esporte »

Análise: O custo sempre alto de refazer um time



A seleção brasileira ainda tem uma série de problemas a resolver para formar um coletivo forte. Isso ficou claro no amistoso com a República Tcheca, ontem, apesar da vitória por 3 a 1.

? É o estágio em que estamos ? disse Tite após o 1 a 1 com o Panamá, no último sábado.

O técnico referia-se a um período de renovação e remontagem de time. Ao longo da história, tal processo costumou cobrar um preço alto, mas o país sempre se inquietou com resultados. É cíclico. E hoje, levando-se em conta as principais seleções do mundo que disputaram a última Copa, o Brasil é uma das únicas três que têm atuado com menos da metade do elenco que foi a Rússia. Tite faz uma das mais incisivas renovações do mundo.

A seleção teve 11 remanescentes do Mundial da Rússia no grupo que jogou ontem. É fato que poderia ter 12, não fosse a lesão de Neymar. Mas comparando com outras oito seleções ? Alemanha, França, Argentina, Inglaterra, Espanha, Portugal, Croácia e Bélgica ?, apenas duas tiveram elencos mais mexidos: Argentina e Espanha com, respectivamente, cinco e sete jogadores da Copa.

Os argentinos vivem um caso particular, já que a caótica gestão da AFA conduziu o time a ter um técnico interino, Lionel Scaloni, com garantia de permanência apenas até a Copa América. E o país vem de um Mundial terrível.

A França, campeã mundial com um time jovem e que, portanto, não pedia uma renovação drástica, é a que mais manteve jogadores: 16 dos 23 convocados para a Copa estavam no grupo que bateu Moldávia e Islândia pelas rodadas iniciais das eliminatórias da Euro. Caso semelhante ao da Bélgica, terceira no último Mundial, que também manteve 16 jogadores. Até a Alemanha, que tenta se renovar, enfrentou a Holanda com um elenco que tinha 13 jogadores que foram à Rússia.

? Diria que o desempenho foi normal, dentro das modificações que fizemos. Quando um atleta trabalha com dois ou três com quem está habituado ao redor, tudo flui com naturalidade. Com mudanças, o processo de criação fica prejudicado ? avaliou Tite, sobre as críticas às atuações recentes.

Tropeços na história

O time que entrou em campo ontem tinha só quatro jogadores que eram titulares na Rússia: Alisson, Thiago Silva, Casemiro e Philippe Coutinho. Dos 15 jogadores usados no amistoso em Praga, sete só passaram a ser chamados com regularidade após o Mundial. David Neres, que entrou bem no segundo tempo, teve sua primeira convocação da carreira.

A história mostra que grandes renovações sempre cobraram um preço. E a trajetória da seleção, mesmo em ciclos que terminaram em título mundial, teve também derrotas que causaram certo trauma. Em geral, porque o time tinha mudanças, fazia testes e sentia falta de entrosamento. Mesmo assim, jogadores e treinadores foram questionados.

Em 1956, dois anos antes do primeiro título mundial, o Brasil perdeu por4 a 1 para o Chile, mais tarde foi derrotado pela Tchecoslováquia, levou 3 a 0 da Itália e 4 a 2 da Inglaterra. No ano anterior, empatara com Chile e Paraguai.

No ciclo pré-Mundial do México, a seleção empatou três vezes seguidas com o Uruguai e, em 1968, numa viagem à Europa, perdeu para Alemanha e Tchecoslováquia. Já o período anterior ao tetra foi aberto com uma contundente derrota por 3 a 0 na Espanha, em 1990. Depois vieram reclamações após oscilações na Copa América de 1991 ou em derrota para Uruguai em amistoso, no ano seguinte.

Não custa lembrar, ainda, o quanto foi acidentada a preparação para o penta de 2002. O Brasil perdeu seis vezes nas eliminatórias, uma delas por 3 a 0 para o Chile. Um ano antes do Mundial, Felipão ainda iniciava seu trabalho e o time era eliminado por Honduras da Copa América. O time tinha desfalques, mas a crise se instalou. Ela é cíclica por aqui.

Fonte: O Globo


Comente