neste modo, equipes devem competir em uma grande caça ao tesouro, guiando seus navios para os diferentes pontos no mapa em que baús estejam enterrados e, sempre que possível, tentando impedir, prejudicar e/ou saquear seus oponentes.
A principal forma de ganhar pontos (representados por moedas de prata) é encontrar e levar os tesouros para postos de trocas, mas você também é recompensado por matar piratas ou afundar navios – com o último tendo como benefício adicional de diminuir a pontuação de inimigos,
Para Craig Duncan, chefe do estúdio, Arena é de muitas formas uma forma de interagir com a maior parte dos sistemas e ferramentas de Sea of Thieves, mas de um jeito mais rápido e desafiador.
“Ao examinar estas ferramentas incríveis, como é possível mostrá-las de uma forma condensada e exaltando seus aspectos em uma experiência?”, diz. “E Arena tem 24 minutos – o que é um ciclo de dia e noite no jogo – e traz algo que você não pode fazer em Sea of Thieves por enquanto, que é ter uma sessão bem mais estruturada com um tempo limitado.”
Para comparação, Duncan indica que o tempo médio de sessões de usuários do jogo está na casa dos 90 minutos, o que explica a necessidade de uma experiência mais enxuta para um público mais atarefado.
E estes 24 minutos costumam trazer momentos bem tensos e agitados: na minha terceira partida, por exemplo, conseguimos guiar o barco até um posto para depositar os baús – apenas para ser saudados com uma saraivada de canhões de um grupo rival à espreita. No desespero, corri para entregar o tesouro, e na volta vi o navio torto pela quantidade de água que havia entrado nele.
De alguma forma, a coordenação de equipe foi capaz de impedir o naufrágio, impedindo a perda de pontos e tomando (brevemente) a liderança da partida.
Arena, a julgar pelos meus testes, parece ser uma alternativa simples e divertida para jogadores que querem ao menos ter a experiência de Sea of Thieves, mas simplesmente não tem tempo para uma grande aventura nos moldes de Tall Tales.
Mapa para o futuro
Como um todo, a sensação que tive ao visitar a Rare é de que, mesmo com lançamento pouco impressionante de Sea of Thieves, o estúdio parece particularmente satisfeito com os avanços, evolução e ganho de popularidade do game nos últimos meses, e a expectativa é que este crescimento ao menos se mantenha com o lançamento do update de aniversário.
“Nós sempre dissemos ‘vamos lançar, vamos evoluir, e vamos ouvir o retorno'”, disse Duncan. “E acredito que tenhamos feito isso. Acho que fizemos isso de uma forma autêntica, de forma transparente, de forma humana e humilde com nossa comunidade.”
Sendo assim, a próxima grande atualização de Sea of Thieves parece que enriquecerá ainda mais o jogo e a experiência de seus usuários. Ainda é difícil dizer, pessoalmente, se vou me aventurar na versão pública do update, já que a natureza do meu próprio trabalho acaba me levando a dedicar pouco tempo entre jogos, mas ainda é uma prova de que a Rare está dedicada a expandir a experiência o máximo possível.
A atualização de aniversário de Sea of Thieves chega em 30 de abril para Xbox One e PC.
O jornalista viajou à convite da Microsoft.
Fonte: The Enemy