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Análise: Erro fatal frustra planos de Abel e complica o Flamengo na Libertadores



Foi como se a Libertadores se apresentasse ao Flamengo em 2019. Do outro lado estava a melhor organização defensiva com que o rubro-negro já deparou na temporada.  Estava também um time disposto a competir até as últimas consequências, inclusive com  antijogo. E levando-se em conta que o Peñarol tinha proposta bem diferente da que movia o Flamengo, acabou por executar seu plano melhor. A derrota por 1 a 0, que pode obrigar o Flamengo a buscar mais pontos fora de casa nas rodadas finais, nem chega a ser uma imensa injustiça.

É natural sofrer na Libertadores contra times assim, tão fechados e com jogadores experientes. Mas o Flamengo acrescentou dificuldades à partida por conta própria. Primeiro, por sua dificuldade de achar espaços quando precisa se estabelecer no  campo rival para criar. Depois, com a inconsequência de Gabigol, expulso por lance violento a 16 minutos do fim. Até ali,  o Flamengo não era brilhante, mas também não era um desastre.

Mas neste instante surgiu um erro fatal: o de gestão da ansiedade e das ambições num Maracanã lotado. Com um jogador a menos, certamente chegara o momento da redução de danos. Conduzir o jogo para o empate teria mantido o time em situação confortável. Não era necessário se expor tanto e, ao mesmo tempo, nada indicava que o Peñarol fosse demonstrar inconformismo com a igualdade. A tendência era um jogo morno até o final. Se empatasse,  o Flamengo teria a vida praticamente resolvida com uma  simples vitória sobre os bolivianos do San José, na próxima rodada.

Aliás, a expulsão de Gabigol impediu até que se soubesse a resposta de algo intrigante. Abel acabara de tirar Willian Arão e formara um meio-campo com Cuéllar, Éverton Ribeiro e Diego, por trás de Vitinho, Bruno Henrique de centroavante e Gabigol na direita. Em tese, era mais ofensividade ao preço de perder físico e a jogada com Éverton Ribeiro e Arão pela direita, o melhor  caminho do time  até então. Não parecia a melhor opção, mas a formação ficou sete minutos em campo até Gabigol dar um carrinho inexplicável e levar cartão vermelho. Outra pergunta de resposta difícil foi a não utilização de Arrascaeta num jogo em que o Flamengo terminou com uma substituição por fazer, teve um jogador a menos em parte da segunda etapa e exibia jogadores desgastados no fim.

O Peñarol começara com um plano e terminaria com outro. Primeiro, tentou se manter o menos acuado possível, jogar mais no campo rubro-negro. Mas após duas escapadas do Flamengo em velocidade, uma delas concluída com perigo por Gabigol, acabou a cerimônia uruguaia de marcar perto de sua área. Estava claro como o Flamengo era mais forte: com espaço para acelerar, jogar em transição rápida, em contragolpe. E, defendendo mais atrás, os uruguaios ficaram mais  confortáveis. Tiraram os espaços para o rubro-negro correr, sofreram pouco e  obrigaram Diego Alves a grande defesa num contragolpe.

O Flamengo tinha dificuldade de criar. Bruno Henrique, outra vez, sofria contra uma marcação dura. Precisa de espaço para correr, não rende bem em espaços curtos. Em dados momentos, virou um segundo atacante e, na etapa final, foi para a função de centroavante explorar sua estatura. Mas não chegou a ser acionado em boas condições. Teve uma noite ruim.

Obrigado a pressionar, o Flamengo só gerou jogadas pela direita com Éverton, Arão e Pará. Quando Éverton saiu dali após a primeira mexida de Abel, o time pareceu perder poder de fogo. Pelo centro, a circulação de bola era lenta, dependia de  encontrar Gabigol na posição de pivô, de costas para o gol, raramente com sucesso.

O Flamengo teve coisas boas, também. O tempo todo tentou ser móvel, alternar posições, mas os mecanismos para furar defesas posicionadas atrás ainda não parecem confiáveis. Pela qualidade técnica, o time cresce e cria muito quando o rival se adianta e cede o espaço do contra-ataque. No Maracanã, as chances foram raras, até a equipe ficar com dez no segundo tempo. Aos poucos, se espaçou, não conseguir defender o ponto que seria um prêmio de consolação, tampouco ameaçou apesar dos riscos que corria. Até Viatri, a três minutos do fim, decretar a derrota.

Fonte: O Globo


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