Quando o general ex-presidente do Brasil, Ernesto Geisel, afirmou que o retorno do país à democracia aconteceria de maneira “lenta, gradual e segura”, cunhou uma expressão que serve para toda transição sem grandes rupturas, seja de ideias, seja de nomes. Foi o que aconteceu na política brasileira, ao longo das décadas de 1970 e 1980, é o que ocorre atualmente na seleção alemã. Hans-Dieter Flick leva o país à Copa do Mundo do Qatar sem jogar praticamente nada fora do que vinha sendo feito pelo antecessor, Joachim Low.
A goleada sobre a Macedônia do Norte por 4 a 0 confirmou a classificação com duas rodadas de antecedência no Grupo J das Eliminatórias Europeias. Poderia muito bem ter sido conquistada com Low e seu hábito de comer meleca durante os jogos no banco de reservas.
O ex-treinador do Bayern de Munique mantém seis jogadores remanescentes da campanha decepcionante na Copa do Mundo da Rússia entre os titulares. Neuer, Sule, Kimmich, Goretzka, Muller e Werner se espalham pelo campo, são uma autêntica espinha dorsal alemã. Foram inocentados de culpa na eliminação ainda na primeira fase do Mundial.
Low anunciou a saída da seleção perto do começo da Eurocopa, competição em que ratificou uma renovação que tentava fazer, sem grandes resultados em campo. Dos 22 convocados por Flick para os jogos das Eliminatórias, oito tiveram na Euro a primeira competição de peso pela Alemanha. Foram eliminados nas oitavas de final, para a Inglaterra.
No fim das contas, entre os titulares que golearam a Macedônia do Norte, apenas o zagueiro Kehrer, de 25 anos, e o lateral-esquerdo Raum, de 23, não estiveram no grupo alemão nem na Copa da Rússia e nem na Eurocopa passada. Raum é novidade de Flick. Kehrer é convocado esporadicamente desde 2018.
A renovação é lenta, gradual e segura, mas acontece. Hans-Dieter Flick leva a Alemanha para a Copa do Qatar com cinco vitórias em cinco jogos em um grupo dos mais fáceis, composto também por Romênia, Macedônia do Norte, Armênia, Islândia e Liechtenstein. No elenco, quatro estreantes. Além de Raum, Wirtz (18 anos), Schlotterbeck (21) e Adeyemi (19). São nomes para o futuro. Talvez não estejam nem no grupo que irá para o Qatar.
O maior desafio de Flick é reproduzir na seleção o sucesso que teve no Bayern de Munique a nível de clubes e otimizar a base da equipe da Bavaria com alemães que brilham em outros clubes do Velho Continente. Material humano existe para uma evolução maior. Talvez falte tempo.
Fonte: O Globo