O técnico Abel Braga está de volta ao trabalho. A reapresentação do Flamengo nesta segunda-feira, no Ninho do Urubu, conta com o retorno do treinador, que teve alta no sábado após uma cirurgia na sexta-feira, para consertar uma arritimia no coração.
O comandante rubro-negro chegou ao Centro de Treinamento e comanda o treino com os seus auxiliares, por ainda não pode fazer movimentos bruscos ao caminhar.
No contato com os jogadores, Abel demonstrou alegria e recebeu muitos abraços. Em seguida, reuniu o elenco para uma conversa. Por último, palmas de todos para o técnico, que exibiu a camisa 1 presenteada pelos jogadores após o título da Taça Rio.
“Mulher, bota o dedinho no aparelho. Quanto tá? 75? Tá bom. Bota vinho branco”, brincou Abel, em vídeo divulgado pela assessoria do clube.
A expectativa de Abel e do Flamengo é de retorno à beira do campo na quarta-feira, no jogo contra o Peñarol, pela Libertadores. Vale lembrar que o treinador desfalcou a equipe na final da Taça Rio, domingo.
– Não precisava ser tanta (emoção). O jogo começou a ser preparado na quarta-feira. Já tinha dito na palestra que outra equipe iria jogar. Foi tudo pensado. Colocado prós e contras. Quer coisa mais importante que a vitória ontem? Ver todos os titulares presentes na partida. Sem ninguém ter pedido nada. O torcedor tem que se orgulhar desse grupo. Não é imbatível, invencível, mas os vlaores morais estão altos – exaltou Abel, em entrevista coletiva, após o treino.
O procedimento de ablação, realizado na sexta-feira, foi pouco invasivo, e consiste na aplicação de energia em uma frequência específica através de um cateter inserido no coração, por meio da perna.
A questão é que o ponto de acesso em que é feita a pulsão necessita que o paciente fique sem realizar atividades por alguns dias para que não haja complicações. Mas Abel se recupera bem e quer trabalhar.
Entenda o caso
O susto que Abel Braga levou não é novidade na vida do treinador nem dos profissionais do ramo no futebol brasileiro e no Flamengo. Em 2015, o técnico já havia sofrido uma arritmia, mais especificamente uma taquicardia atrial. Que ocorre naturalmente nos átrios, a parte superior do coração. O mesmo problema levou o técnico Muricy Ramalho a se afastar das atividades em 2016, quando também dirigia o Flamengo. Mas por que Abel não precisa se preocupar com isso agora?
Para especialistas, seria um exagero afirmar que ser técnico de futebol é mais perigoso para o órgão do que outras atividades.
Porém, as pressões que estes profissionais enfrentam favorecem situações como a vivida por Abel Braga. Principalmente para pessoas com maus hábitos alimentares e que não se exercitam com frequência.
? É uma atividade profissional extremamente estressante. Envolve tomada de decisões, têm de gerenciar vários atletas e problemas. Sabem que a carreira depende de resultados, a taxa de demissão é alta. Mas não é uma profissão insalubre, não precisa deixar de exercê-la ? explica o cardiologista Claudio Gil, especializado em medicina do esporte.
Segundo cardiologistas, Muricy Ramalho não tinha uma doença estrutural que lhe obrigasse a parar de trabalhar, mas optou por isso devido ao estresse da função. No caso de Abel, também não há recomendação para interromper as atividades, visto que a arritmia é facilmente controlada. Inclusive, há atletas de alto rendimento competindo após lidar com episódios idênticos.
A pequena diferença é que o ex-treinador do Flamengo teve uma fibrilação atrial, enquanto Abel teve o mesmo problema acrescido de um flutter atrial. Durante a fibrilação atrial, os impulsos elétricos são desencadeados a partir de muitas áreas no interior e em torno do átrio, e não somente a partir de uma área única. Já no flutter atrial, a atividade elétrica atrial é coordenada. Assim, os átrios se contraem, mas em uma frequência muito rápida, fazendo com que o impulso não chegue completo aos ventrículos, a parte inferior do coração.
? Não foi exatamente a mesma patologia, mas foi bem parecida sim. Acho que (decisão de aposentar do Muricy) não foi só questão de gravidade ou não, envolve coisas pessoais e da família na decisão, é difícil comparar. Acredito que ele tratando, está estável, teria condição, está trabalhando, não como treinador, mas tocando a vida dele profissional sem problema nenhum – comparou o médico do Flamengo, Márcio Tannure.
Fonte: O Globo