É natural que clubes com investimento do tamanho do Flamengo se vejam cercados por uma ansiosa cobrança por resultados e atuações de alto nível. Mas levando em conta que a temporada está no seu segundo mês e o nível de futebol exibido ontem, no Maracanã, há muito pouco a reprovar no time que passeou diante da LDU e de mais de 60 mil pessoas.
A vitória por 3 a 1 marcou a melhor atuação de um time brasileiro até aqui na Libertadores, sob a regência de Éverton Ribeiro. A agressiva investida do Flamengo no mercado levou ao clube muito talento no setor ofensivo. Mas o jogador que marca diferenças já estava no clube.
Um mesmo Maracanã pode ser palco do que há de mais bonito e de mais repugnante no ambiente do futebol. O estádio cheio, com uma torcida vibrante, viu um ótimo futebol no campo, mas também assistiu a um pequeno show de desrespeito. Pode-se aprovar ou não a biografia controversa de Eurico Miranda,mas não parece tão apropriado gritar ofensas horas após seu sepultamento. Pequena parte do estádio até vaiou o minuto de silêncio, antes de perceber que se tratava de homenagem aos jovens mortos em Suzano.
Mas o futebol fez sua parte. A melhor versão do Flamengo em 2019 confirmou a impressão de que é mais fácil Abel Braga impor gradativamente suas ideias em cima do que já existia no Flamengo. Um desenho similar ao de 2018, com o movimento de Éverton Ribeiro da ponta para o centro gerando desequilíbrio e um time que, como quer o atual técnico, alternou controle e paciência com velocidade. Éverton usou a liberdade que a forma de jogar lhe confere para ser eficiente finalizando, passando, aparecendo pelo lado do campo ou como um meio-campista a mais.
E a LDU, neste aspecto, contribuiu para o passeio rubro-negro. Passiva, era um time que marcava mal e que, por vezes, adiantava a linha defensiva, dava espaço às costas da zaga, algo mortal contra um Flamengo de muito poderio técnico e rapidez no ataque. Foi em rápida transição que surgiu o belo lance de Diego com Bruno Henrique, que resultou no gol de Éverton Ribeiro. O caminho estava aberto.
Mas o Flamengo, que por vezes se espaça muito, também criou quando se aproximou para trocar passes, desperdiçou chances em série, a maior delas com Gabigol. Ocorre que tão cruel é o futebol que Diego, bem no jogo na tarefa de organizador, apesar de por vezes retardar o passe, quase criou um drama ao fazer um pênalti tolo. Diego Alves salvou.
O segundo tempo seguiu como um exercício de movimentos ofensivos e variações do Flamengo, que busca ser mais móvel. Por exemplo, com Bruno Henrique juntando-se a Gabigol quase como um segundo atacante, empurrando a zaga rival para trás e dando profundidade ao time. Ou abrindo o corredor esquerdo, por onde Renê foi muito bem. Foi este movimento de Bruno Henrique que fez surgir o segundo gol, em passe de Éverton para Bruno trabalhar como pivô e preparar para Gabigol finalizar.
A noite, aliás, ainda teve excelente atuação de Cuéllar, brindado com um longo aplauso ao ser substituído por Abel. Uribe ainda fez o terceiro logo após entrar, mas pouco antes de Trauco fazer outro pênalti tolo e oferecer o desconto aos visitantes. No fim, o saldo é de um Flamengo que exibiu boa parte do poderio que dele se espera.
Fonte: O Globo