Bruno Oscar Schmidt é o cara. Baixinho para os padrões do esporte que joga, o vôlei de praia, o atleta, sobrinho do ex-jogador de basquete Oscar Schmidt, tem 1,85m e é dono de uma excelente defesa. Não à toa, foi eleito o melhor do mundo na função em 2013, 2014, 2015 e 2016 – isso sem contar as seis temporadas, de 2012 a 2017, do Circuito Brasileiro, em que também ganhou o mesmo prêmio. Já foi dono da melhor recepção, levantamento, ataque e escolhido o melhor jogador, pelo conjunto da obra, em dois anos seguidos (2015 e 2016). Depois de ser campeão mundial e do Circuito Mundial em 2015, ganhou o ouro ao lado de Alison na Olimpíada do Rio, o único título que faltava no currículo inversamente proporcional à sua estatura.
– Todo mundo quer jogar com ele — resume Evandro, o sortudo da vez, que desde fevereiro forma dupla com Bruno. – Ele acabou influenciando a formação de várias outras duplas desde a Olimpíada e ainda bem que agora estamos juntos.
O jogador, de 32 anos, natural de Brasília, está envolvido em dois dos últimos troca-troca do esporte. Em maio de 2018, surpreendentemente, a dupla com Alison foi desfeita. E os dois se aliaram a outros jogadores que desmancharam suas parcerias.
Consequentemente, os parceiros destes atletas se juntaram a outros jogadores que também tinham outras duplas e o efeito dominó se perdeu de vista. E não acabou por aí: em fevereiro, novamente Bruno tornou-se responsável por mais uma mudança importante na elite do esporte. Ele deixou Pedro Solberg para ficar com Evandro. E o ex de Evandro, Vitor Felipe, se juntou ao ex de Bruno, Pedro.
Nesta segunda-feira, outro anúncio inesperado agitou a modalidade tradicional em pódio olímpico (são 13 medalhas, recorde no mundo). Alison perdeu sua dupla. Ele estava com André Stein desde maio de 2018. Dois dias depois anunciou que tentará vaga para Tóquio-2020 ao lado de Álvaro Filho, ex-Ricardo.
Segundo Alison, Ricardo abriu mão da dupla com Álvaro para a formação do novo time.
SEM MÁGOAS
A decisão de “abrir a dupla” partiu de André, motivada pela frustração com os resultados ruins para a pretensão de ambos. Eles tiveram como melhores desempenhos os vice-campeonatos da etapa de Moscou (Circuito Mundial 2018) e Palmas-TO (Circuito Brasileiro 2018-2019). André disse que, pensando na corrida olímpica, “a hora era agora”.
– Foi uma decisão do André e tenho que respeitar. Infelizmente a dupla acabou, mas ficou uma relação muito forte, de irmãos mesmo – lamentou Alison, que além do ouro na Rio-2016 tem uma prata em Londres-2012 ao lado de Emanuel.
Foi Alison que quis se separar de Bruno após os Jogos de 2016.
– Quando se tem o mesmo objetivo, não precisa ter receio de alguém roubar sua dupla. Tenho ótimo relacionamento com todos os meus ex-parceiros, apenas seis, desde 2004, e vida que segue – disse Alison, que minimiza as mudanças. – O efeito cascata é normal, estamos acostumados. Não pensamos no parceiro do parceiro. Pensamos no que é melhor para a gente, no nosso objetivo.
Num primeiro momento, Bruno não quis a separação. Assim como Evandro, que jogava com André Stein (que era parceiro de Alison e agora jogará com George, ex-Thiago).
Evandro e André Stein tinham acabado de ganhar o Circuito Brasileiro e o Mundial. Estavam no auge. Bruno se juntou a Pedro Solberg e Evandro foi jogar com Vitor Felipe. Hoje, Bruno e Evandro, os rejeitados no ano passado, estão juntos no maior estilo “o mundo dá voltas”.
– Foi chato quando me separei do André. Éramos a dupla do momento. Eu não queria a mudança, mas paciência, porque ele não queria mais – afirma Evandro, que confessa ter se sentido como marido traído. – Mas dormíamos em camas separadas – brinca.
Hoje, ele diz que aquela mudança foi a que lhe deu o “maior gás”. Até para se separar de Vitor, também por falta de resultados, e se juntar a Bruno.
– O vôlei de praia dá voltas.
Ele conta que há cerca de um mês foi procurado por Bruno e não acreditou. Evandro, que por quatro vezes foi eleito o dono do melhor saque no Circuito Mundial, se derrete pelo parceiro. E explica que jogar com ele é fácil porque o atleta é “mágico”.
ÉPOCA DA CONQUISTA
A dupla, que está no início de relacionamento, teve de fazer algumas mudanças táticas e Evandro, o mais alto, com 2,10m, voltou ao padrão tradicional: após o saque corre para o bloqueio enquanto Bruno fica na retaguarda. Ele trocou ainda o ataque na saída pela entrada de rede.
De cara, deu match: ganharam a primeira etapa disputada, a de Fortaleza, do Circuito Brasileiro.
– Foi assim com a minha esposa, a Aline. Quando queremos conquistar alguém, fazemos o nosso melhor. E eu quero ser o melhor parceiro que o Bruno já teve.
Bruno diz que a decisão de Alison, no ano passado, foi acertada. Após quatro anos juntos, havia um desgaste grande e era preciso buscar novos desafios.
Ele comenta que é comum se apegar ao lado afetivo, que pode ser sofrida a separação, mas a busca por novos objetivos faz parte do esporte. Ele fala que, à época, ficou chateado porque não tinha se preparado para a mudança.
– É preciso estar 100% com o seu parceiro, ter a sensação de que vai subir qualquer montanha a seu lado, porque se não, não dá certo – avalia Bruno, que é cético. – Garantias futuras ninguém tem. O futebol vive derrubando técnico porque é mais fácil do que trocar o time todo. No vôlei de praia, não. Os técnicos, que criam vínculos com os atletas, ficam e a dupla troca. E como são apenas dois atletas, a gente tem a falsa impressão de se tratar de um rompimento com briga. Nem sempre é assim. O que faz uma dupla dar certo é ter resultado.
Bruno, que desde 2006 já teve seis parceiros, acredita que o melhor remédio para evitar a cobiça alheia é manter uma relação de sucesso e respeito.
– Assim você não fica cobiçando a grama do vizinho.
CORRIDA OLÍMPICA
No final de semana passado, Evandro/Bruno Schmidt, Pedro Solberg/Vitor Felipe e Alison/André Stein (hoje separados) disputaram a etapa de Doha (Qatar), quatro estrelas, do Circuito Mundial de vôlei de praia, a primeira válida para a corrida olímpica para as duplas brasileiras. Todas fracassaram.
A corrida olímpica recomeça em Xiamen, na China, de 24 a 28 de abril e vai até fevereiro de 2020 – Alison e Álvaro vão estrear neste evento chinês. Apenas os eventos quatro e cinco estrelas, além do Campeonato Mundial, são contabilizados na classificação para Tóquio, que terá descarte (valerão os 10 melhores resultados).
Em paralelo, as duplas correm atrás da classificação do país para Tóquio-2020. Isso porque ainda é necessário garantir as duas vagas por naipe – via Campeonato Mundial, Classificatório Olímpico, na China, Continental Cup, ou pelo ranking, já que as 15 melhores duplas estarão dentro.
FEMININO
Como o Qatar não realiza a disputa feminina por motivos religiosos, a primeira etapa da corrida olímpica brasileira no feminino será em Xiamen. O Brasil é o atual campeão do Circuito Mundial no naipe feminino, com Ágatha e Duda (PR/SE).
Ágatha, ao lado de Bárbara, ganhou a medalha de prata na Rio-2016. Hoje, Bárbara joga com Fernanda Berti, ex-Taiana que agora está com Talita. Elise, preterida por Duda, está grávida e parou provisoriamente.
Fonte: O Globo